O melhor aniversário de sempre
Cansado da normalidade, Alberto pede um desejo no seu dia de anos. E não é que se realizou? A avó excêntrica tratou de tudo.
Um rapaz sente-se tolhido pela impossibilidade de alterar um dia-a-dia de normas e monotonia. Nem na data do seu aniversário se avista a possibilidade de algo ser de outra maneira.
“Posso ter uma pinhata-robô? Ou fazer um bolo? — Ah, isso é que não — disse a mãe. — Sabes como é o teu pai: detesta confusão.” Nova tentativa: “— E uns balões-caniche? Ou o jogo das cadeiras? — Ah, isso é que não — disse o pai. — Sabes como é a tua mãe: detesta barulho.”
No entanto, ao soprar as velas sobre uma torrada insípida, imagina-se na sua festa de anos com “uma fatia de bolo-de-três-chocolates-e-cereja”. Pede então um desejo.
Nisto, tocam à campainha, pondo em sobressalto os pais do miúdo. Alberto abre a porta e, frente a ele, reconhece a “senhora estranha” que já observara em álbuns de família.
É uma avó excêntrica, por assim dizer. Veste cores alegres, traz um capacete na mão e há-de levar o neto a passear de moto. Antes, ainda adivinha o seu desejo dos ingredientes do bolo de aniversário.
A avó Z reenvia-nos para a série da Superavozinha (para quem se recordar da velha escocesa que ganhou poderes extraordinários depois de ser atingida por um raio), que passou na RTP em 1986.
Mistura de real e imaginário
Esta é também uma super-heroína. De outra forma, como poderiam avó e neto subir ao Monte Encantado, brincar na Floresta da Meia-Noite, ver os bandos a caminho da Sibéria ou construir “um palácio com 24 quartos, seis fontes, uma floresta interior, um planetário e um chefe pasteleiro”? Tudo num só dia: “Coisitas de aniversário normalíssimas.”
Uma mistura de real e imaginário que não se descodifica nem esclarece. Mas as crianças não se incomodam com isso e nós também não.
Certo é que Alberto teve o aniversário melhor de sempre e a cor entrou na sua vida. Ou seja, a alegria.
Isto mesmo nos vai mostrando a paleta cromática do livro. Inicialmente, predomina o cinzento, mas, assim que Alberto abre a porta à avó, o mundo torna-se colorido. O próprio rapaz e o seu vestuário vão sendo contaminados pelo azul e laranja que Z trouxe consigo.
Uma história imaginativa, contida nas palavras e exuberante nas imagens. Denota sensibilidade aos desejos das crianças: atenção, dedicação, descoberta, festa.
Daniel Gray-Barnett é australiano, vive na Tasmânia e estudou Ciências Médicas na Universidade de Sydney. No seu site, explica, de forma divertida, que trocou “o microscópio por lápis quando percebeu que a ilustração tinha uma taxa de mortalidade de pacientes muito menor”. Trabalha também em publicidade.
Com este livro, foi distinguido com o prémio Children’s Book Council of Australia de melhor novo ilustrador.
A história termina com a festa de aniversário que todas as crianças merecem. O bolo pode até nem ser de chocolate, mas os amigos estarão lá. Uma alegria e uma mudança na vida de Alberto, que dali em diante se sentiu sempre especial.
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(Letra Pequena volta ao Ímpar a 13 de Agosto. Até lá, continuem as boas leituras em família.)