Há vinte anos, uma consola chegou antes de tempo
Em 1998, a Sega Dreamcast foi a primeira consola com um modem interno de série para permitir o jogo online. E foi também a última grande aposta daquela empresa japonesa de videojogos.
Ter uma consola de videojogos no final dos anos 90 era como apoiar um dos três grandes do futebol nacional. As bancadas dividiam-se de forma desigual pela Sony (com a tremendamente popular PlayStation), a histórica Nintendo (então com a N64) e, por fim, a Sega (com a Saturn).
Esta última equipa tendia a “correr atrás do prejuízo”, prosseguindo a metáfora futebolística, mas era também a que, ciclicamente, surpreendia com produtos inovadores. Já o tinha feito com a consola portátil Game Gear (que ainda assim nunca fez sombra, em vendas, ao Game Boy), mas agora chegava a vez de apresentar a primeira consola de videojogos com funcionalidades de série que permitiam jogar online com pessoas em todo o mundo (não contando com experiências anteriores, de alcance mais limitado, da própria Sega e da Nintendo).
A Sega Dreamcast chegou ao mercado fez esta semana 20 anos. Para além de ter sido a primeira consola de 128-bit, trazia consigo inovações que fariam escola de certo modo, como um comando que permitia a inserção de um cartão de memória com um segundo ecrã. Mas, com um modem interno, eram sobretudo as funcionalidades online que faziam a diferença (apesar da indisponibilidade da maior parte dos serviços em Portugal e de todas as frustrações habituais no acesso à Internet em 1998): era agora possível falar com adversários do outro lado do ecrã, descarregar jogos, consultar o email e navegar num browser sem usar um computador.
Os jogos, esses, Sonic Adventure, Crazy Taxi, Shenmue, Samba de Amigo ou Phantasy Star Online, entre outros títulos altamente cotados, apresentavam-se como bons argumentos para a compra de uma consola cara. Mas nunca foram suficientes. Logo a seguir ao lançamento da Dreamcast, pairava já a sombra do lançamento iminente da PlayStation 2. Muitos jogadores preferiram guardar os seus escudos para a nova consola da Sony, e o mesmo fizeram numerosos estúdios de videojogos que nunca chegaram a editar para a Dreamcast (faltou sempre um FIFA, por exemplo).
Condenada por sucessivos erros estratégicos, a própria Sega seria forçada a apostar na concorrência. Em 2001, afogada em prejuízos, a empresa desligou a ficha da Dreamcast e de todo o seu negócio de consolas: deixou de fabricar máquinas e passou apenas a produzir jogos, incluindo para a PlayStation 2. Hoje a Sega é uma sombra do que foi. A Dreamcast, uma consola à frente do seu tempo, continuará a ser lembrada como o golo de honra num campeonato que fora quase sempre da Sony e da Nintendo (e mais tarde da Microsoft).