A alegria de herdar a liberdade

Francisco Duarte Mangas homenageia o 25 de Abril de 1974 e mostra aos mais novos a importância da liberdade. Ana Biscaia escolhe a linguagem da banda desenhada para o iluminar.

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Sílvio quer saber a razão por que anda a mãe “com uma flor tão linda” Ana Biscaia
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“Em muitos corações escondiam-se estrelas” Ana Biscaia
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A ilustradora utilizou a linguagem da banda desenhada para "tornar visível (ou audível) a conversa.” Ana Biscaia
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“Os carros da guerra, sem qualquer disparo, devolveram a felicidade ao povo da longa melancolia” Ana Biscaia
Silvio, domador de caracóis
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Capa do livro “Sílvio, Herdeiro do Cravo”, editado pela Caminho das Palavras Ana Biscaia
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O autor de Sílvio, Domador de Caracóis e Sílvio, Guardador de Ventos, cria um terceiro título com este “menino peguntador”, que quer agora saber a razão por que anda a mãe “com uma flor tão linda”. A resposta veio pronta: “É o dia da liberdade, Sílvio.”

Nova pergunta: “A liberdade é um cravo vermelho?” Nova resposta: “A liberdade abriga todas as cores do mundo.” E o diálogo/poema entre mãe e filho prossegue: “Como o arco-íris sobre a manhã?”, “Um arco-íris mais colorido ainda”.

Ao PÚBLICO, Francisco Duarte Mangas descreve: “Sílvio, Herdeiro do Cravo é o meu tributo ao 25 de Abril, 50 anos depois do dia tão importante para todos nós. O arco-íris, até aí de uma só cor, irrompeu colorido, mais colorido ainda.”

Quis dar a conhecer aos mais novos o passado, em que existia o “país da gente triste”, das pessoas com “o coração cheio de noite”. Pelo que, “sempre com a cumplicidade da mãe, Sílvio fica a saber como as pessoas ‘assoaram’ a noite dos seus corações e resgataram a liberdade”, recorda-nos por email.

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“As pessoas tinham o coração cheio de noite” Ana Biscaia

Lembra ainda que “a liberdade, precioso bem, terá de ser defendida todos os dias, em toda a parte”. Pois, “de contrário, o arco-íris poderá descolorir”. Esta foi uma das ideias escolhidas para a história, “a fragilidade da liberdade”.

Certo de que “é preciso preservar os valores de Abril”, Francisco Duarte Mangas assinala: “Como o Sílvio, todos nós somos herdeiros do cravo – não podemos, de modo algum, ceder em tão alta responsabilidade.”

Um livro escrito “em poucas noites”, diz o autor. “Numa semana ficou (quase) pronto. Depois, foi preciso limpar as palavras, enxugar a escrita. E esse trabalho, não raro, demora mais tempo, mas é agradável o exercício de iluminar.”

Um diálogo desenhado

Para Ana Biscaia, a ilustradora escolhida, este livro “é um diálogo encenado”, são “desenhos para serem lidos e ouvidos”, diz ao PÚBLICO. E acrescenta: “Estamos no domínio da poesia — território fértil do poeta, autor do texto. Todas as palavras estão carregadas de uma luminescência humana. O diálogo entre Sílvio e sua mãe desencadearam logo no início o desenho desse mesmo diálogo. Desenhar as palavras foi um gesto intencional: pouco havia a acrescentar ao que ouvia quando li o livro. Desenhei balões de fala.”

Mais: “A linguagem da banda desenhada permitiu-me tornar visível (ou audível) a conversa.”

O poeta está satisfeito com o resultado: “Ana Biscaia foi, sem dúvida, a ilustradora certa para esta história do Sílvio. Como é evidente, fez o seu trabalho sem qualquer interferência. Vi apenas, antes de o livro me chegar às mãos, duas sugestões de capa.”

A ilustradora e também editora, da independente Xerefé, tem mais a dizer: “O livro avança e recua, existem saltos nas perguntas. Vai à frente, mas regressa. O livro conta como foi importante aquele dia chamado 25 de Abril de mil novecentos e setenta e quatro (por extenso, para não deixar dúvidas).”

Realça as metáforas, de que o livro “está cheio”, e afirma: “Há elementos que são equivalentes, em termos gráficos, que se podem metamorfosear uns nos outros: as estrelas e os cravos, o arco-íris e a manhã. Mas é sobretudo o texto que importa e, quando penso em texto, penso em palavras, letras, desenhos, sinais gráficos sonoros cheios de significado.”

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“O livro conta como foi importante aquele dia chamado 25 de Abril de mil novecentos e setenta e quatro (por extenso, para não deixar dúvidas” Ana Biscaia, a partir do texto de Francisco Duarte Mangas

Quis pontuar o livro com ilustrações que “marcam pausas, homenageiam outros artistas que foram importantes testemunhas da revolução e que também fizeram a revolução”.

Perto do final, pode ler-se: “Os carros de guerra, sem qualquer disparo, devolveram a felicidade ao povo da longa melancolia.”

Cita Ana Biscaia: “Agora, o cravo é teu — diz a mãe.” E complementa: “Quem é herdeiro do cravo sabe os direitos que tem e os deveres que adquire.” Para concluir: “Este é um livro preferido, porque me identifico muito com o toque que ele me provoca. É esse o poder da literatura, neste caso poética, universal.”

O diálogo entre mãe e filho sugere que ele guarde a manhã, porque “a liberdade é um bem raro”.

Neste sábado, dia 1 de Junho, assinala-se o Dia Mundial da Criança. Infelizmente, nem todas livres.

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