O eu que nós fomos

O que fica do que passa — e o que não. Crescemos e deixamos lá atrás muito do que fomos e queríamos ser. Neste livro, uma mulher conversa com a menina que foi.

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“Talvez o teu Eu só precise mim?” Vane Kosturanov
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“Eu tenho sucesso” (mulher). “Eu não sei medir o sucesso” (menina) Vane Kosturanov
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“Eu não sou como tu” (mulher). “Tu eras como eu” (menina) Vane Kosturanov
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Capa de Eu, editado pela Alfarroba Vane Kosturanov

Um diálogo entre uma mulher que se veste de preto e uma menina que se veste de vermelho. As falas de cada uma reproduzem as cores dos respectivos vestidos. “Eu sou grande”, diz a mulher. “Eu sou pequena”, diz a menina. “Eu sou muito ocupada” (mulher). “Eu brinco até cair para o lado” (menina).

No final destes curtos diálogos descritos em cada página, a menina aconselha a mulher, questionando-a sobre o que imagina fazer-lhe falta. Diz-lhe, por exemplo, “talvez o teu Eu precise de tempo livre?”, depois de esta afirmar: “Eu estou sempre com pressa” e “nunca ando sem relógio”.

A imagem da mulher a arrastar um imenso relógio, enquanto a menina observa as aves, reenvia-nos para a ideia de uns terem relógios e outros o tempo. “Eu adoro transformar os ponteiros do relógio num bando de pássaros”, dirá a menina.

Dois ângulos ou dois pontos de vista, como se preferir, para as vivências quotidianas de uma e outra. Afinal, a mesma.

Eu sei tudo” (mulher). “Eu estou sempre maravilhada com tudo” (menina). “Eu sou adulta e, portanto, inteligente” (mulher). “Para mim, cada novo dia é uma descoberta” (menina). Sugere a menina: “Talvez o teu Eu precise de se maravilhar um pouco?

Atmosfera intimista

A acompanhar estas reflexões e introspecções das personagens estão as ilustrações do pintor macedónio Vane Kosturanov. Despojadas, focam-se no essencial e revelam uma forte sensibilidade.

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“Eu estou sempre com pressa (...) Eu nunca ando sem relógio” (mulher). “Eu estou sempre aqui (...) Eu adoro transformar os ponteiros do relógio num bando de pássaros” (menina) Vane KOsturanov

No site do ilustrador, conta-se que é autodidacta e que, na área da pintura, as suas obras exploram “dois mundos — o consciente e o inconsciente, o mundo exterior e o interior”, sendo difícil distingui-los. Talvez essa prática e saber sejam responsáveis pela atmosfera intimista que consegue criar neste livro, tanto nas cores escolhidas quanto nas formas e expressões dos poucos elementos desenhados.

Vane Kosturanov tem livros para a infância em que assina também o texto. É o caso de A Menina e a Cidade (2020), igualmente editado em Portugal pela Alfarroba. Um destes títulos, The Girl and The Bear, foi seleccionado como um dos 200 melhores livros infantis do mundo em 2019 e está inscrito no catálogo White Ravens, emitido pela Biblioteca Internacional de Munique especializada em literatura para a infância e juventude de todo o mundo.

Eu agora tenho de ir” (mulher). “Eu apanho-te, já sabes” (menina). “Eu não tenho tempo para brincadeiras” (mulher). “Mas a brincadeira precisa de tempo?” (menina). A pequena, de novo: “Talvez o teu Eu só precise de mim?

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“Talvez o teu Eu precise de se maravilhar um pouco” Vane Kosturanov

A autora, Danijela Pavlek, nasceu em Zagreb (Croácia) e formou-se em Turismo, na Faculdade de Economia: “Porque sempre tive dificuldade em resistir a viajar pelo mundo. A minha cura para a alma, depois da escrita, são todos os tipos de viagem”, justifica.

Hoje, escreve blogues, livros de imagens personalizados, vários textos para sites e organiza “workshops e conferências que inspiram o empreendedorismo feminino”, informa-se no site da editora. Também aí se fica a saber que Danijela Pavlek recebeu o Prémio Kitica 2020, da Sociedade Croata de Escritores para Crianças e Jovens, por um conjunto de poemas intitulado Livro de Receitas para Pilotar na Infância.

Diz a autora: “Escrever para crianças é encontrar a magia. Escrevo poemas e rimas incansáveis porque estou a crescer com as minhas duas filhas novamente e quero ajudá‑las a lidar com isso mais facilmente.

Tem tudo para o conseguir. Assim saiba escutar o que tem para lhe dizer a menina que foi.

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