Sócrates acusa PSD de entregar pensões ao jogo da bolsa
Milhares de militantes estiveram ontem em Guimarães num comício onde o líder do PS criticou
o "conservadorismo" da esquerda
a O secretário-geral do PS, José Sócrates, comprometeu-se ontem, em Guimarães, perante milhares de militantes socialistas, a lutar por uma "segurança social pública que garanta o futuro das pensões" e assegurou que não "permitirá que o valor das pensões dos portugueses seja jogado na bolsa e entregue aos caprichos dos mercados financeiros, como defende o PSD". "Nós queremos uma segurança pública garantida pelo Estado como factor de coesão e de solidariedade para a sociedade portuguesa", declarou, sublinhando que foi esse o propósito que presidiu à reforma da segurança social que o Governo promoveu.
No comício que assinalou a rentrée política do PS, no Pavilhão Multiusos, em Guimarães, onde há quatro anos foi eleito secretário-geral do PS, José Sócrates falou para os militantes, deixando-lhes uma palavra de confiança. Afirmando que é na "segurança social que se vê melhor quem passa e quem não passa no teste da responsabilidade política", Sócrates fez o confronto com as propostas do PSD, marcando o que qualificou como "a fronteira entre a esquerda e a direita, uma diferença essencial no entendimento do papel do Estado e no futuro da protecção social".
Aclamado efusivamente ao longo dos 40 minutos que durou a sua intervenção, o líder socialista recuperou a proposta do PSD de reforma da segurança social, dizendo que "ela obrigaria a que cada português entregasse um terço das suas contribuições a fundos privados, que depois iriam ser aplicadas nas bolsas de valores".
"Parte substancial da pensão de cada um de nós passaria a depender do jogo da bolsa e, neste momento, está à vista de todos a incerteza e a instabilidade dos mercados financeiros", explicou. E passou ao ataque: "Como é que é possível que, face aos riscos evidentes dos mercados de capitais, o PSD mantenha uma proposta? Não será isso irresponsável, não será isso uma aventura perigosa?"
Apesar do confronto, Sócrates sabe que não vai ter resposta. Afirmou-o para mais uma vez zurzir a actual liderança do PSD e o silêncio que Manuela Ferreira Leite alimenta. "Parece que agora temos uma direita que não fala e que remédio temos senão respeitar esse voto de silêncio. Mas, já que não falam, então oiçam a nossa mensagem, que é simples e clara", atirou, arrancando uma salva de aplausos aos milhares de militantes.
Ainda agitando a bandeira social, o secretário-geral do PS disparou sobre os partidos da esquerda, acusando-os de "nem por uma única vez" terem reconhecido "o esforço sério, necessário, honesto e corajoso de reformas para garantir o futuro das políticas sociais".
"Eles falam do Estado mas, sempre que é necessário alguma mudança, estão sempre do lado errado da história. É uma esquerda imobilista, conservadora, que nada aprendeu com o passado e que nada tem a oferecer para o futuro do nosso país", afirmou.
Mas era o PSD que Sócrates queria voltar a colocar na mira. "Nós pusemos as contas públicas em ordem. Repito: nós pusemos as contas públicas em ordem. A verdade é que nós vencemos onde a direita teve um fracasso. Baixámos o défice, reduzimos a despesa e equilibrámos as contas públicas", afiançou, sublinhando que, "nestes três anos, o PS empenhou-se em recuperar a credibilidade do país e devolver a sustentabilidade ao Estado social". Foi ainda sobre Manuela Ferreira Leite que Sócrates assestou baterias ao dizer que a liderança do PS "não se esconde das bases do partido, nem anda a jogar às escondidas".
Com Carlos César a assumir o papel de convidado especial, o líder socialista elogiou a obra do presidente do governo açoriano e anunciou que se vai empenhar pessoalmente na campanha para as eleições regionais, marcadas para 19 de Outubro.
Todos os elogios de Sócrates foram para a ministra da Educação, a "área em que melhor se vê a força da mudança"