Já posso tirar a máscara, mas não quero!
Há um ditado popular brasileiro que diz: “cada um sabe onde o calo aperta”, ou seja, cada um de nós precisa ter o seu sentido interno de segurança controlado para poder dar este passo.
As circunstâncias da pandemia mudaram e chegou o momento de retirar as máscaras, com algumas ressalvas para locais e situações específicas. Este gesto, sentido por muitas pessoas como sinónimo de liberdade, é ainda vivido com insegurança por outras, sobretudo, aquelas que se encontram em condições de vulnerabilidade, quer seja física ou emocional.
No meu entender, nada mais natural. A ansiedade perante esta nova realidade “sem rede” é esperada, dado que vivemos dois anos sob a ameaça de um vírus que não olhou à idade, raça, religião ou estatuto social de ninguém e que matou muitas pessoas.
Tenho vindo a deparar-me em consulta com algumas pessoas, mais ou menos vulneráveis, que demonstram vontade de continuar a usar a máscara durante mais algum tempo e isso não representa problema desde que esta preocupação não seja excessiva nem prejudicial ao seu funcionamento diário, ou seja, desde que não deixem de sair e estar com pessoas, de trabalhar e socializar.
As máscaras representaram uma proteção que se revelou eficaz para reduzir a propagação do vírus, gerando também a sensação de escudo protetor. Porém, por diversos motivos, sobretudo para os mais novos que foram prejudicados em vários aspectos, não devem fazer parte da nossa vida diária indefinidamente.
É totalmente aceitável que aquelas pessoas com uma saúde mais frágil, que tiveram mais sintomas, que foram sujeitas a um internamento, que ficaram com sequelas ou que sofreram a perda de um ente querido precisem do seu próprio tempo para retirar a máscara. Há um ditado popular brasileiro que diz: “cada um sabe onde o calo aperta”, ou seja, cada um de nós precisa ter o seu sentido interno de segurança controlado para poder dar este passo. Assim, não devemos criticar, nem ridicularizar ninguém por optar por manter a máscara em locais onde já não é obrigatório usar, mas sim, aceitar e respeitar a decisão de cada um. Vale lembrar que, não podemos obrigar os outros a fazerem as mesmas escolhas que nós.
Vivemos em sociedade e o respeito de quem e por quem está à nossa volta é essencial para a harmonia e para sermos respeitados também. Quem optar por manter a máscara vai precisar gerir os receios que poderão surgir ao ver as outras pessoas sem máscara e quem optar por tirar a máscara deve seguir as normas nas situações onde a mesma ainda é obrigatória.
Como gerir a ansiedade?
Caso sinta ansiedade quando tira a máscara ou quando está com alguém sem máscara, comece por aceitar este sentimento como natural e recorra à respiração para acalmar. Inspire lenta e profundamente e sustenha a respiração por cinco segundos, depois expire lentamente pela boca enquanto conta até cinco. Pode praticar em silêncio e sem que ninguém perceba. Por outro lado, experimente massajar o lóbulo da sua orelha durante um minuto enquanto dá atenção apenas a esta sensação; não pense em mais nada, apenas sinta os seus dedos em contacto com a sua pele.
Também pode ser importante procurar uma forma de expressão de emoções que possa praticar de modo privado e que requer mais tempo, como por exemplo, desenhar, escrever, cantar uma música que expresse o que sente, dançar, praticar yoga ou meditação. Mesmo que nunca tenha feito nada disto, escolha uma forma de expressão emocional com a qual se sinta mais confortável de modo a mudar o seu estado interno, criando serenidade e confiança.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990