Dicionário sobre o "estado da arte" dos estudos camonianos já está nas livrarias
Vítor Aguiar e Silva é o coordenador do Dicionário de Luís de Camões, que a Caminho acaba de lançar simultaneamente em edição portuguesa e brasileira
Com algum atraso relativamente à data inicialmente prevista, chegou ontem finalmente às livrarias a publicação que promete marcar a agenda editorial deste ano: o Dicionário de Luís de Camões (Caminho), com coordenação de Vítor Aguiar e Silva.
O livro, que tem mais de mil páginas e duas centenas de artigos assinados por 69 dos mais prestigiados camonistas nacionais e estrangeiros, vem preencher uma lacuna notória no panorama literário português, que já conhecia edições idênticas dedicadas a autores como Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós ou Fernando Pessoa (todas da Caminho), mas que até agora parecia esquecer o autor d"Os Lusíadas.
O novo dicionário actualiza a informação sobre a vida e obra de Camões, mas também sobre a sua contextualização histórica e literária e a evolução dos estudos através dos tempos, bem como a recepção dos textos camonianos em diferentes épocas e países.
A razão para o "atraso" na publicação de um dicionário sobre Camões (c. 1525-1580) fica a dever-se, diz Aguiar e Silva, à grandeza da sua obra, que classifica como "uma autêntica catedral". "Camões é um autor particularmente complexo, tanto na biografia como na obra. Por exemplo, em relação à sua produção lírica, há muitas dúvidas sobre aquilo que são textos autênticos ou o que é apócrifo", nota o coordenador da edição. E lembra que "não há nenhum outro escritor de língua portuguesa sobre quem se tenha escrito tanto, e logo desde o século XVI".
O objectivo do dicionário, cuja produção durou quase três anos, foi compulsar "uma informação rica e variada, mas simultaneamente rigorosa" sobre "o estado da arte" dos estudos camonianos, diz o coordenador, acrescentando que, para esse trabalho, pôde contar "com os melhores camonistas" nacionais e internacionais.
Vítor Aguiar e Silva destaca a forte participação dos especialistas brasileiros, facto a que atribui "um grande significado simbólico". Nota, de resto, que o Brasil sempre dispensou uma atenção especial ao autor d"Os Lusíadas. E lembra, a propósito, o trabalho de Júlio Afrânio Peixoto (1876-1947), o médico, professor e crítico literário brasileiro que esteve inclusivamente na origem da criação, em 1924, da cadeira de Estudos Camonianos na Universidade de Lisboa.
O Dicionário de Luís de Camões é editado simultaneamente em Portugal e no Brasil, com uma tiragem de quatro mil exemplares. A edição brasileira tem uma sobrecapa diferente - "que acho muito mais bonita do que a portuguesa", diz o coordenador -, e surge adaptada à grafia daquele país. Reconhecido contestatário do Acordo Ortográfico, Aguiar e Silva não se opôs a que a Caminho publicasse o dicionário seguindo a nova ortografia.
Livro custa 59,90 euros
A verdade é que, diz o coordenador, a passagem do texto pelo crivo do corrector ortográfico - "essa máquina diabólica que tem efeitos devastadores", como o classificou - deixou algumas marcas. Dá como exemplo as palavras "recepção" e "acta", que perderam o "p" e o "c", contrariando a ortografia tradicional de ambos os países. "Mas isso não afecta o essencial, que é este dicionário ter uma informação rica, variada e de excelente qualidade", acredita Aguiar e Silva.O Dicionário de Luís de Camões (o preço de capa é 59,90 euros) vai ter lançamento público no dia 10 de Dezembro, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, na presença de Aguiar e Silva e de alguns colaboradores. No dia 6, o coordenador e o editor do dicionário serão recebidos no Palácio de Belém pelo Presidente da República.
Vítor Aguiar e Silva (n. Penalva do Castelo, 1939) é professor universitário, escritor e investigador já com vasta bibliografia dedicada a Camões, nomeadamente com os títulos Camões, Labirintos e Fascínios (1994), A Lira Dourada e a Tuba Canora: Novas Ensaios Camonianos (2008) e Jorge de Sena e Camões - Trinta anos de amor e melancolia (2009).