A nossa mente precisa de exercício

Não existe saúde mental sem saúde física. Os conceitos existem divididos da mesma forma que a gramática e o vocabulário: importantes na sua individualidade, mas absolutamente complementares.

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João Francisco Lima em acção DR
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Um estudo do Eurobarómetro da Comissão Europeia diz-nos que, em Portugal, 73% dos inquiridos afirmam não praticar exercício físico ou desporto. Trazendo estes valores para a realidade, em cada mesa de quatro pessoas, apenas uma delas pratica atividade física. Como se este número não fosse por si só preocupante, apreende-se também que este valor aumentou em aproximadamente 5% desde a última recolha de dados, em 2017.

Num paradigma social em que o termo “saúde mental” é utilizado de forma gratuita e descaracterizada, seria de esperar ao menos que quem a refere tivesse o cuidado de a compreender na sua real definição. No entanto, tal como na maioria dos assuntos debatidos atualmente, parece já não ser necessário perceber do que se fala para se perceber do que se fala. Se o volume é alto e o tom convicto, existe condição suficiente para se denotar credibilidade.

Saúde mental é, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), “um estado de bem-estar em que cada indivíduo realiza o seu próprio potencial, consegue lidar com os desafios normais da vida, consegue trabalhar de forma produtiva e frutífera e é capaz de contribuir para a sua comunidade”. Tendo em conta esta definição, prendo-me na tentativa de encontrar referência de alguém que tenha sido capaz de realizar o seu máximo potencial, seja em que dimensão for, quando atacado por uma gripe ou um qualquer problema intestinal. O ponto a reter é simples: não existe saúde mental sem saúde física. Os conceitos existem divididos da mesma forma que a gramática e o vocabulário: importantes na sua individualidade, mas absolutamente complementares.

Atualmente, temos uma das mais altas taxas de consumo de medicação antidepressiva da União Europeia (UE), tendo aumentado mais de 400% desde 2000. Como podemos nós esperar uma população sã a nível mental, se um dos mais importantes fatores de prevenção e promoção de saúde mental é a prática de exercício físico regular? A simples tarefa de caminhar uma hora por dia (ou correr 15 minutos para quem “não tem tempo”) reduz o risco de depressão em 26%. Para quem não se deixa enganar pelos dados, posso também recorrer à sabedoria milenar: Mens sana et corpore sano.

Existem vários fatores que me parecem facilitar uma cultura sedentária em Portugal. No entanto, há um que me choca particularmente: Em pleno século XXI, Portugal decide que a Educação Física não deve ser tida em conta para avaliar a prestação escolar dos jovens. Uma boa nota a Educação Física deveria significar uma melhoria significativa da condição física dos nossos jovens, ao longo de um ano letivo, indicando que estes têm em conta este hábito como parte do seu dia-a-dia. Não porque jogam bem à bola. Isto faria com que estes se tornassem adultos conscientes da importância do exercício no seu dia a dia, ao longo de toda a sua vida.

Até aos 21 anos fui atleta de alta competição, participando inclusive em várias competições internacionais pelas seleções jovens. Até então e após término da carreira desportiva, pratiquei mais de uma dúzia de desportos. O exercício físico é parte de que não prescindo na minha rotina. Desde que promovo a discussão sobre a saúde mental em Portugal, ficou clara a relação entre ambas as variáveis, tendo por isso passado a ser necessário promover a prática de uma em prol da outra.

Exercício físico não é um luxo, um privilégio ou uma extravagância, é um aliado da nossa saúde mental e bem-estar geral. Não serve apenas para questões estéticas. Se queremos praticar um estilo de vida saudável, equilibrado, e promotor do bem-estar individual e social, falta incutir este hábito não só nos mais jovens, como na cultura portuguesa em geral.


O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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