Roubar palavras durante a noite

Alguém anda a roubar as palavras que saem pelas chaminés. As preferidas são as das histórias contadas às crianças.

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“À noite, quando a lua ilumina os caminhos, o pequeno ladrão das palavras sai com o seu equipamento e viaja até à cidade” Nathalie Minne
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“As suas palavras preferidas são as das histórias contadas às crianças” Nathalie Minne
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“As crianças usam as palavras para fazer rir os seus amigos” Nathalie Minne
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“O ladrãozito leva nozes e o menino leva caramelos. A cabana enche-se de histórias e risadas” Nathalie Minne
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”Um belo dia, o pequeno ladrão conhece uma menina e fica mudo!” Nathalie Minne
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Capa do livro O Pequeno Ladrão de Palavras, editado pela Paleta de Letras Nathalie Minne

Um pequeno ladrão colecciona palavras que recolhe durante a noite sobre os telhados das casas. “Projectadas pelo calor dos lares, as palavras misturam-se alegremente no ar. E o pequeno ladrão apanha-as no redemoinho de fumo que sai das chaminés. As suas preferidas são as das histórias contadas às crianças. São as que sobem mais depressa e se desvanecem no silêncio da noite.”

Quando regressa a casa, uma cabana, solta-as e vê-as misturar-se, cantar e dançar. “Há umas agitadas, outras ternas, outras verdes, outras enormes e vermelhas como a raiva e algumas tão compridas que é impossível pronunciá-las.”

Depois, volta a apanhá-las e a guardá-las em frascos de bombons catalogados: palavras simples, palavras muito belas, gordas, engraçadas, solitárias, vazias, etc. E acaba a ensaiar receitas: “2 palavras doces, 1 picante, 3 molhadas e duas quentes. Mistura tudo muito bem e atira-as ao ar.” Resultado: “O acaso entrança tapetes de elogios, tece cachecóis de insultos e tricota meias de explicações complicadas.” Depois de ser mais experiente, encontrará as doses certas, que usará para criar histórias que lê aos animais da floresta.

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“Então, o pequeno ladrão de palavras apanha-as, separa-as e guarda-as em frascos de bombons” Nathalie Minne

Originais expostos em Braga

Um livro poético que emociona também pelas belas ilustrações, valorizadas pelo formato grande do livro (280 x 360 x 10 mm). Os originais podem ser vistos em Braga, na Galeria do Paço, até dia 18 de Novembro, no âmbito do encontro de ilustração Braga em Risco, organizado pelo município. Ali, crianças e adultos podem mergulhar no universo criado pela francesa Nathalie Minne. Também poderão “roubar” palavras impressas que por ali se encontram e colocá-las em frascos com etiquetas, idênticos aos da história. Uma exposição/instalação encantadora.

Numa masterclass que a autora ministrou em Braga, e a que o PÚBLICO assistiu remotamente, revelou como o seu processo criativo é dinâmico e nasce dos muitos papéis que sempre a acompanham. “Não posso trazer tudo na mala, mas ando sempre cheia de papéis”, conta à medida que os mostra, de diferentes cores, texturas, já desenhados e recortados ou não. Sobrepõe-nos e dali pode sair uma ideia.

Utiliza vários materiais e técnicas: “Para a cabana do pequeno ladrão, usei linogravura. [Para a ilustração em que aparece essa pequena casa], também recorri a papel japonês sobre um fundo preto, o que lhe dá um efeito brilhante, depois colei cada elemento, folhas e pássaros, um a um.”

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“Na sua cabana, as palavras misturam-se e cantam” Nathalie Minne

Usa ainda pastel a óleo e não mistura cores. “Gosto de as justapor, mas não de as misturar. Gosto que as cores sejam puras”, disse Nathalie Minne a quem assistiu à sessão, traduzida em simultâneo para inglês por Pedro Seromenho, da organização do Braga em Risco, que nesta 6.ª edição viu crescer o seu alcance internacional.

Nascida na Normandia, estudou na Escola Superior de Artes Gráficas de Paris e trabalhou em diversas oficinas de design gráfico, onde “aprendeu a fazer letreiros, postais, cartazes e tantas outras coisas práticas”. Dedicou-se a criar histórias e a desenhá-las depois que os filhos nasceram.

Quanto ao ladrão de palavras, acabará por ser apanhado em flagrante. Há-de ganhar um amigo e depois uma paixão, que o deixará mudo. “Todas as palavras que ele tão pacientemente acumulou tornam-se inúteis.” Terá de voltar à sua recolha sobre os telhados e acrescentar um novo frasco às prateleiras. Rótulo: “Palavras de amor”.

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