E não proibiram o Inglês!
“Acordistas” militantes e “marias-vão-com-as-outras” parecem, ao contrário, excitar-se cada vez mais com a “arcaica”, “obsoleta”, “não evoluída” língua de Alfred Tennyson.
Na verdade, não é novidade que a coerência não é um dos maiores atributos dos que usam e/ou apoiam (uma acção não significa necessariamente a outra) o AO90. Nem a noção de (auto) ridículo: indiferentes ao meu “conselho”, dado há mais de um ano, de “proibir o Inglês”, “acordistas” militantes e “marias-vão-com-as-outras” parecem, ao contrário, excitar-se cada vez mais com a “arcaica”, “obsoleta”, “não evoluída” língua de Alfred Tennyson, “infectada” com “ph’s”, consoantes duplas, vogais duplas e consoantes “mudas”, ao mesmo tempo que se conformam com a (falsa) “obrigatoriedade” do AO90.
São as três principais estações de televisão nacionais a fazerem, outra vez, as figuras mais tristes. Com (repetido) destaque maior, como não poderia deixar de ser, para a RTP. No suposto “serviço público de televisão” continua a existir um conceito peculiar de defesa da cultura portuguesa, tal como se pode comprovar em (títulos de) programas como: Cook Off, o mais “adequado”, sem dúvida, quando se trata de enaltecer as especialidades gastronómicas das diferentes regiões do nosso país; Fashion Film Factory; Portugal Got Talent (aparentemente, não há… talento suficiente na Avenida Marechal Gomes da Costa para traduzir para “Portugal Tem Talento”); RTP Running; What’s Up. Há também este anúncio (que podia visionar-se em Abril último) a um novo serviço: “A RTP Play está disponível de forma gratuita no seu smartphone e tablet. O acesso online a toda a televisão e rádio em dire(c)to e on demand. App RTP Play, disponível nas appstores habituais”. Houve ainda o convite aos tele-espe(c)tadores a que participassem no “open day” promovido pela estação aquando do Dia Internacional dos Arquivos, a 9 de Junho. Enfim, há igualmente o novo programa “As Palavras e os Atos”, que o seu autor e apresentador Carlos Daniel talvez tivesse feito melhor em intitular “The Words and the Deeds”; assim teria mesmo justificação a afirmação, que ele fez aquando da estreia, de que “aqui a liberdade tem uma palavra a dizer”; não se terá apercebido da ironia de uma determinada “palavra” ser, só por si, a negação da liberdade, e não apenas por aludir a “atar”…
Entretanto, também a SIC e a TVI continua(ra)m a dar o seu contributo à “esquizofrenia linguística”: a primeira com o Shark Tank; a segunda com o Cine Box e o The Money Drop, e também com o anúncio (mais moderado do que o da RTP) “TVI Player já disponível. Descarregue grátis a app”. Ainda na comunicação social, o Observador, cujas administração e dire(c)ção não parecem (é um… “feeling”) sentir especial apreço por José Sócrates, decidiu mesmo assim converter-se ao “socretinês”… mas tem um “publisher” e uma editora de “lifestyle”. Nas comunicações em geral, a Vodafone propõe novos produtos e serviços a “gamers e zappers de última geração”; porém, e “felizmente”, esta operadora avisa que o seu “site” está “em fase de transição para o Novo Acordo Ortográfico, pelo que poderá encontrar textos escritos de acordo com ambas as grafias”… sim, é um incómodo, pelo qual a operadora parece desculpar-se, ainda ter textos escritos em Português CorreCto. Passando para a energia, a EDP já não é “eléctrica” mas, aparentemente, e incongruentemente, mantém-se “electric”, a julgar pelo festival musical “Cool Jazz, Cool Energy”, que organiza… em Portugal.
Nenhum exemplo recente de “hipocrisia ortográfica”, no entanto, é tão risível como o da “Lisbon South Bay” — a, digamos, “designação (para promoção) internacional” da área formada pelos concelhos de Almada, Barreiro e Seixal. Cujas respectivas câmaras municipais — cujos sítios na Internet estão, todos, em “acordês” — são, todas, presididas por comunistas; que, está demonstrado, decidiram todos submeter-se simultaneamente a neofascistas (mais do tipo “Estado Novo de Getúlio” do que do tipo “Estado Novo de Salazar”, como expliquei recentemente) e ao “imperialismo cultural anglo-americano”. 40 anos depois do “Verão Quente”, a memória dos revolucionários operários da Margem Sul mereceria talvez outro — e melhor — tratamento.
Jornalista e escritor