Foi em 2017 que Maria do Carmo Stilwell, ou Geeta Stilwell, como se apresenta, teve um esgotamento por causa do trabalho, ou, diria, pela forma como trabalhava. Na altura produtora de eventos no Boom Festival, festival de música e cultura em Idanha-a-Nova, chegava a passar 14 a 16 horas ao computador por uma exigência auto-imposta de um ritmo de trabalho intenso.
Geeta Stilwell já promovia passeios esporádicos na natureza a título individual mas foi depois de ter chegado a um ponto de exaustão que se obrigou a parar e a cuidar de si, decidindo dedicar-se totalmente à prática. Em 2018 surgiu então a Renature, empresa que criou com o sócio Luís Valente, com o objectivo de ensinar as pessoas a relaxar e a tomar conta delas, numa filosofia de “prevenir em vez de remediar”, explica.
O objectivo é “trazer as pessoas para a natureza e ter um momento de pausa”, explica a empresária, formada em Farmácia. “Evoluímos na natureza durante milhões de anos e mais recentemente é que começámos a concentrar-nos em cidades e a desligar-nos dela”, acrescenta, sublinhando o ritmo a que se trabalha, muito mais rápido e sem paragens. “É-nos sempre pedido mais, mais, mais, e não pensamos que o parar nos ajuda a reorganizar para podermos dar esse mais”, diz.
Aliado a isto está também uma preocupação com o meio ambiente. “A nossa saúde e a saúde do planeta foram os grandes dois impulsos para criar esta empresa e dedicar a minha vida a isto”, explica. Ao irem para o meio da natureza as pessoas estabelecem uma maior ligação com o ambiente, o que as levará em troca a procurar cuidar melhor dele, pois, como explica a fundadora, citando Jacques Cousteau, “as pessoas protegem aquilo que amam”.
A Renature dedica-se à prática de terapia da floresta, uma experiência de imersão na natureza que procura despertar os sentidos. Criada inicialmente para o público em geral, acrescenta agora ao seu leque programas também para empresas como actividades de criatividade, partilhas dinamizadas, palestras, e workshops, num total de 12 programas.
Para o público em geral existem quatro pacotes. O mais breve é um passeio guiado pela floresta de três horas, cujo valor pode ser 12,50 euros, se remoto, ou 17 euros, se presencial. Os primeiros ocorrem duas vezes por semana, e os outros duas vezes por mês. Depois, há programas de um dia, a 35 euros, que se realizam uma vez por mês; de dois, entre 200 e 350 euros, que decorrem três a quatro vezes por ano; e de cinco, entre 500 e 800 euros, duas a três vezes por ano.
Além das caminhadas pela natureza, a empresa tem ainda outras propostas. Entre elas, o clean eating, em que se faz uma alimentação com base no que cresce na natureza evitando comida processada e açúcares refinados; a embodiment, uma prática de consciência corporal com o objectivo de se estar presente no momento; e o desacelerar, tanto em termos físicos como emocionais, em que se procura parar para sentir.
Como não podia deixar de ser, os escritórios da Renature são a própria natureza. A empresa funciona em 14 florestas, bosques e parques naturais, entre os quais o Parque Natural de Sintra-Cascais; Parque Florestal de Monsanto, em Lisboa; Mata Nacional do Buçaco; Parque Natural da Arrábida; Parque Natural da Serra da Estrela; Parque Natural Peneda-Gerês; Serra do Caramulo; Serra da Lousã e Parque Natural de Montesinho.
A terapia da floresta é baseada na prática shinrin-yoku, literalmente “banhos de floresta”, nome pelo qual também ficou conhecida. A prática surgiu na década de 1980, no Japão, como resposta aos efeitos perniciosos do elevado uso tecnológico e crescentes níveis de stress que caracterizam o século XXI, sendo vista, neste país, como fundamental para os cuidados preventivos de saúde. A redução do stress, diminuição da tensão arterial e prevenção de doenças cardiovasculares são alguns dos benefícios a que está associada.
Esta é uma entre várias terapias ligadas à natureza que têm chegado a Portugal. Entre elas encontram-se também a talassoterapia, feita com recurso à água do mar, a psamoterapia, através do uso da areia, ou até mesmo a aromoterapia, já mais difundida em Portugal.
Texto editado por Bárbara Wong