Aristides de Sousa Mendes, uma homenagem

A Ordem dos Advogados (AO), em colaboração com a Fundação Aristides de Sousa Mendes (FASM), homenageará, a 10 de Dezembro, e na sua sede, Largo de São Domingos, em Lisboa, o Cônsul Aristides de Sousa Mendes. A homenagem insere-se na Comemoração do 65.º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

A compaixão é a lei principal, e talvez única, da existência de toda a Humanidade.

Dostoievski

O homem de acção considera o mundo externo como composto exclusivamente de matéria inerte – ou inerte em si mesma, como uma pedra sobre que passa ou que afasta do caminho; ou inerte como um ente humano que, porque não lhe pôde resistir, tanto faz que fosse homem como pedra, pois, como à pedra, ou se afastou ou se passou por cima.

Fernando Pessoa

O modelo de homem de acção, de homem prático, que antagoniza com o homem inquieto e preocupado com a condição humana, é determinante para a experiência que tragicamente vivemos, nos dias de hoje. Incapaz de sentir compaixão ou qualquer simpatia pelos que sofrem, e formatado em verdades ideológicas, ajustadas à medida da sua voracidade e da sua ambição insaciável, o homem de acção considera um insulto ser contrariado por quem tem convicções próprias e ousa exprimi-las.

Ouvimo-lo diariamente em discursos que descrevem como inevitável a continuação da austeridade (só para alguns, sublinhe-se), apontada como a única e salutar estratégia para se conseguir um futuro melhor. No uso de um vocabulário próprio, que em si encerra o sentimento de desprezo pelos outros, expressa a necessidade de "emagrecimento" em sectores vários, mas finge ignorar a escandalosa «engorda» dos seus protegidos.

Eis os "monstros" a que se referia o grande violinista Yehudi Menuhin (1916-1999), então preocupado (1999) com a indiferença da União Europeia pela Cultura. Na verdade, nunca tendo convivido com ela, nem assimilado tal alimento, os homens de acção nunca puderam educar a sua sensibilidade, sendo incapazes de servir, no sentido de criar um mundo mais justo em que os direitos humanos sejam na verdade respeitados. Sem dúvida que oficialmente fingem defendê-los, mas a sua acção desmente-os, indo no sentido inverso.

Celebrar a Declaração Universal dos Direitos do Homem, que ocorreu a 10 de Dezembro de 1948, na sequência da barbárie que constituiu a Segunda Guerra Mundial, e em cujos artigos se expõem os direitos e liberdades que «todos os seres humanos podem invocar, sem distinção alguma», é uma forma de reacender a memória e de reafirmar a imperiosa necessidade de agir para que não passem por cima da nossa consciência.

A Ordem dos Advogados (AO), em colaboração com a Fundação Aristides de Sousa Mendes (FASM), homenageará, a 10 de Dezembro, e na sua sede, Largo de São Domingos, em Lisboa, o Cônsul Aristides de Sousa Mendes. A homenagem insere-se na Comemoração do 65.º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, promovida pela Comissão dos Direitos Humanos da OA e contará com as intervenções da historiadora Irene Pimentel e do Bastonário da OA, António Marinho e Pinto. Na mesma data será inaugurada, pelas 17.30 horas, uma pequena exposição com documentos do espólio da AO, relativos ao Advogado e Cônsul de Bordéus, e alguns objectos pertença da FASM. Nela poder-se-ão ler cartas escritas por Aristides de Sousa Mendes à Ordem dos Advogados, num período dificílimo da sua vida, e conhecer a nobreza do seu carácter que seguramente constitui um exemplo para todos nós.

Vítima de homens de acção, cuja "atitude […] foi inconstitucional – anti-neutral e contrária aos sentimentos de humanidade e, portanto, insofismavelmente “contra a Nação”" (1), Aristides de Sousa Mendes assumiu sem rodeios que resistira e não obedecera à ordem recebida do Ministério dos Negócios Estrangeiros por não querer abdicar da sua consciência. “Na verdade, desobedeci, mas a minha desobediência não me desonra”, escreveu a 17 de Julho de 1941.

Professora

1) Carta dirigida por Aristides de Sousa Mendes ao Presidente da Assembleia Nacional e entregue em 10 de Dezembro de 1945
 

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