O Brincador, de Álvaro Magalhães, foi reeditado

Nova edição de colectânea de poemas assinala os 40 anos de vida literária do escritor, homenageado no festival Onomatopeia, em Valongo.

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Ilustração para o poema “Caçador de borboletas” Cátia Vidinhas
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Cátia Vidinhas
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“Um segundo é uma hora/ e uma hora é um segundo/ no relógio alucinado da paixão” Cátia Vidinhas
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Cátia Vidinhas
Desenho floral
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Ilustração para um dos poemas sobre “Aniversários” Cátia Vidinhas
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Capa do livro “O Brincador”, editado pela Porto Editora Cátia Vidinhas

O Brincador reúne vários poemas de Álvaro Magalhães que muitos guardarão na memória. Recordemos aqui um excerto do que dá título ao livro: “Quando for grande, não quero ser médico, engenheiro ou professor. Não quero trabalhar de manhã à noite, seja no que for. Quero brincar de manhã à noite, seja com o que for. Quando for grande, quero ser um brincador.”

Pode dizer-se que o autor é de facto um “brincador”, pois brinca incessantemente com as palavras e os seus sentidos. Já o faz há 40 anos, pelo que por estes dias é homenageado no festival de literatura infanto-juvenil Onomatopeia, em Valongo. Também para assinalar estas quatro décadas de escrita foi criado pela câmara da cidade um prémio literário ibérico anual com o seu nome, no valor de 5 mil euros.

Outra brincadeira: “Limpo palavras./ Recolho-as à noite, por todo o lado: a palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor./ Trato delas durante o dia/ enquanto sonho acordado./ A palavra solidão faz-me companhia.”

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Ilustração para o poema “O Brincador”, que dá título ao livro Cátia Vidinhas

O livro Limpa-Palavras e Outros Poemas integrou, em 2002, a Lista de Honra do Prémio Hans Christian Andersen, o “Nobel” da literatura para a infância. Hipopóptimos Uma história de amor ganhou o Grande Prémio Calouste Gulbenkian e O Senhor Pina recebeu, em 2014, a distinção da Sociedade Portuguesa de Autores como melhor livro infanto-juvenil publicado nesse ano.

Só mais esta brincadeira, em que se vê como joga com as palavras e as consegue virar do avesso, divertindo-nos e divertindo-se: “Os anões são tão pequeninos/ que não fazem anos, fazem aninhos./ Os gigantes são tão grandalhões/ que não fazem anos, fazem anões.”

Segundo o também poeta Manuel António Pina, “na sua literatura, a palavra nunca é um mero instrumento, mas antes um ser físico e semovente que o escritor limpa da usura quotidiana e restitui à sua milagrosa capacidade de, mais do que nomear, criar mundos e sentidos. Só os melhores escritores são capazes de fazer esse trabalho, e é justamente o facto de serem capazes de o fazer que faz deles grandes escritores”.

Álvaro Magalhães é um escritor que capta o poético que anda por aí e de que a maior parte de nós nem se dá conta. Depois, transmite-nos esse invisível numa linguagem sedutora e envolvente. É sempre poeta, mesmo quando não escreve poesia.

Nesta nova edição (Porto Editora), as suas palavras são ampliadas e enriquecidas com as ilustrações de Cátia Vidinhas, num trabalho que podemos classificar como poesia visual. Muito diferente da edição de 2005 (ASA), com pinturas de José de Guimarães, este é mais um belo objecto artístico criado a partir dos poemas do autor.

Final de O brincador: “Na minha sepultura, vão escrever: ‘Aqui jaz um brincador. Era um homem simples e dedicado, muito dado, que se levantava cedo todas as manhãs para ir brincar com as palavras’.”

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Ilustração para “A gata branca” Cátia Vidinhas

Custa a acreditar que Álvaro Magalhães já leve 40 anos de vida literária — ou se enganou nas contas ou o calendário avariou.

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