Cancro: estratégias que dão mais esperança
O cancro é uma batalha que todos nós desejamos evitar e quando se trata da cabeça e do pescoço, a prevenção, o diagnóstico precoce e os tratamentos oferecem uma promessa de esperança.
O que é o cancro da cabeça e pescoço? Como o seu nome indica são os tumores malignos que surgem nos órgãos situados na cabeça e pescoço. Incluem a laringe (com as cordas vocais), a boca, a faringe (a garganta), o nariz e os seios perinasais, os ouvidos, as glândulas salivares (produtoras de saliva), o pescoço e os seus gânglios, e a pele.
Os tumores da boca (40%) e da laringe (25%) são os mais frequentes, sendo que os tumores da boca correspondem a 4% de todos os tumores do corpo humano e os da laringe a 2%. Todos os anos surgem cerca de 1030 novos casos de cancro da boca e 620 novos casos na laringe em Portugal — números que despertam a nossa atenção para a necessidade de agir, tratando e cuidando das pessoas que tiverem este diagnóstico, bem como sensibilizando todas as outras para a importância de apostar em medidas de prevenção e em rotinas de saúde, com acompanhamento médico.
Sabemos que os principais fatores desencadeantes deste tipo de cancro são o tabaco e o álcool. E quanto mais cigarros fumados e mais bebidas alcoólicas ingeridas, maior o risco. Estudos mostraram que abandonar estes hábitos pode reduzir significativamente o risco de desenvolver este cancro.
Mas existem outros factores como o sol. Sim, o sol. A exposição excessiva sem proteção também pode aumentar o risco de cancro do lábio e da pele.
Outro factor é a infecção pelo vírus HPV (papilomavírus humano), que tem sido associado a certos tipos de cancro da cabeça e pescoço, especialmente na região da orofaringe (amígdalas e base da língua). A vacinação contra o HPV é uma medida preventiva crucial, não apenas para a prevenção destes tipos de cancro, mas também para a protecção contra outras doenças relacionadas com o vírus.
Muitos tumores são diagnosticados já em fases avançadas, o que implica cirurgias alargadas com possíveis morbilidades, mutilações e alterações visíveis da face e do pescoço, com diminuição da qualidade de vida. Daí a importância do diagnóstico precoce: quanto mais pequeno for o tumor, menor o tratamento e a cirurgia, e maior a probabilidade de cura.
Para o diagnóstico ser o mais precoce possível devemos estar atentos aos sintomas e sinais como, por exemplo, à rouquidão durante mais de 2 a 3 semanas, a uma ferida na boca que não cicatriza, a dor à deglutição durante mais de 2 a 3 semanas, a nódulos no pescoço, ou a perdas de sangue pelo nariz ou boca…Perante estas queixas deve-se recorrer de imediato a uma consulta de Otorrinolaringologia.
Se a suspeita se confirmar, importa saber que os avanços nos tratamentos oferecem uma nova esperança, expandindo as opções e melhorando os resultados: a cirurgia robótica e minimamente invasiva permite uma recuperação mais rápida e menos impacto na qualidade de vida após a cirurgia. Por outro lado, as técnicas de reconstrução com os chamados “retalhos livres” — tecidos transpostos de outros locais — vieram melhorar a qualidade de vida e a reabilitação dos doentes. A radioterapia evoluiu com técnicas de intensidade modulada e a radioterapia de protões minimiza os danos nos tecidos saudáveis ao redor do tumor, aumentando a eficácia do tratamento e reduzindo os efeitos colaterais.
Uma das maiores revoluções na luta contra o cancro é a terapia de precisão e a imunoterapia. Estas abordagens atacam especificamente as células cancerígenas enquanto poupam as células saudáveis. A imunoterapia fortalece o sistema imunológico do doente para que possa combater o cancro de forma mais eficaz.
Ao longo do tratamento, a abordagem multidisciplinar está sempre presente e na fase de reabilitação esta estratégia não é excepção. Profissionais de saúde especializados em diferentes áreas ajudam os doentes a recuperar funções essenciais, como a fala e a deglutição, para melhorar a qualidade de vida no pós-tratamento.
A consciencialização sobre os factores de risco, a adopção de um estilo de vida saudável, as consultas de rotina, o diagnóstico precoce e a aposta em tratamentos avançados são passos vitais na jornada para vencer o cancro da cabeça e pescoço.
O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990