Johnny Depp e Amber Heard conheceram-se em 2009, nas filmagens da longa-metragem O Diário a Rum, onde interpretavam um par romântico, assumiram o namoro em 2013, casaram dois anos depois e separaram-se em 2016. A relação atribulada é agora escrutinada num julgamento mediático, no Supremo Tribunal de Londres, que opõe o actor ao tablóide britânico The Sun, à editora News Group Newspapers e ao editor-executivo Dan Wooton. O processo por difamação, baseado num artigo publicado pelo jornal em 2018, que apelidava Depp de “agressor de mulheres”, tem tido como foco os alegados episódios de violência entre o ex-casal de actores.
Depois de Johnny Depp se ter separado de Vanessa Paradis, em 2012, com quem teve uma relação durante 14 anos e da qual resultaram os dois filhos do actor — Lily-Rose e Jack —, a estrela de Hollywood começou a aparecer em público com Amber Hear. O casamento aconteceu no cenário idílico da ilha de Depp nas Bahamas, em Fevereiro de 2015, e tudo parecia saído de um extravagante sonho: os noivos chegaram à cerimónia de hidroavião e trocaram votos com os pés na areia. Mas, pouco mais de um ano depois, em Maio de 2016, a actriz pediu o divórcio e avançou com uma ordem de restrição contra Depp, alegando que este foi violento no decorrer da relação.
Nas audiências desta semana do referido julgamento, que teve início a 7 de Julho, Heard referiu que os abusos passavam por “esmurrar, esbofetear, pontapear, dar cabeçadas e estrangular”, assim como empurrá-la de encontro a coisas, puxá-la pelos cabelos e atirá-la ao chão. Os ataques físicos e o abuso verbal “normalmente aconteciam quando estava bêbedo ou sob o efeito de drogas”, disse a actriz.
O processo de divórcio ficou concluído em Agosto de 2016, com Heard a receber sete milhões de dólares (cerca de seis milhões de euros), valor que doou ao Hospital Infantil de Los Angeles, onde é voluntária, e à União Americana das Liberdades Civis, que apoia vítimas de violência doméstica. Passados quase dois anos, o tablóide britânico publicou o artigo, onde repesca a história de violência entre o casal, o que deu origem ao actual processo judicial.
Acusações e contra-acusações em tribunal
Desde o primeiro dia que Depp nega qualquer agressão à ex-mulher, acusando-a de ser ela a agressora e dizendo mesmo que ela é “sociopata” e “calculista”, tendo inventado as histórias de violência. Antes de Heard começar a ser ouvida, na última segunda-feira, várias testemunhas de defesa do protagonista de Piratas das Caraíbas deram o seu parecer e corroboraram a versão dos factos do actor — que ele nunca foi violento com a ex-mulher ou com ninguém e quem dava início às discussões era Heard, que partia depois para agressão física.
Face às acusações, Heard afirmou que os empregados do ex-marido, que têm confirmado aquilo que Depp tem dito em tribunal, não viram como as discussões se desenrolaram. “Estas coisas aconteceram à porta fechada. Eu nunca fui violenta. Passados anos é que me tentei defender quando as coisas se agravaram e pensei que a minha vida estava em perigo.”
No segundo dia de depoimentos, a Mera de Aquaman admitiu ter dado um murro ao ex-marido, em Março de 2015, justificando que foi em defesa da sua irmã, Whitney, que se encontrava no topo de um lance de escadas no apartamento do casal. “Tinha ouvido dizer que [Depp] tinha empurrado uma ex-namorada, acho que foi a Kate Moss, por umas escadas abaixo. Pensei nisso naquele momento e reagi em defesa dela (Whitney).”
A advogada de Depp referiu de seguida que aquela era a primeira vez que Heard mencionava qualquer tipo de memórias sobre o alegado incidente com Kate Moss, ao que ela respondeu que nunca tinha alterado a sua história. Ainda assim, admitiu que era a primeira vez que se referia a esta situação.
A irmã mais nova de Amber, Whitney, prestou depoimento, na quinta-feira, reiterando que Heard, durante os quatro anos que esteve com Johnny Depp, por vezes aparecia com hematomas e queimaduras nos braços e marcas na cara. “Incrivelmente ciumento e obsessivo” — foi assim que Whitney descreveu o actor. “[Amber] estava constantemente a comprar telemóveis novos, porque ele os destruía.”
Whitney referiu que a irmã tinha sempre uma desculpa para as marcas no seu corpo. “Tinha batido nisto ou naquilo, tinha-se queimado a cozinhar ou a encaracolar o cabelo.” Mais tarde, Amber terá admitido à irmã que Depp a agredia, mas que naquela fase “culpava-se constantemente, dizia que devia ter feito alguma coisa para o chatear”.
Ciúmes e supostas traições
Em audiências passadas já tinham sido mencionadas associações de Heard a alegados amantes que teve durante o seu relacionamento com Depp, todos colegas de trabalho: James Franco, Eddie Redmayne, Leonardo DiCaprio ou Channing Tatum. A actriz afirma que era o ex-marido quem inventava estas histórias por ser ciumento. Outro dos nomes que tem sido referido neste julgamento é o do multimilionário norte-americano Elon Musk.
Heard nega qualquer envolvimento com o patrão da Tesla na altura em que ainda estava casada com Depp, ainda que o porteiro do complexo onde o ex-casal habitava em Los Angeles tenha testemunhado ter visto Musk a entrar diversas vezes no edifício, a partir de Março de 2015, numa altura em que Depp se encontrava a gravar na Austrália. Em mensagens lidas em tribunal, o multimilionário ofereceu segurança ininterrupta a Amber depois de alegadamente Depp ter atirado um telemóvel à cara da ex-mulher. Amber e Musk tiveram posteriormente um relacionamento intermitente, que terminou em 2018.
O julgamento tem final previsto para 27 de Julho, sabendo-se mais tarde o veredicto. Estima-se que este caso chegue aos milhões de libras só em honorários dos advogados.
Texto editado por Carla B. Ribeiro