Crioestaminal quer ficar com amostras do banco público de sangue do cordão umbilical
Administrador de empresa privada alega que é necessário encontrar uma solução para "racionalizar recursos"
É uma proposta polémica. O administrador executivo da Crioestaminal, empresa detentora do primeiro banco privado de sangue de cordão umbilical a abrir em Portugal, propõe-se ajudar a encontrar com o Governo uma forma de viabilizar o banco público que assegura a criopreservação das células estaminais usadas no tratamento de muitas doenças do foro hematológico no país, o Lusocord.
Hoje, a ex-directora do banco público, Helena Alves, vai ser ouvida na Comissão Parlamentar da Saúde, depois de ter sido afastada do cargo no início de Setembro.
O administrador da Crioestaminal, Miguel Marti, acredita que há a possibilidade de encontrar uma solução de racionalização de recursos. "Mas é preciso que o Governo esclareça o que quer fazer." A solução que propõe, diz, não tem custos para o Estado, porque a empresa dispõe-se a fornecer um serviço gratuito de recolha, processamento e armazenamento deste material. Miguel Marti lembra que em vários países, como os EUA, existem bancos de sangue de cordão umbilical "híbridos". São bancos que simultaneamente fazem o armazenamento deste material para utilização própria (pagando os casais um valor pelo serviço), ou onde é possível doar o sangue do cordão umbilical para utilização de terceiros, a nível internacional. "É preciso racionalizar recursos", diz Marti.
Criado há cerca de três anos, o banco público de sangue do cordão umbilical (localizado no Centro de Histocompatibilidade do Porto) viu as colheitas suspensas durante 60 a 90 dias, no início de Setembro. Nessa altura, foi anunciado que ia ser alvo de uma inspecção por alegadas irregularidades de gestão, financeiras e processuais. O presidente do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (organismo em que o Lusocord foi entretanto integrado) garantiu que não há intenção de encerrar o banco público.
Este ano, a falta de financiamento por parte do Governo (inicialmente foi prometido um orçamento de 2 milhões de euros, dos quais apenas terão sido atribuídos 500 mil euros) impediu a contratação de técnicos para analisar a qualidade das amostras doadas e introduzi-las na base de dados internacionais. Serão as entidades que estão a fazer a inspecção a decidir o destino das oito mil amostras criopreservadas no centro. Durante os três anos de funcionamento, o Lusocord recebeu mais de 28.500 doações.
O Ministério da Saúde, MS, afirmou ao PÚBLICO que esta questão "será resolvida numa lógica pública". "Mas estamos sempre dispostos a dialogar com todos. O que está fora de questão, em qualquer circunstância, será a coexistência de uma lógica de criopreservação privada de células de cordão para uso do próprio com a de um banco público para uso generalizado", diz o MS, por escrito.