J.K Rowling critica (outra vez) Daniel Radcliffe e Emma Watson pela defesa dos transgénero

A autora de Harry Potter acusa os actores de criarem um movimento que “aplaude” a transição de género de menores. E diz que não perdoará Radcliffe e Watson pela defesa da comunidade trans.

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J.K. Rowling escreveu um ensaio em 2020 onde dizia estar preocupada com "o novo activismo trans" REUTERS/Carlo Allegri/arquivo
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J.K. Rowling tem sido notícia não pelos seus livros, mas pelas opiniões polémicas sobre as pessoas transgénero. Desta vez, através do X (antigo Twitter), a autora britânica acusou as celebridades em geral de criarem “um movimento que pretende corroer os direitos duramente conquistados pelas mulheres”, incluindo Daniel Radcliffe e Emma Watson, protagonistas da saga Harry Potter.

Em causa, está um novo estudo independente da pediatra Hilary Cass, apoiado pela Sistema Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla original), sobre os cuidados médicos a crianças e jovens, com menos de 18 anos, em processo de mudança de género. A especialista acredita que estes adolescentes têm sido prejudicados pela pesquisa “incrivelmente fraca” sobre questões de género, sobretudo no que toca aos efeitos “a longo prazo” na saúde mental e na constante “angústia”.

Rowling não demorou a intervir no X para comentar “a investigação médica mais robusta para crianças em transição”, usando o estudo de Cass para justificar a sua própria posição sobre os perigos da mudança de género nos jovens. “Se estou a soar zangada, é porque estou muito zangada. Li Cass esta manhã e a minha raiva tem estado a aumentar durante todo o dia. As crianças foram irreversivelmente prejudicadas e milhares de pessoas são cúmplices, não só os médicos, mas também os porta-vozes das celebridades, os meios de comunicação social e as empresas cínicas”, escreveu.

Um utilizador comentou uma das publicações, escrevendo que esperava que “Dan [Radcliffe] e Emma [Watson] fizessem um pedido de desculpas público” à autora, à luz da nova informação disponível. E acrescentou: “Certo de que os perdoará.” A autora respondeu-lhe, dizendo que “não é certo” o perdão. “Utilizaram as suas plataformas para aplaudir a transição de menores, podem guardar as suas desculpas para as pessoas traumatizadas que se encontram em transição e para as mulheres vulneráveis que dependem de espaços para pessoas do mesmo sexo.”

O estudo da pediatra britânica não é contra a mudança de género em jovens com menos de 18 anos, mas Cass pede “cuidado” — longe do prejuízo irreversível de que fala J.K Rowling. “Todos os casos considerados para tratamento médico devem ser discutidos numa Equipa Multidisciplinar (MDT) nacional”, escreve a médica no estudo disponibilizado online.

Hilary Cass preocupa-se sobretudo com os efeitos dos debates sobre este tema e a consequente desinformação médica. “Infelizmente, o que aconteceu com estes jovens é que, devido à toxicidade do debate, foram muitas vezes ignorados pelos serviços locais, que se mostraram muito receosos de os atender”, lamenta, numa entrevista à BBC.

Quatro anos de polémica

Daniel Radcliffe e Emma Watson, que deram vida a Harry Potter e Hermione nas adaptações dos livros de Rowling ao cinema, são voz activa para os direitos LGBTQI+ e têm-se oposto publicamente às opiniões de J.K Rowling. “As mulheres transgénero são mulheres”, escreveu Radcliffe, em 2020, no blogue Trevor Project, dedicado a temas de igualdade. “Qualquer afirmação em contrário apaga a identidade e a dignidade das pessoas transgénero e vai contra todos os conselhos dados por associações profissionais de saúde.”

Pouco depois, também Watson demonstrou o seu apoio à comunidade transgénero. “As pessoas trans são quem dizem ser e merecem viver as suas vidas sem serem constantemente questionadas ou sem que lhes digam que não são quem dizem ser.”

A polémica com J.K Rowling começou em Junho de 2020, quando a autora publicou um ensaio, em que declarou estar preocupada com o “novo activismo trans” que acusou de estar a “corroer os direitos das mulheres”.

A escritora justificou a sua posição, relatando a sua história pessoal de violência doméstica, no primeiro casamento, e de abuso sexual para justificar a sua aversão em ter pessoas nascidas biologicamente do género masculino dentro de casas de banho ou balneários para mulheres. “Quando se abrem as portas das casas de banho e balneários a qualquer homem que acredite ou sinta que é mulher — e, como já disse, os certificados de confirmação de sexo podem agora ser concedidos sem qualquer necessidade de cirurgia ou hormonas —, então abre-se a porta a todo e qualquer homem que deseje entrar.”

Rowling ressalvou o facto de acreditar que “a maioria das pessoas trans não só representam uma ameaça zero para os outros, como são vulneráveis”, sublinhando que, “tal como as mulheres, [as transexuais] estão mais sujeitas a serem mortas por parceiros sexuais”.

Em 2022, a autora criou um centro de apoio para mulheres vítimas de violência sexual, em Edimburgo, o Beira’s Place, mas onde não apoia pessoas transgénero. Recentemente, quando se falou sobre a criminalização dos ataques à identidade de género no Reino Unido, com pena de até dois anos de prisão, Rowling declarou não temer as represálias. “Não me importo de cumprir dois anos se a alternativa for o discurso forçado e a negação forçada da realidade e da importância do sexo.”

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