Empresa oferece empregos a brasileiros com salários de até 4 mil euros por mês

Trabalho consiste em vender energia e gás, ou seja, convencer os consumidores a trocar de fornecedor. Não há necessidade de autorização formal de residência em Portugal para se candidatar às vagas.

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Cláudia Ribeiro e o marido Helder Magalhães, donos da Brave Defender, cercados por funcionários, a maioria deles, brasileiros Arquivo pessoal
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O mercado de energia se tornou um filão a ser explorado por brasileiros que estão à procura de emprego em Portugal. A empresa Brave Defender, com sede em Vila Nova de Gaia, no Norte do país, está contratando funcionários para vender energia em suas lojas e de porta em porta. Como, em território luso, é permitido trocar de fornecedor de eletricidade e de gás de olho no menor preço, há um comércio aquecido, sobretudo porque as contas de luz e de gás estão caras. Qualquer economia na fatura seduz os consumidores. Segundo a diretora comercial da companhia, Cláudia Ribeiro, os salários variam entre 1,5 mil e 4 mil euros por mês (R$ 9,6 mil e R$ 25,6 mil). “Basta ter vontade de trabalhar”, afirma.

Os brasileiros têm tido preferência nas seleções realizadas pela Brave Defender. Por uma razão simples, diz Cláudia: “Eles não estão em Portugal para brincar, mas, sim, para trabalhar”. Ela acredita que, naturalmente, os brasileiros têm tino para a área comercial, sabem cativar os clientes, têm jogo de cintura. “O nosso trabalho requer foco, consistência, arrojo e, sobretudo, saber lidar com os muitos nãos que são dados até que um sim apareça”, ressalta. “Há, inclusive, muita gente que desiste no meio do caminho, porque não sabe lidar com os desafios de convencer alguém a mudar a conta de energia de uma empresa para outra”, acrescenta.

A Brave Defender representa a Golden Energy, que decidiu brigar com gigantes como a EDP, que, por muitos anos, teve o monopólio do fornecimento de eletricidade em Portugal. “Até 10 anos atrás, a EDP dominava o setor, mas, com a criação do mercado livre de energia, em que cada consumidor pode escolher seu fornecedor, uma oportunidade se abriu”, assinala a executiva.

Os “comercializadores” têm de sair a campo, batendo de porta em porta, fazendo o boca a boca, para conquistar os clientes. “Num país conservador como Portugal, com muitos idosos, o convencimento leva tempo, mas quem consegue fazer o trabalho direito recebe uma boa remuneração, maior, certamente, do que em restaurantes ou na construção civil”, frisa.

Sem burocracia

Nesse mercado competitivo, não há espaço para burocracia. E a regra vale, inclusive, para a contratação de funcionários. A executiva ressalta que os candidatos às vagas — há várias abertas — não precisam ter autorização de residência formal em Portugal. Basta ter o Número de Identificação Fiscal (NIF) e um comprovante de residência. Os selecionados, nos dois primeiros meses, recebem por meio dos recibos verdes, como prestadores de serviço.

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A Brave Defender oferece premiação anual aos melhores vendedores: no ano passado, um grupo de funcionários foi para o México Arquivo pessoal

Caso sejam efetivados, vão necessitar do Número de Identificação da Segurança Social (NISS), cujo acesso por estrangeiros anda um tanto restrito por orientação do Governo. “Quem optar por trabalhar com recibo verde, tem isenção de impostos se receber até 12,5 mil euros (R$ 80 mil) por ano. “Isso fica a critério de cada um”, reforça.

Cláudia destaca que, mesmo aqueles que nunca trabalharam na área comercial podem se arriscar a uma vaga na empresa dela e do marido, Helder Magalhães. “Várias pessoas chegaram até nós sem experiência e se tornaram excelentes vendedores”, afirma. Para os iniciantes, a empresa oferece formação de três dias. O horário de expediente é de oito horas diárias.

“Temos um plano de carreira que permite a ascensão profissional dentro da empresa, de vendedor para chefe de equipe, depois, para coordenador e, em seguida, para diretor de área de atuação. Há duas brasileiras na diretoria, Denise Aguiar e Paloma Langotano, que foram galgando postos, assim como os portugueses Diogo Rocha, Marta Gonçalves e Fábio Rodrigues”, exemplifica. “Tudo depende da disposição para o trabalho”, emenda.

A atuação da Brave Defender se estende do Norte ao Centro de Portugal. “Mas já fomos convidados para atuar na região de Lisboa, o que vai acontecer”, ressalta Cláudia, que, com o marido, fundou a empresa há 25 anos. Ela própria foi às ruas vender. “Começamos no setor de telecomunicações, fidelizando clientes. Mas esse mercado se esgotou, pois as próprias operadoras passaram a fazer esse trabalho. Agora, estamos focados nos mercados de energia renovável, gás e placas solares”, assinala. “Nosso objetivo é garantir que os consumidores tenham a energia e o gás mais baratos”, complementa.

Mudanças na lei

Com as recentes mudanças promovidas pela Assembleia da República na Lei de Estrangeiros (23/2007), os brasileiros ganham ainda mais força entre os estrangeiros para competir por empregos como os oferecidos pela Brave. Assim que as alterações forem sancionadas pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, cidadãos oriundos do Brasil e do Timor-Leste poderão entrar em Portugal como turistas e, no país, pedirem a autorização de residência. A expectativa de especialistas, como o jurista João Roseira, do escritório de advocacia Martins Castro, é de que tudo esteja sacramentado no primeiro trimestre de 2025.

Os demais cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) também poderão pedir residência quando estiverem em território luso. Porém, foi mantida a exigência de vistos de entrada no país. O Governo de Portugal escolheu aqueles que falam português como imigrantes preferênciais. Há uma demanda enorme por mão de obra em todo território luso, com vagas nos setores de energia, de turismo e da construção civil. Os empresários têm pressionado o primeiro-ministro, Luís Montenegro, para que seja ágil nas medidas que facilitem a entrada de trabalhadores estrangeiros no país, em especial, os brasileiros.

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