Chegou o Verão. Às 4h32 desta segunda-feira, arrancou uma época muitas vezes sinónima de férias, mergulhos e diversão. Contudo, é também uma das que mais pode afectar a nossa saúde, nomeadamente no que diz respeito ao maior órgão que possuímos: a pele. Assim, aliado ao entusiasmo dos tempos que se aproximam, deve-se também ter em conta a atenção redobrada e a prudência que a estação exige.
“O sol é bom”, sublinha o dermatologista João Maia Silva, em conversa com o PÚBLICO. “Nós temos de fazer uso da vida, fazer as actividades de que gostamos, ou mesmo trabalhar — há pessoas que trabalham no exterior”, continua. E “temos é de saber conviver com o sol, respeitá-lo”, explica. Assim, há cuidados particulares no comportamento que esta época evoca para que, “no final, não se tenha cancro da pele”.
Deste modo, num primeiro momento, o médico não deixa de relembrar as habituais práticas a implementar nesta altura: evitar longos períodos de exposição solar, principalmente nas horas de maior índice ultravioleta, entre as 11h e as 17h; a utilização de vestuário protector (chapéu de abas largas e camisola, por exemplo); a procura de sombra; e a utilização de protector solar (deve-se escolher uma protecção entre 30 e 50, aplicar 20 a 30 minutos antes de se iniciar a exposição e reaplicar de duas em duas horas). “É a combinação de tudo isto que confere maior protecção”, sublinha João Maia Silva.
No entanto, além dos cuidados regulares a ter nos meses mais quentes, o clínico chama ainda a atenção para alguns erros em que as pessoas incorrem e deita por terra certos mitos que observa na sua prática.
O erro do prolongamento da exposição solar
Há algo que, na perspectiva de João Maia Silva, acontece com alguma frequência: “A pessoa, por pensar que está a cumprir os cuidados necessários, ainda está mais ao sol.” Assim, destaca, o protector solar não corresponde a uma protecção total, permitindo a passagem de radiação ultravioleta, “e, portanto, só por si muitas vezes dá até uma falsa sensação de segurança”. Aliás, segundo o médico, por vezes aqueles que recorrem a protectores com factores de protecção mais elevados tendem a reaplicá-los menos vezes, um erro em que, sublinha, não se deve cair. “Ele degrada-se com a exposição ao sol e ao fim de algumas horas o índice de protecção reduz-se significativamente”, explica.
Assim, avalia o dermatologista, é importante “estimular comportamentos adequados, mas nunca [se deve] usar esses comportamentos para prolongar os tempos de exposição”. Um histórico de escaldões, informa, aumenta para o dobro o risco de cancro da pele, e na infância para o sêxtuplo.
O mito da carência de vitamina D no Verão
Um argumento comummente utilizado para não se aplicar protector solar, ora diariamente ora por algumas horas, é a importância da síntese de vitamina D, que ocorre, nomeadamente, além de por via da alimentação, através da exposição solar. Porém, como sublinha o médico, a carência de vitamina D deveria ser uma maior preocupação o resto do ano, particularmente no Inverno; não no Verão. “A pessoa no Verão, mais tarde ou mais cedo, acaba sempre por estar exposta à radiação ultravioleta”, esclarece, uma vez que, mesmo com o uso de protector solar, este não é, como referido, uma protecção a 100%. “Às vezes, as pessoas baralham-se aqui um bocadinho e colocam-se em situações de risco”, avalia.
Deste modo, é nos meses mais frios que se deve fazer um esforço por “sair ao exterior, dar uns passeios, fazer actividade desportiva ou simplesmente actividades lúdicas [fora de casa]”, para garantir o processamento desta vitamina, cujo risco de deficiência é superior nessa altura, alerta.
Diga não ao solário
É frequente ouvir-se justificações para recorrer ao solário como a produção de vitamina D, necessária ao organismo, ou para evitar escaldões ao chegar-se à praia já com a pele mais pigmentada. Contudo, frisa o clínico, “isso é um erro”, “é completamente desaconselhado”. “No limite”, explica, “a pessoa está a expor-se à radiação no solário e depois vai expor-se à radiação na praia, estando a somar”.
Assim, como esclarece o dermatologista, há um efeito cumulativo neste tipo de comportamentos. Deste modo, é fundamental não esquecer que “a pele tem memória”. “É como se fosse um crédito”, avalia. “Vamos gastando a nossa conta corrente e um dia chega o gestor de contas [para nos cobrar].” E, “passado um determinado nível acumulado de lesão, vão começar a aparecer os cancros de pele”.
Quanto ao ano vigente, João Maia Silva conjectura uma maior probabilidade de risco no que respeita à convivência com o sol, uma vez que “as pessoas estão ávidas de se expor ao sol e retomar a sua vida”. No entanto, alerta para o facto de irem fazê-lo “com a pele pouco endurecida, pois estiveram muito tempo sem o fazer”.
Texto editado por Carla B. Ribeiro