Psoríase: uma doença de pele que pode ser controlada

Em termos epidemiológicos, estudos recentes estimam que existam cerca de 440.000 doentes com psoríase em Portugal. Felizmente, a maioria destes casos trata-se de formas ligeiras da doença.

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O impacto que a psoríase tem na vida das pessoas não é puramente estético cottonbro studio/pexels
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Nos últimos anos, a psoríase foi uma das doenças cutâneas em que a investigação científica mais avançou. Apesar de várias descobertas tanto a nível da sua patogénese como em termos de novos alvos terapêuticos, existem ainda alguns estigmas associados à doença, tais como, ser considerada contagiosa e devido a má higiene.

Na realidade, sabemos que a psoríase é uma doença multifatorial, com uma elevada carga genética podendo ser desencadeada/agravada por alguns fatores ambientais, como o stress, infeções ou mesmo medicamentos. Pode afetar qualquer idade, inclusivamente crianças e pode atingir diferentes áreas corporais, desde a face, tronco, membros, região genital, couro cabeludo e unhas.

Em termos epidemiológicos, estudos recentes estimam que existam cerca de 440.000 doentes com psoríase em Portugal. Felizmente, a maioria destes casos trata-se de formas ligeiras da doença, mas que ainda assim podem ter repercussões a nível social e psicológico. A psoríase vai para além do foro cutâneo, sendo hoje considerada uma verdadeira doença sistémica, não só porque pode envolver outros sistemas, tais como o sistema articular, mas também porque se pode associar a outras co-morbilidades como a obesidade, hipertensão, resistência à insulina, síndromes depressivos, doença inflamatória intestinal, entre outras.

Além disto, há que relembrar que o impacto que esta doença tem na vida das pessoas não é puramente estético. De facto, a psoríase pode condicionar várias vertentes, desde a forma como se vestem, como interagem com os amigos e familiares à sua profissão. Por estes motivos, é considerada uma das patologias cutâneas que mais afeta a qualidade de vida dos doentes.

Desta forma, são necessários medicamentos eficazes, seguros e práticos, que permitam tratar as lesões cutâneas e também impedir a progressão da doença noutros órgãos.

Considerando a necessidade de tratamentos sobretudo nas formas mais graves da doença, foi aqui que assistimos à maior inovação nas últimas duas décadas, com a introdução de medicamentos chamados “biológicos”. Estas novas moléculas estão disponíveis para casos de psoríase vulgar moderada a grave, em que tenha ocorrido falência (ou quando há contraindicações) para terapêuticas sistémicas convencionais mais antigas. Existem já aprovados e comparticipados em Portugal vários tratamentos “biológicos”, que se distinguem entre si pelo seu mecanismo de acção, posologia e eficácia.

Neste aspecto, apesar de a psoríase ainda ser uma doença sem cura, os medicamentos “biológicos” mais recentes têm atingido taxas de eficácia tão elevadas que alguns doentes chegam mesmo a ter uma pele limpa de lesões. Aliado a isto, o facto de existirem já milhares de pessoas tratadas ao longo dos anos, atesta também a segurança destas novas opções, com dados que apontam que quanto mais precoce for o tratamento, menores poderão ser as complicações da doença a longo prazo.

Apesar de todos estes avanços há ainda aspectos a melhorar, desde a consciencialização da população geral acerca da psoríase não ser “culpa” dos doentes, evitando assim a perpetuação do estigma associado, bem como melhorar a capacidade de resposta nos cuidados de saúde para assim poder minimizar o período de tempo até os doentes encontrarem uma terapêutica eficaz para o seu caso.


O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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