Palcos da semana: Cats, correntes e Nogueira numa salada
Né Barros estreia Distante, há música em Rescaldo, regressa o musical de Memory, chega Outra Bizarra Salada e a literatura vem em Correntes d’Escrita.
Quase cem ao Correntes
A moçambicana Paulina Chiziane, Prémio Camões 2021, está na lista de convocados para o Correntes d’Escritas. É uma lista vasta, composta por 98 autores de 15 nacionalidades. Além da autora de Niketche: Uma História de Poligamia, inclui Afonso Cruz, Afonso Reis Cabral, Capicua, Francisco Guita Jr., Geovani Martins, Gonçalo M. Tavares, Hélia Correia, Juan Gabriel Vásquez, Manuel Rui, Ondjaki, Onésimo Teotónio Almeida, Rosa Montero, Sérgio Godinho, Teolinda Gersão e Valter Hugo Mãe.
Nesta 24.ª edição marca também presença a memória de Ana Luísa Amaral, cujos versos se tornam temas para as dez mesas-redondas alinhadas. Ao longo do evento literário poveiro serão lançados 37 livros. Nas entrelinhas, há ainda espaço para cinema, teatro, concertos, formações, exposições, conversas, leituras, prémios, sessões em escolas e Correntes Itinerantes pelo concelho.
Outra vez salada
Será uma peça? Um concerto? Um recital delirante? Certo é que a personagem principal é a orquestra. É ela que suscita as interrogações (im)pertinentes de Bruno Nogueira e Rita Cabaço n’Outra Bizarra Salada. Acompanhados pelos músicos-tornados-actores da Metropolitana de Lisboa, dirigida por Cesário Costa, dão corpo a este híbrido nos meandros do absurdo, que Beatriz Batarda assina com base em textos de Karl Valentin.
Se a fórmula parece familiar, é porque já foi testada em 2011, na altura com Luísa Cruz no elenco. Chamava-se então Uma Bizarra Salada. Agora, a comédia musical ressurge temperada à luz de acontecimentos recentes, para “mais do que nunca, rir dos nossos preconceitos, afugentar a cultura do medo e da paranóia e mobilizar os afectos perdidos”, anunciam.
À distância de um corpo-máquina
Primeiro veio Io. Depois, chegou Neve. Distante vem fechar o ciclo. Em estreia no Rivoli, o espectáculo de Né Barros é o último tomo da trilogia que inaugurou em 2019 e que baptizou de Paisagens, Máquinas e Animais, um estudo prolongado, aprofundado e interligado de um tema que sempre lhe foi caro: a reflexão sobre o corpo dançante.
Se o primeiro abordava, nas palavras da coreógrafa, “o animal e o mitológico, o primitivo e o tecnológico”, e o segundo deixava emergir “o indivíduo como paisagem inteligente”, Distante convoca os códigos da esgrima enquanto combate tornado jogo, no sentido de explorar “um corpo-máquina” numa dimensão ética em que “os bailarinos são jogadores, convocam a técnica como forma evoluída de nos relacionarmos no corpo a corpo”.
A interpretação fica a cargo de Afonso Cunha, Beatriz Valentim, Bruno Senune e Vivien Ingrams. A música é de Alexandre Soares e a cenografia vem assinada pelo ateliê de arquitectura Fahr 021.3.
Um “inclassificável e desafiante” Rescaldo
O encontro inédito de Tiago Sousa e Joana de Sá é uma das “miscigenações inimaginadas e colaborações únicas” a fazer o Rescaldo, o festival que dá palco à música “mais inclassificável e desafiante” que Portugal produziu ultimamente, descreve a organização.
Nesta 13.ª edição, visita cinco locais de Lisboa (um a cada dia) com um cartaz também pautado por João Carreiro & Mariana Dionísio, Poly Vuduvum, Bezbog, Not Binary Code, Cândido Lima, Vasco Mendonça & Drumming GP, Menino da Mãe & Coro, Raw Forest, Carlos Bica e a junção de André Gonçalves, Violeta Azevedo, Maria da Rocha e César Burago, bem como um workshop de música concreta para crianças.
Aqui há Cats
É um dos mais famosos musicais do mundo e vem a Portugal rematar a rota internacional de celebração do 41.º aniversário, contado desde a estreia no West Wend londrino, de onde saltaria para a Broadway com o mesmo nível de sucesso. Estão agendadas 16 sessões entre Lisboa (praticamente esgotadas) e Porto.
Cats, o espectáculo que Andrew Lloyd Webber criou a partir da colecção de poemas de T.S. Elliot Old Possum’s Book of Practical Cats, traz nos bigodes sete prémios Tony e audiências que ultrapassam os 70 milhões de espectadores em dezenas de países, sem esquecer canções como Memory. Let the Memory Live Again é, aliás, o título desta digressão.