J.K. Rowling chamou homem a Imane Khelif e não pediu desculpa
“Nós opomo-nos porque vimos um homem a dar murros a uma mulher”, escreveu a autora de Harry Potter sobre a participação de Imane Khelif nos Jogos Olímpicos.
A escritora J.K. Rowling juntou-se ao coro de insultos à pugilista argelina no torneio de boxe feminino nos Jogos Olímpicos, acusando-a de não ser mulher. Depois de o Comité Olímpico Internacional (COI) ter saído em defesa da atleta, reiterando que Imane Khelif é mulher e deve continuar na competição, a autora de Harry Potter não pediu desculpa e voltou a insistir nas críticas. “Os meios de comunicação social podem gostar da onda de cliques que ganham ao distorcerem as realidades biológicas. No entanto, estas mentiras têm consequências graves”, escreveu no X neste fim-de-semana.
Nos comentários das publicações, os seguidores não demoraram a acusar a escritora de distorcer a situação e de contribuir para a desinformação. “Ela não é ‘trans’. Se acredita apenas em dois géneros que correspondem ao que lhe foi atribuído à nascença, ela não é um homem”, escreve um utilizador. E outro afiança: “Ela não é uma mulher ‘trans’, Joanne. Isto é parte da razão pela qual a transfobia é tão cancerígena. Começa-se a atacar quem não se encaixa na imagem que se tem de uma mulher.”
Mas a autora defendeu-se, garantindo o problema não era Imane Khelif ser ‘trans’, mas ser “objectivamente um homem”. “A ideia de que aqueles que se opõem a um homem que dá murros a uma mulher em nome do desporto o fazem porque acreditam que Khelif é ‘trans’ é ridículo. Nós opomo-nos porque vimos um homem a dar murros a uma mulher”, escreveu.
Durante os dias seguintes à polémica, a escritora continuou a publicar sobre o tema, divulgando opiniões em jornais que vão ao encontro do que acredita ou com felicitações para a italiana Angela Carini, indemnizada pela Federação Internacional de Boxe ─ que não é reconhecida pelo COI.
“Haverá imagem que resuma melhor o novo movimento pelos direitos dos homens? O sorriso de um homem que sabe que está protegido por uma instituição desportiva misógina e que se diverte com a angústia de uma mulher a quem acabou de dar murros na cabeça e cuja ambição de vida acabou de destruir”, acusava a escritora na legenda da imagem de Imane Khelif a consolar Angela Carini depois da derrota na categoria de 66 quilos, sem contextualizar que a argelina é, de facto, uma mulher.
A polémica com Imane Khelif tomou conta das redes sociais desde a passada quinta-feira, 1 de Agosto, depois da vitória sobre a atleta italiana, que abandonou o ringue em lágrimas. A argelina tinha sido afastada da final do mundial de 2023 pela Associação Internacional de Boxe (IBA, na sigla inglesa). Na altura, o presidente dessa associação, Umar Kremlev, disse que, após terem realizado exames à atleta, “ficou comprovado que possui cromossomas XY”, mas nunca foram divulgados detalhes sobre esses exames.
Todavia, a existência de cromossomas XY não determina, por si só, que uma pessoa é um “homem” e pode ser explicada por patologias como a síndrome de Swyer, como defendeu o COI, que garantiu que “todos os atletas que participam no torneio de boxe dos Jogos Olímpicos de Paris 2023 cumprem todos os requisitos de elegibilidade e de participação”. E insiste: “O género e a idade dos atletas são baseados no seu passaporte.”
Os comentários de J.K. Rowling em “prol dos direitos de mulheres”, classificados como transfóbicos, têm ofuscado a carreira da escritora nos últimos quatro anos. Tudo começou em Junho de 2020, quando publicou um ensaio em que declarou estar preocupada com “o novo activismo ‘trans’”.
A posição foi justificada com a história pessoal de violência doméstica no primeiro casamento e de abuso sexual para justificar a sua aversão a ter pessoas nascidas biologicamente do género masculino dentro de casas de banho ou balneários para mulheres. “Quando se abrem as portas das casas de banho e balneários a qualquer homem que acredite ou sinta que é mulher — e, como já disse, os certificados de confirmação de sexo podem agora ser concedidos sem qualquer necessidade de cirurgia ou hormonas —, então abre-se a porta a todo e qualquer homem que deseje entrar.”