O PSD e as Forças Armadas
A continuarmos assim, os mal-entendidos, os conflitos e as inadequações manter-se-ão e todos sairemos a perder.
Não quer dizer que os outros Partidos e Governos tenham tido pela Instituição Militar (IM) qualquer posicionamento aceitável e, até, correcto – os graves eventos do período revolucionário não ajudaram nada e fizeram com que os militares, por uma razão ou por outra, saíssem mal consigo próprios e com todo o País.
E ainda não se conseguiu ultrapassar este âmbito.
Deste modo, os Partidos que passaram a ter assento na Assembleia da República, por razões que não vou abordar em detalhe, assumiram um comportamento perfeitamente esdrúxulo relativamente ao instrumento militar da Nação. (1)
Sobre o BE nem vale a pena comentar dada a irresponsabilidade e vacuidade com que trata o âmbito da Segurança e Defesa.
O PCP é o único que sabe o que anda a fazer e nunca hostiliza as FA; sabe que é um poder fáctico e fundamental na sua doutrina de tomada do Poder. Não dizendo mal, também não diz bem, pois estas não são as “suas” FA.(2) Têm uma atitude institucional; infiltra-se, monta uma rede de informações e tenta controlar/fomentar as estruturas associativas/sindicais.
O PS nunca soube lidar com fardas e não tem jeitinho nenhum para tratar destes assuntos, mas tisnado pela baixa política partidária lá vai fazendo o contorcionismo necessário para levar a água ao seu moinho que, também, ninguém sabe qual é.
O CDS e, sobretudo, o PSD são diferentes no sentido em que querem mostrar e impor o seu mando. E têm-se revelado acintosos e soberbos.
Mas, coitados, como têm demonstrado um conhecimento limitado e deturpado da Geopolítica e da Geoestratégica e percebem mal a importância da IM (e suas peculiaridades) na História do seu País, só têm feito asneiras.
A situação seria apenas lamentável se não fosse trágica para todos.
A ofensiva contra as FA e os militares começou com a publicação da LDNFA, em 1982.(3)
Foi seu principal autor, esse político de muitas caras e casacas que dá pelo nome de Freitas do Amaral.
A coisa foi posta em movimento uniformemente acelerado com o ministro F. Nogueira ao tempo do 1.º Governo do actual PR e “Comandante Supremo”, por inerência de funções.
Na altura, o jotinha-mor das “forças laranjas” dava pelo nome de Passos Coelho, o qual não descansou enquanto não acabou com o Serviço Militar Obrigatório – um erro estúpido, escusado e caro.
Muitos outros erros e opções maléficas foram feitas nos últimos 30 anos.
Lucubrámos uma teoria para explicar esta má relação que o PSD tem com a instituição maior que, para o bem e para o mal, se confunde com a História de Portugal desde o longínquo dia 24 de Junho de 1128.
O problema aparenta estar no seu “ADN”.
Por um lado, o PSD é o partido doutrinariamente menos consistente e estruturado. É uma espécie de amálgama onde cabe tudo.
Depois tem uma componente tecnocrática muito forte, uma característica que não liga nada bem com a IM, enformada que está, por Princípios, Valores, Cerimonial e Tradições (e onde a eficácia prefere à eficiência).
Mas, ainda – e, talvez sobretudo – porque o seu fundador, Doutor Sá Carneiro, nutria um especial antagonismo pelo então Conselho da Revolução (CR) e pelo “Pacto MFA-Partidos” (que estes aceitaram a contragosto).
Ora confundir o CR e o MFA, frutos de um “processo revolucionário em curso”, com a IM é um erro de apreciação e julgamento, grosseiro, que qualquer inteligência limitada entenderia.
Finalmente acreditamos que o que coroou esta “má vontade e preconceito” relativos às FA e aos militares tem a ver com a campanha eleitoral que levou à reeleição do General Eanes, como PR, em 7 de Dezembro de 1980, três dias após a morte trágica de Sá Carneiro, então Primeiro-Ministro.
Na altura, a Aliança Democrática (coligação PSD/CDS/PPM), que tinha maioria absoluta na Assembleia da República, não apoiou a candidatura de Eanes (as relações entre Eanes e Sá Carneiro não eram as melhores), lançando a candidatura de Soares Carneiro, pensando que o melhor candidato para vencer um general seria outro general.
Este último perdeu e não devia ter voltado à vida militar activa. Mas foi escolhido para CEMGFA e aceitou, não tendo as coisas corrido da melhor forma, por razões que não vou explicitar (4)
Finalmente, o General Eanes apoiou a criação do PRD, em 1985, o qual, no fundo, era um partido contra os outros partidos.
Ora tudo isto levou a que, aparentemente, passasse a ser confundido pelas cúpulas e “baronatos” do PSD (um resquício de feudalismo partidário à portuguesa) a luta política com as missões e a existência das FA. Outro erro grosseiro.
Tudo o atrás elencado entrou na corrente sanguínea do PSD e fez que entre este e a IM e os militares passasse a haver um passo trocado constante.
As sucessivas chefias militares também não parecem que alguma vez tenham colocado o problema neste patamar, não fazendo nada para o desmontar, contrariar e adequar.
A continuarmos assim, os mal-entendidos, os conflitos e as inadequações manter-se-ão e todos saíremos a perder.
Enfim, senso político e patriótico, em Portugal, precisa-se.
1) E em 40 anos nunca se fez um debate sobre isto!...
2) “O Partido comanda o fusil e nunca deixarão que o fusil comande o Partido”, Lenine.
3) Lei da Defesa Nacional e das FA.
4) O que ocasionou, inclusive, a que se tenha aprovado uma lei, algo discriminatória para os militares, que obriga a que qualquer militar que queira concorrer a um cargo político tenha de passar previamente à reserva.
Oficial piloto aviador