Mário Soares disponível para apoiar Carvalho da Silva nas presidenciais de 2016
Ex-presidente da República disse que Portugal tem que dar "um exemplo de resistência" contra as imposições da troika
O ex-presidente da República Mário Soares disponibilizou-se ontem para apoiar uma eventual candidatura do ex-secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, à Presidência da República, em 2016. "Terei muito prazer nisso", declarou, interpelado por um participante no VII Congresso de Sociologia que arrancou ontem no Porto.
A pergunta foi-lhe dirigida já depois de Mário Soares ter apelado à insubordinação nacional contra as imposições da troika. "A troika o que faz é ganhar o seu dinheirinho - e os seus membros ganham razoavelmente bem - e garantir que os mercados continuem a mandar nos Estados e que os Estados se transformem em protectorados", acusou, declarando-se perplexo pela forma como Portugal tem permitido que "uns tecnocratas que ganham rios de dinheiro decidam o seu futuro".
"Nós, portugueses, temos que dar o exemplo da resistência", invectivou, depois de se mostrar esperançado que "os ventos de mudança", com origem nas eleições gregas e francesas, possam livrar a Europa do abismo. "Está na hora de a senhora Merkel regressar à Alemanha de Leste e de se fazer esquecer", vaticinou, responsabilizando a chanceler alemã pelo iminente colapso do projecto europeu. "Se não mudarmos de paradigma, vamos entrar no abismo. E é assim tão difícil a Europa salvar-se? Bastaria que a senhora Merkel abdicasse do artigozinho no Tratado de Lisboa que diz que o Banco Central Europeu não pode fabricar moeda europeia. Não pode porquê?".
Antes, já Carvalho da Silva assinalara a importância de retomar o projecto político europeu, acusando a "direita neoliberal" de estar a transformar a crise numa oportunidade para aplicar "um programa não- sufragado de destruição do Estado social". Considerando que Portugal "está sob ocupação há um ano", Carvalho da Silva acusou Passos Coelho de uma governação "carregada de actos de cobardia". "As palavras de Passos Coelho de agradecimento aos portugueses pelos sacrifícios feitos são um exercício de malvadez. São parabéns pela passividade com que os portugueses se deixam explorar e enxovalhar", considerou, dizendo-se convencido de que, se nada mudar, o país bem pode esperar um segundo memorando até 2017.