A empresária e personalidade televisiva Bethenny Frankel, que atingiu o estrelato nos EUA com o reality show The Real Housewives of New York City (programa transmitido em Portugal pela SIC Mulher), usou a sua conta de Instagram para se insurgir contra a manipulação dos corpos nas fotografias publicadas nas redes sociais.
“Esta não é a minha figura”, começa por esclarecer na legenda a uma imagem em que surge com um corpo aparentemente perfeito e sem quaisquer marcas. “Mas, se eu publicasse uma versão disto todos os dias, poderiam começar a acreditar que poderia ser”. Para Bethenny Frankel, que juntou na mesma publicação uma imagem sua sem manipulação e outra em que compara ambas, “filtrar é mentir”.
Além disso, explica a empreendedora de 51 anos, o processo “faz as mulheres sentirem-se mal consigo próprias”, “torna as raparigas jovens inseguras e obcecadas com uma perfeição inatingível” e “mulheres de meia-idade e mães sentem-se inseguras”. “É o oposto de inspiracional. É destrutivo. É irresponsável. É inseguro e impreciso.”
Um estudo da Academia Americana de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva Facial mostrou que 72% dos cirurgiões verificaram o aumento da procura por estes procedimentos em 2019 (mais 15% do que em 2018). Um inquérito online realizado posteriormente tentou perceber porquê e concluiu que a procura da imagem perfeita nas redes sociais, através da utilização de filtros nas selfies, está a fragilizar a auto-estima dos mais jovens, sobretudo raparigas, e tem levado a uma procura crescente de cirurgias plásticas.
Já este ano, Catarina Santos, médica da MyClinique, em Lisboa, relatou, em declarações enviadas ao PÚBLICO, que todos os dias chegam ao seu consultório pedidos “inspirados nas redes sociais” — “muitas vezes acompanhados pela própria selfie modificada por um filtro”. A procura recai sobretudo nos lábios mais carnudos, nos queixos mais proeminentes, narizes mais estreitos e pele sem imperfeições.
Um quadro preocupante para a psicóloga clínica Sofia Andrade que, no limite, pode conduzir ao isolamento social. “Acompanhei uma jovem que deixou de ir às festas de aniversário porque a sua imagem no Instagram não correspondia à imagem real. Sentia que estava a defraudar os outros”, exemplificou a especialista ao PÚBLICO.