O terraço duriense de Vasco Coelho Santos que nos transporta para um filme italiano
Lembram os terraços das cantinas italianas, mas estas mesas ficam no Douro. Na Quinta do Seixo, da Sandeman, brilham a paisagem duriense e a comida de que gosta o chef portuense.
É só mesmo o nosso imaginário cinematográfico a levar-vos até aos terraços das cantinas da Toscana. Tudo o resto é Douro, louvado seja o Douro. O Seixo by Vasco Coelho Santos, na Quinta do Seixo, a escassos minutos de carro do Pinhão, é um dos projectos gastronómicos mais interessantes da região demarcada neste momento. Celebrou um ano em Setembro e é uma parceria entre o chef portuense e a Sogrape, proprietária da quinta-berço dos vinhos do Porto da Sandeman.
O inspirador e imersivo terraço do Seixo, criado onde até 2005 existiam cubas de vinho (também elas ao ar livre, cobertas por uma espécie de telheiro), é atributo que quase rivaliza com a maravilhosa cozinha de Vasco Coelho Santos. No detalhe e na ligação ao território está, de resto, a finura da sua proposta no Douro. O que aproxima este dos outros projectos do chef (Euskalduna Studio — uma estrela Michelin desde o ano passado —, Semea, Ogi, entre outros)? "Todos seguem uma linha de comida de que gosto. No Seixo a grande diferença é mesmo a vertente mais tradicional do menu", explica o próprio ao Terroir.
Interiores e exterior do restaurante foram desenhados pelo arquitecto Paulo Lobo. Rodeadas por oliveiras e por grandes vasos de terracota com plantas e arbustos autóctones do Douro (também os vemos no meio das vinhas da Quinta do Seixo, cujo Percurso de Biodiversidade foi distinguido pelas Nações Unidas em Dezembro), há mesas de madeira a fazer lembrar as de um parque de merendas e cadeiras de realizador almofadadas, num ambiente em que brilham a gastronomia, os vinhos e a natureza bruta do Douro esculpida nos últimos 200 anos pela teimosia do Homem.
De dia, ali sentados, à sombra de uma esteira gigante, na margem esquerda do Douro, avistamos, do lado de lá do rio, outra quinta da mesma empresa, a Quinta do Porto. No breu da noite, um conjunto de discretos aquecedores aquece as noites já frescas do Outono. Atrás de nós, fica o edifício do restaurante, um corpo comprido e rústico pintado de ocre, que já foi camarata e cantina dos trabalhadores da quinta. Lá dentro, a decoração de interiores procurou conforto e seguiu o look de outros espaços de enoturismo da Sogrape.
Venha a gastronomia e venham os vinhos. Para começar, e para molhar o pão de massa mãe, chega à nossa mesa o azeite da Casa Ferreira. Feito com azeitonas das oliveiras das várias quintas da Sogrape no Douro, é naturalmente picante e foi engarrafado com um rótulo desenhado propositadamente para a Exposição Universal de Paris em 1900, e agora recuperado.
"Os ingredientes locais estão em todo o menu. Nós tentamos sempre trabalhar com ingredientes de produtores que envolvem os espaços e o Seixo não é excepção. Até na própria quinta temos algumas ervas aromáticas que utilizamos no nosso menu e sobremesas", partilha Vasco Coelho Santos.
Os Vinha Grande rosé e branco, ambos de 2022, da Casa Ferreirinha (a garrafeira do Seixo tem uma centena de referências, na sua maioria vinhos da Sogrape), acompanharam o gaspacho de tomate, fresquíssimo, acidez no ponto, o carapau alimado com salada russa — para o nosso palato, a combinação ganhadora da noite —, a salada de tomate-coração-de-boi, queijo e ameixa — de uma simplicidade fantástica — e a salada de polvo.
O cachaço de porco cozinhado no forno a lenha desapareceu-nos na boca como manteiga num pão acabadinho de torrar. Era assim tão tenra a carne, que acompanhava com batata e, no copo, Touriga Fêmea Tinto 2016 — um varietal de uma daquelas castas raras que estão presentes nas vinhas velhas e cujo potencial já levou a Sogrape a fazer novas plantações.
Mais aromático, igualmente suculento, estava a interpretação que a equipa de Coelho Santos faz do bacalhau à Zé do Pipo. Com um Porto Vintage da Sandeman, de 2015 e com uma evolução que se antecipa belíssima nos próximos "30 a 40 anos", comentava alguém à mesa, foi servida uma torta de chocolate com marmelo, uma variação da torta que está na carta do Seixo.
Vasco e a sua equipa tentam que a carta seja fixa, mas não se atrapalham se tiverem de a mudar. "Se não tivermos um produto, conseguimos ter essa versatilidade e alterar um prato do menu", refere o chef, que foi para o Douro a convite da Sogrape e do seu sócio Miguel Moreira, do Parque da Penha. Acrescentando que o "objectivo sempre foi levar a boa comida tradicional e regional para o Douro". "Inspirarmo-nos nesses ingredientes."
O serviço no Seixo é atencioso e do tipo ninja: tenta que não demos por ele (damos, mas pela positiva) e está a encher-nos o copo quando pensamos nisso mas ainda não levantamos os olhos para chamar alguém.
"Tem sido um ano intenso e, essencialmente, de muita aprendizagem. O Douro é completamente diferente do Porto e, consequentemente, há outros desafios. Mas estou feliz por ter aceitado a proposta e sei que estamos apenas no início."
O Seixo abre de terça a sábado, das 12h30 às 15h e das 19h30 às 23h, e ao domingo, das 12h30 às 16h. O preço médio anda nos 45 / 50 euros, com bebidas. Reservas através de email ou do telefone 937 021 206.
O Terroir esteve no restaurante Seixo a convite da Sogrape.