Jorge Miranda espera decisão sobre Orçamento ainda em Janeiro
Contribuição extraordinária para os pensionistas e a redução dos escalões do IRS são as normas que considera inconstitucionais.
Jorge Miranda falava no debate do Clube dos Pensadores, que sexta-feira à noite decorreu em Vila Nova de Gaia, e respondia a uma pergunta sobre a actuação do Presidente da República, Cavaco Silva, que suscitou junto do Tribunal Constitucional a fiscalização sucessiva do Orçamento do Estado para 2013 (OE2013).
“Acho que a intervenção dele [Presidente da República] deveria ter sido a montante, deveria ter sido aquando da apresentação da proposta de Orçamento na Assembleia [da República] procurando um consenso entre as forças políticas - particularmente do PS e dos partidos do Governo - para se chegar a uma solução que evitasse estes problemas”, considerou. Para o constitucionalista, “devia ter havido uma magistratura de influência nos bastidores, obrigando os partidos a negociar e a conversar”.
Jorge Miranda reiterou que preferiria “naturalmente” a “fiscalização preventiva e não a sucessiva”, considerando que “agora o que é importante é que o Tribunal Constitucional se pronuncie o mais rapidamente possível”.
“Na fiscalização preventiva há um prazo de 25 dias que, aliás, o Presidente da República pode encurtar. Na fiscalização sucessiva não há prazo, embora o próprio Tribunal Constitucional possa ele, atendendo à gravidade da matéria, dar prioridade a este tipo de questões. Eu espero que assim aconteça, que o Tribunal Constitucional decida ainda em Janeiro”, enfatizou.
O constitucionalista esclareceu ainda que “não é o Orçamento que é submetido ao tribunal, são apenas algumas das normas do orçamento” e que “mesmo que algumas dessas normas sejam declaradas inconstitucionais, o Orçamento no seu conjunto continua a vigorar”. “Se isso acontecer, o Parlamento terá de corrigir e eventualmente encontrar alternativas”, explicou.
Questionado sobre as normas que considera inconstitucionais, Jorge Miranda reiterou a contribuição extraordinária para os pensionistas e a redução dos escalões do IRS.
O constitucionalista disse ainda, sobre as pensões de reforma aos políticos que foram extintas em 2005, mas em que aqueles que já tinham o direito a essas pensões as mantiveram, “que seria de esperar que essas pessoas, neste momento de crise, por solidariedade nacional, renunciassem a essas pensões”.
Relativamente às subvenções estatais vitalícias deveriam ser congeladas, interrogado, Jorge Miranda foi peremptório: “se fosse necessário não me repugnaria. Fala-se tanto em estado de necessidade económico-financeira, não me repugnaria que o Estado fizesse uma lei congelando essas pensões anteriores a 2005”.