Chegou o BeReal, a rede social que só pede dois minutos (e uma foto sem filtros) por dia
Sem gostos, filtros ou anúncios. A rede social está a cativar os utilizadores mais jovens com um desafio: “sê real”.
Todos os dias, a uma hora diferente, surge uma notificação que avisa: “It’s time to be real” (“está na hora de ser real”, em português). Depois, toda a gente no BeReal tem dois minutos para tirar uma fotografia ao que está a fazer com ambas as câmaras, frontal e traseira. É possível publicar fora do período estipulado com algum atraso, mas o limite de uma imagem por dia é imperativo. Quem não tirar foto também não pode ver as dos amigos.
É assim que funciona o BeReal. A rede social foi fundada em 2019, em França, pelos empresários Alexis Barreyat e Kévin Perreau, mas foi em 2022 que começou o seu verdadeiro boom. Segundo o Apptopia, desde o início do ano, o número de utilizadores activos mensalmente na aplicação aumentou 315%. O mesmo site mostra que até 4 de Abril a aplicação foi instalada mais de sete milhões de vezes.
O que parece apelar aos jovens é a simplicidade e a ausência da glamorização que há noutras redes sociais. Mafalda Barbosa, 21 anos, conheceu o BeReal através do TikTok, mas foi quando os amigos instalaram a aplicação que ficou mais curiosa.
Sobre o que a levou a experimentar, não tem dúvidas: “O facto de ser tão real, como diz o nome. Não estamos à procura de mostrar a nossa melhor versão de nós. Somos apenas nós mesmos e o nosso dia-a-dia”.
Afonso Caetano é estudante de Erasmus em Barcelona e confessa que o BeReal lhe permite ver em “cinco minutinhos” o que os amigos estão a fazer. Tal como Mafalda, o jovem de 21 anos também sublinha a autenticidade como um dos pontos fortes da rede social. “Não sentes pressão nenhuma. Não glorificas nada para parecer uma pessoa mais fixe”, diz.
Num desabafo, Helena Lima, 20 anos, confessa que a geração de que faz parte pode estar a virar-se para o BeReal por estar “saturada de ver coisas falsas nas redes sociais”. Um sentimento partilhado pelo próprio criador da aplicação. Segundo declarações de Elisabeth Schuster, relações públicas do BeReal, à Protocol, a decisão de Alexis Barreyat de criar a rede social veio do seu anterior trabalho como produtor de vídeo para a GoPro. “Todos os dias ele abria o Instagram e estava cheio de anúncios e influencers e a vida perfeita de toda a gente”, confessou.
Para receber o aviso de publicação enviado a todos os utilizadores ao mesmo tempo é necessário activar as notificações, mas Helena Lima considera os alertas do BeReal menos incomodativos do que os que recebe de outras aplicações. Não só por saber que é apenas uma notificação por dia, mas também porque a desperta para o que a rodeia, para depois tirar uma fotografia original, descreve.
Num universo onde continuam a imperar gigantes como o TikTok e o Instagram, não se sabe ainda o lugar que o BeReal poderá ocupar. Uma das ideias da aplicação é desincentivar as pessoas a perder muito tempo nas redes sociais, mas Afonso Caetano não acredita que isso surta efeito. “Gasto o mesmo tempo nas outras”, confessa.
Pedro Miguel Oliveira, gestor de marketing e comunicação de 21 anos, pensa que ao ser “limitada no sentido daquilo que podemos fazer”, a rede social tanto pode desaparecer depressa, como perdurar pela simplicidade que apresenta.
Texto editado por Renata Monteiro