Bexiga hiperactiva: cinco dúvidas sobre um problema que inquieta a vida das mulheres

A patologia consiste na contracção involuntária do músculo da bexiga, que causa a sensação de urgência para urinar e afecta a qualidade de vida. Nesta terça-feira assinala-se o Dia da Saúde Feminina.

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28,9% das mulheres entre os 75 e os 85 anos sofrem de incontinência Unsplash/Sk
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Está a tentar fazer uma tarefa, mas não consegue concentrar-se porque subitamente precisa mesmo de ir à casa de banho. Corre com a sensação de que não chegará a tempo, mas, quando lá chega, afinal não tinha assim tanto para esvaziar na bexiga. Este é um cenário comum para as doentes com bexiga hiperactiva, uma patologia que afecta sobretudo as mulheres, explicam as especialistas em ginecologia ouvidas pelo PÚBLICO, a propósito do Dia Internacional da Saúde Feminina, que se assinala nesta terça-feira, 28 de Maio.

O que é a bexiga hiperactiva?

Muitas mulheres podem ter frequentemente esta sensação de urgência em ir à casa de banho, mas não a associam a esta patologia, que “é causada pela contracção inapropriada do músculo de bexiga”, começa por explicar Alexandra Henriques, responsável pela Unidade de Uroginecologia no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Como resultado dessa contracção, pode “ou não causar a perda de urina”.

É uma contracção “inapropriada” e “involuntária” do detrusor (o músculo da bexiga) que ocorre sobretudo sobre o momento de “enchimento”, acrescenta Ana Rosa Costa, ginecologista do Hospital de São João, no Porto. “Durante esta fase, a bexiga tem capacidade para se ir acomodando a quantidades crescentes de urina, normalmente entre 350 ml e 500 ml. Mas, mesmo quando não está cheia, a mulher sente a urgência de ir fazer chichi”, descreve a especialista.

Os últimos estudos em Portugal, conduzidos pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, dão conta de que as patologias de incontinência urinária afectam 9,9% das mulheres com mais de 18 anos. E a prevalência vai aumentado com a idade: 28,9% das mulheres entre os 75 e os 85 anos.

Ainda assim, Alexandra Henriques explica que estes problemas estão frequentemente “subestimados”, porque não só as mulheres “entendem que é normal com a idade ter incontinência e acham que não há nada a fazer”, como “é embaraçoso falar de perda de urina”. Além disso, os médicos também não abordam este tema “sistematicamente”, como deveriam fazê-lo, defende a ginecologista.

Porque acontece sobretudo às mulheres?

A bexiga hiperactiva está associada à incontinência de urgência, que é a necessidade súbita de urinar, mas é diferente da incontinência de esforço, o tipo mais comum, normalmente associada “a disfunções do pavimento pélvico”, distingue Ana Rosa Costa, que lembra factores de risco como “a gravidez, exercícios de impacto ou a obesidade”. Alexandra Henriques completa: “Lesões musculares, ligamentares e nervosas decorrentes da gravidez e parto podem afectar a bexiga.”

Apesar de os homens também poderem ter bexiga hiperactiva, são as mulheres a população mais susceptível por condições como “o hipoestrogenismo causado pela menopausa”, que pode afectar o funcionamento da bexiga, ou pela toma de medicações como as pílulas contraceptivas com efeito diurético, lembra Ana Rosa Costa, ginecologista especialista em menopausa.

Já Alexandra Henriques sublinha que a fisionomia da mulher também a torna mais propícia a este tipo de patologia, que “não é apenas um sinal de envelhecimento”. E explica: “A uretra feminina é mais curta do que a masculina, o que facilita a ocorrência de infecções urinárias.” Além disso, a idade é um factor de risco e “as mulheres tendem a viver mais tempo do que os homens”.

A que sintomas estar atento?

