Breve retrato da crise em números mostra adaptação de hábitos de consumo

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O portal Conhecer a Crise tem para já 125 indicadores disponíveis paulo pimenta

Fundação que lançou a Pordata criou site para acompanhar a evolução recente dos indicadores económicos em Portugal

A crise está a levar os portugueses a adaptarem alguns hábitos de consumo à medida do orçamento. As despesas com carne e peixe frescos abrandaram em 2011, os gastos em bebidas baixaram e o dinheiro desembolsado em cabeleireiros ou idas a restaurantes diminuiu. Mas a percepção que o país parece ter das dificuldades é por vezes extremada - por excesso ou por defeito - e nem sempre confirmada pelas estatísticas.

Para contrariar esta percepção da realidade, que o sociólogo António Barreto diz ser tanto indiferente quanto exagerada, a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) lançou ontem uma nova base de dados na Internet que reúne, para já, 125 indicadores com as estatísticas mais recentes. O nome do projecto diz quase tudo. Chama-se Conhecer a Crise e o objectivo é esse mesmo: fazer um retrato do país com ênfase nos últimos dados disponíveis.

Como tem variado a despesa dos consumidores em combustível? Quantas pessoas não pagam os empréstimos? Quantas recebem rendimento social de inserção? Como estão a evoluir as receitas e as despesas do Estado? A informação é actualizada à medida que são conhecidos os números oficiais ou a partir da recolha estatística de empresas da área económica, do Banco Alimentar ou de inquéritos de opinião.

A grande diferença em relação à base estatística Pordata, site lançado pela mesma fundação há dois anos, é que este não vive só de registos factuais, apresenta séries estatísticas mais curtas (dados trimestrais) e centra os dados a partir de 2006, ou seja, desde o período mais próximo do início da crise.

Barreto, que ontem apresentou o projecto da FFMS, a que preside, não tem dúvidas em afirmar que "a crise é muito fértil em rumor urbano e em boato". Foi para as pessoas passarem a acompanhar os números ao ritmo da crise que o site começou a ser programado no final do Verão. Mas também para combater essa ideia de "alarme público".

"Já vi em órgãos de imprensa que o número de mortos estava a aumentar por causa [da subida] das taxas moderadoras. Não há nenhuma certeza disso", observou, sublinhando ser "indispensável saber" se tal resulta de "uma ineficiência do sistema [ou] se é um acontecimento demográfico, como tantas vezes acontece, que não tem uma explicação imediata".

Os dados indirectos indiciam, segundo diz, que o número de novos pobres está a aumentar. Mas não há evidência estatística suficiente para dizer que "a tendência de alguma estagnação [económica] e de carência" vai durar "mais seis meses, um ano ou vai acabar já".

A resposta não vem nas folhas das estatísticas e não é essa a pretensão do site, assumiu. "Não queremos que a liberdade se constitua com base no rumor e no boato", enfatizou, para lembrar que não se sabe "ainda hoje, apesar do excesso [de informação], quais são as origens da crise".

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