Cinco em cada 10 portugueses querem que a presença de brasileiros em Portugal diminua

Pesquisa realizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos aponta que a rejeição (51%) aos brasileiros entre os portugueses só é menor que a demonstrada (60,8%) a cidadãos do subcontinente indiano.

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Brasileiros são maioria entre os imigrantes que vivem em Portugal. Mas, para 51% dos portugueses, é preciso diminuir a presença dessa comunidade do país Vicente Nunes
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Cinco em cada 10 portugueses — 51% — dizem que a presença de brasileiros em Portugal deve diminuir, ainda que reconhecem a importância econômica dos imigrantes para o país. O dado faz parte de uma pesquisa realizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. A rejeição aos brasileiros só é menor do que a demonstrada (60,8%) aos cidadãos oriundos do subcontinente indiano (Índia, Paquistão, Nepal e Bangladesh). A comunidade brasileira é a maior entre os estrangeiros que residem em território luso, totalizando, oficialmente, 513 mil pessoas, segundo o Itamaraty.

Na avaliação da professora Joana Angélica, doutora em ciência da educação, os dados da pesquisa não surpreendem, pois ainda há uma incompreensão entre os portugueses sobre o papel estratégico que os estrangeiros têm para Portugal, sobretudo, os brasileiros. “Hoje, a economia portuguesa pararia sem os imigrantes”, afirma. Para ela, são os brasileiros, particularmente, que têm suprido o mercado de trabalho, que sofre com a escassez de mão de obra, porque parte da população lusa é idosa e os jovens, em maioria, preferem emigrar.

Esse desconhecimento, inclusive, é captado pela pesquisa: somente um terço dos entrevistados sabe que os imigrantes contribuem para a Segurança Social, a Previdência portuguesa. Em 2023, a totalidade dos estrangeiros injetou mais de 2,6 bilhões de euros nos cofres públicos, dos quais 1 bilhão de euros partiu dos trabalhadores brasileiros. Neste ano, a previsão é de que, apenas os cidadãos do Brasil que cruzaram o Atlântico para trabalhar em Portugal contribuam com 1,4 bilhão de euros para o sistema previdenciário luso.

O levantamento mostra, ainda, que 58,9% dos portugueses consideram os brasileiros um pouco diferente deles e 24,5%, muito diferentes. Mais: 37,7% dos entrevistados veem desvantagem na presença de brasileiros em Portugal. “Isso comprova, em boa parte, as dificuldades que os imigrantes têm de se inserirem na comunidade portuguesa. Há um certo temor dos cidadãos lusos de perderem a identidade cultural”, frisa Joana Angélica. Não por acaso, 68% consideram que a atual política migratória do país é permissiva e pouco regulada.

Força empresarial

Segundo o professor Marcelo de Souza Sobreira, da HB Escola de Negócios, não são apenas os trabalhadores brasileiros que têm ajudado a impulsionar a economia portuguesa — entre os estrangeiros, eles só não são maioria na agricultura e na construção civil. “Muitas empresas do Brasil têm se estabelecido em Portugal, gerando emprego e renda, além de agregar tecnologia em vários setores. “Esse impacto econômico é importantíssimo”, ressalta.

O caso mais emblemático, do lado empresarial, é o da Embraer, que detém 65% do capital da OGMA, empresa portuguesa do setor aeronáutico. Essa unidade, com sede em Alverca, será responsável por adequar os 12 aviões Super Tucano A-29 que o Governo luso comprou às exigências da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A cada aeronave vendida aos países da aliança militar, Portugal receberá 10 milhões de euros (R$ 63 milhões).

Sobreira reconhece, porém, que a informalidade do brasileiro no trato pessoal causa certo incômodo aos portugueses, naturalmente, mais fechados. “Isso também precisa ser compreendido pelos cidadãos que trocam o Brasil por Portugal. A cultura é diferente, portanto, é preciso respeitar. O importante é que haja uma convivência pacífica, pois todos têm a ganhar”, destaca o professor.

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