Criar um vinho e ver as estrelas no L’And Vineyards
Herdade às portas de Montemor-o-Novo propõe experiências para quem gosta de vinho (e não só).
Sentados numa sala que fica paredes-meias entre a adega e o café, no rés-do-chão do edifício principal do L'And Vineyards, Gonçalo Mendes desafia-nos a fazer um vinho. Esta é uma das actividades que podem ser realizadas no resort situado na Herdade das Valadas, em Montemor-o-Novo, e que recentemente abriu mais 11 suítes, desta vez, viradas para o lago e para céu, as Suites Lake Sky View, que se juntam às L'And View e às Sky View. O espaço está a crescer, sem esquecer as suas raízes vinícolas, aliado à natureza e ao estar bem.
No empreendimento da família Sousa Cunhal pratica-se a agricultura, a silvicultura, sem esquecer a vinha biológica, espalhada por seis hectares, onde há uvas de várias castas — Touriga Nacional, Touriga Franca, Alicante Bouschet, Syrah e Gouveio. O desafio é que os hóspedes possam ter acesso a diferentes experiências relacionadas com o vinho, da simples ida ao spa à realização da vindima. A paixão pelo vinho pode ainda ser a justificação para jantar no restaurante L'And.
De pé, o sommelier Gonçalo Mendes explica a origem das castas, a sua diversidade e a história da marca. Os vinhos do L'And estão no mercado desde 2011. A primeira produção foi em 2009; a primeira plantação, dois anos antes; e em 2013 adquire a certificação de vinha biológica, ou seja, ali não se recorre a produtos químicos. Em cima da mesa, à frente de cada formando, estão quatro copos, um mapa de Portugal com as diferentes regiões vinícolas e um cartão que será útil para a prova.
O especialista vai mostrando o resultado das quatro castas tintas que ali são produzidas, vai propondo a prova de cada uma e perguntando a opinião dos participantes. Por fim, com os utensílios indispensáveis, cada um é convidado a fazer o seu blend. Gonçalo Mendes elogia o trabalho e a criatividade dos 'enólogos´', que são como alquimistas a criar os seus vinhos. Assim, cada participante faz o seu. Depois, o sommelier identifica cada blend com um número, que é escondido de maneira a que no passo seguinte, a prova, ninguém saiba de quem é a criação. Antes disso, cada um escolhe o nome do seu vinho.
A prova é feita e depois de alguma discussão é escolhido um dos blends por unanimidade. Gonçalo Mendes pega na "receita" e enche uma garrafa com as porções correctas de cada uma das castas. De seguida, a garrafa é fechada e é posto o rótulo escolhido pelo vencedor. Colocada a garrafa numa caixa, o sommelier deixa a recomendação de bebermos o vinho nos próximos dois meses. A herdade produz sobretudo para os clientes e para os hóspedes, diz. Além do tinto, há dois anos surgiu a primeira referência rosé, também há uma de branco e foi feita uma experiência nos orange wines, informa.
Em média, os hóspedes ficam duas noites e esta é uma das experiências que pode ser feita, em vez de passarem o dia estirados nas espreguiçadeiras junto à piscina ou a dar mergulhos no lago. Outra pode ser um banho floral, feito na suíte, para tal, basta agendar a hora a que se pretende. Existe ainda a opção de fazer um tratamento de assinatura no spa, onde se dá primazia à vinoterapia — o PÚBLICO não fez nenhuma destas propostas, mas experimentou o menu de degustação no restaurante que, em 2015, teve uma estrela Michelin, pela mão do chef Miguel Laffan, que viria a perdê-la no ano seguinte e a reconquistá-la em 2017.
Valorizar a região
Há uns tempos que a cozinha funciona sob a batuta de Nuno Amaral, que ali está desde 2011, quando nasceu o projecto hoteleiro. Existe a ambição da estrela Michelin?, pergunta o PÚBLICO. "Existe a ambição de trabalhar sempre com um nível de serviço e matérias-primas absolutamente diferenciadas e com sentido de valorização do conceito gastronómico do hotel e da região", responde Marta Passarinho, a directora, acrescentando que a experiência gastronómica "sempre foi um pilar essencial e diferenciador da experiência do L'and".
Recentemente, abriu um novo projecto, com cozinha asiática, durante o dia porque a noite é do restaurante principal. O menu de degustação (115 euros, mais 70 euros da harmonização de vinhos) começa com pão de trigo e centeio, uma manteiga de laranja e outra de enchidos, além de azeite biológico, a proposta do sommelier Gonçalo Mendes é um espumante da região da Bairrada, Quinta dos Abibes, que acompanha também o canelone de camarão, creme fraiche e funcho. Para o tártaro de salmão, há um alvarinho Casa Santiago e Adriano Reis, que chega à mesa para apresentar os vinhos, faz referência à opção de escolherem vinhos provenientes de vinhas ecológicas, logo, com pouca produção.
Os pratos confirmam as declarações da directora, o da valorização dos produtos da região. Seguem-se pezinhos de porco de coentrada, torresmo, gema de ovo confitado, é um pastel que chega numa espuma de coentros. Depois o pregado com moqueca e, de seguida, presa de porco preto, puré de abóbora, picles de beterraba e legumes — os ingredientes são oriundos de agricultura biológica. Os vinhos escolhidos passam por um tinto de talha, de fermentação natural, de Monsaraz, da adega José de Sousa; e um Casas Altas, da Beira Interior, que lembra um palhete.
A refeição está prestes a terminar. É tempo da pré-sobremesa e Adriano Reis chega à mesa com uma garrafa enorme. É um vinho fortificado da Madeira, da casa Barbeito, de 2007, que junta mais doce à sobremesa, uma textura de gelado de café e de crumble de chocolate. A noite chega ao fim e é tempo de regressar à zona onde ficam as Suites Lake Sky View, passando pelas outras que são maiores, a pensar nas famílias, e que serão remodeladas até Março do próximo ano, avança a directora.
Pelo caminho, além da vinha, há árvores de fruto, como marmeleiros e romãzeiras, assim como há um pequeno coelho curioso que espreita, junto ao lago. À medida que nos aproximamos da suíte, que tem cerca de 70 metros quadrados, constatamos que a lareira exterior dos vizinhos está a crepitar. Um bom motivo para entabular conversa, treinar o inglês e aceitar o convite para beber (mais) um copo de vinho. Os portugueses continuam a estar em maioria, mas o resort tem vindo a sentir um "forte crescimento" do mercado da América do Norte, Brasil e Reino Unido. "Os Estados Unidos já são o segundo mercado no L'And, tanto em receita como em taxa de ocupação", informa Marta Passarinho.
O silêncio começa a instalar-se. Ao fundo, o castelo de Montemor-o-Novo está iluminado. É tempo de despedidas e de aproveitar a vista que dá nome às 11 suítes, a do céu. Por cima da cama, depois de todas as luzes apagadas, é possível ver as estrelas. Por fim, com o comando, fechamos a clarabóia para que o sol da manhã não nos acorde. Boa noite.
O Terroir ficou instalado a convite do L'And Vineyards