À parte da súbita urgência em urinar, “impossível de contrariar”, com a sensação de que a perda de urina pode ocorrer antes de chegar à casa de banho, a uroginecologista do Hospital de Santa Maria observa que o aumento da frequência miccional também é de preocupar — “geralmente mais do que sete vezes por dia”. Durante a noite, também não é normal acordar mais do que uma vez por noite para ir ao WC.

Além disso, se quando vai, depois da sensação de urgência, “urina pouco”, o problema também poderá estar ligado à bexiga hiperactiva. Ou seja, sofreu a contracção da bexiga sem que esta estivesse cheia. Ana Rosa Costa explica que esta contracção involuntária dos músculos também pode ocorrer por estímulos, como “ouvir água a correr ou mexer em água”.

Para diagnosticar o problema, “faz-se um estudo urodinâmico” que mede as contracções involuntárias da bexiga, informa a especialista do Hospital de São João. Para pedir ajuda, as mulheres devem falar com o seu médico de família ou ginecologista, sem vergonha.

Como afecta a qualidade de vida?

Apesar de esta não ser uma doença grave, afecta particularmente a qualidade de vida das mulheres e a sua auto-estima, pela ansiedade gerada, além do “medo de cheirar mal e ficar suja”, nota Alexandra Henriques. Algumas mulheres inibem-se de sair de casa com medo de que não consigam encontrar uma casa de banho e o Verão é um período particularmente difícil, devido aos hábitos que normalmente se associam a esta época, como as idas à praia ou ao jardim, onde habitualmente não existe fácil acesso ao WC. “A ansiedade agrava a sensação de urgência miccional”, aponta.

E, por vezes, nem a família encara bem esta necessidade constante de ir à casa de banho durante, por exemplo, uma viagem longa a caminho das férias, “o que pode ser motivo de embaraço para a mulher”. Com o calor, há ainda maior necessidade de ingestão de líquidos, o que também aumenta as queixas urinárias.

Na vida íntima, este tipo de incontinência também traz consequências, já que as mulheres acham que podem urinar durante a actividade sexual e acabam por a reduzir, afectando a relação com o parceiro, acrescenta Ana Rosa Costa. Mais: com o medo de urinar, as mulheres começam a usar pensos absorventes de forma sistemática, o que facilita “infecções sobrepostas” e acelera a perda de “integridade da pele”.

Há solução?

Não é preciso viver com bexiga hiperactiva e há solução. “Começamos por ensinar técnicas para esvaziar totalmente a bexiga antes de sair de casa ou prescreve-se medicação que relaxa o músculo e inibe as contracções”, responde Ana Rosa Costa. Em casos extremos, é preciso administrar uma injecção botulínica que “paralisa” o músculo da bexiga.

A fisioterapia pélvica também é útil, tal como os tratamentos de estimulação nervosa percutânea do nervo tibial posterior, ambos sob a responsabilidade de um especialista em medicina física e reabilitação. Os famosos exercícios de Kegel, que consistem na contracção voluntária da zona da pélvis, não são úteis neste tipo de incontinência, mas sim na incontinência de esforço, diz a médica do Hospital de São João.

Além das soluções médicas, um estilo de vida saudável também ajuda a mitigar os sintomas, defende Alexandra Henriques. “Evitar a obesidade; praticar exercício físico regular adequado à idade; não fumar; manter bons hábitos miccionais (urinar aproximadamente de duas em duas horas ou de três em três horas); evitar o consumo de estimulantes (bebidas alcoólicas, gaseificadas, comida picante, café, chocolate) e manter uma boa ingestão de água (cerca de um litro e meio a dois litros ao dia)”, enumera a especialista da Associação Portuguesa de Neurourologia e Uroginecologia, que lançou a página Na Bexiga Mando Eu.

Além destas medidas, as médicas aconselham que se tente uma “reeducação vesical”, isto é treinar a capacidade de aguentar volumes maiores de urina sem ir tão frequentemente à casa de banho. Ou seja, de cada vez que sentir vontade, tente aguentar e distraia-se com outro tema.

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