Morreu a poetisa Adília Lopes

Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, que assinava com o pseudónimo Adília Lopes, morreu esta segunda-feira, aos 64 anos, no Hospital de São José, em Lisboa, onde estava internada.

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As quatro décadas da produção poética de Adília Lopes, compreendidas entre 1983 e 2023, estão reunidas em Dobra Rui Gaudêncio
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A poetisa portuguesa Adília Lopes, pseudónimo literário de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, morreu esta segunda-feira, aos 64 anos, no Hospital de São José, em Lisboa, onde estava internada há já algum tempo, soube o PÚBLICO junto de amigos próximos que a acompanharam nos últimos momentos.

A autora, que nasceu em Lisboa, em 1960, faz parte da geração de poetas revelados pelo primeiro Anuário de Poesia da Assírio & Alvim, publicado em 1984. As quatro décadas da sua produção poética, de 1983 a 2023, estão reunidas em Dobra, que a Assírio & Alvim reeditou e actualizou em Setembro último e que junta os 36 livros da poetisa, desde a sua estreia com Um Jogo Bastante Perigoso, de 1985, que publicou numa edição de autor, até aos livros mais recentes, como Pardais, de 2022, e Choupos, de Maio de 2023, publicados pela Assírio & Alvim. Ao longo dos anos, a sua obra foi publicada por diversas editoras (Frenesim, Hiena, & etc., Black Sun Editores, Angelus Novus, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Mariposa Azual, Averno, Relógio d’Água, Assírio & Alvim).

“A minha poesia é uma epopeia da vida menor. Não é a descoberta do caminho marítimo para a Índia. É o caminho do corredor de minha casa entre a sala onde escrevo e leio e a cozinha. É doméstica. É feminina”, disse numa entrevista que deu no final de Setembro, por email, à revista literária Quatro Cinco Um, quando Dobra saiu na Assírio & Alvim Brasil. “É uma questão de mística e de vida monacal, de facto. Um ideal cristão é que toda a vida se torne oração. Esforço-me por isso”, acrescentava nesse texto assinado pelo poeta e ensaísta brasileiro Marcelo Ariel, para quem “a obra de Adília Lopes se inscreve na poesia contemporânea de língua portuguesa como uma espécie de bíblia da desmistificação do poema”.

Como escreveu também António Guerreiro, cronista e crítico literário do PÚBLICO, a poesia de Adília Lopes “é uma estação fundamental e singular no percurso da poesia portuguesa desde os anos 80” e “o seu grande triunfo consistiu em renunciar completamente ao lirismo e às suas tonalidades afectivas, mantendo uma densidade que advém da exploração linguística, em todos os níveis”.

À Quatro Cinco Um, Adília Lopes contou que foi na infância que descobriu “o encantamento da literatura” e também do cinema. Na edição impressa da revista brasileira, publicada em Outubro, fala da importância que teve para si a leitura dos livros para crianças de Sophia de Mello Breyner Andresen, escritora que nunca conheceu, e mais tarde da sua poesia e dos contos para adultos. “Esta escritora ensinou-me tudo”, confessou então, lembrando também a importância que Proust teve para ela durante a sua adolescência; com ele aprendeu tudo o que sabia sobre literatura, como também aprendeu “a observar o mundo e a construir defesas” com Agustina Bessa-Luís.

Filha de uma bióloga e de um professor do ensino secundário, Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira era licenciada em Literatura e Linguística Portuguesa e Francesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Tinha frequentado antes a licenciatura em Física, também na Universidade de Lisboa, mas abandonou o curso quando estava prestes a completá-lo. Especializou-se em Ciências Documentais (1995) na Faculdade de Letras de Lisboa e contribuiu para a organização dos espólios de Fernando Pessoa, Vitorino Nemésio e José Blanc de Portugal. Quando era adolescente tinha o desejo de ser romancista e via alguns dos seus livros de poesia como romances em miniatura.

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