Pedro Filipe Soares exclui entendimentos de Governo com PS

Ao apresentar a sua candidatura à liderança do BE, o líder parlamentar acredita que se vai manter à frente da bancada, apesar de criticar a direcção do partido.

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Pedro Filipe Soares na apresentação da candidatura Nuno Ferreira Santos

Na apresentação da moção de candidatura à liderança do BE, Pedro Filipe Soares criticou alguns “equívocos” da actual direcção. Um deles foi a disponibilidade para um entendimento sobre um governo com PS, expressa no ano passado, na crise política, durante as negociações entre os partidos.

“O Bloco de Esquerda nasceu com a alternância sem alternativa. Não foi isso que fizemos no Verão passado, quando batemos à porta do PS para um governo de Esquerda sem condições. Mostra-se como houve um desfasamento do Bloco face à sua identidade e combatividade”, afirmou Pedro Filipe Soares, em conferência de imprensa, na sede do BE, em Lisboa. “[O BE] Não fazia parte do xadrez partidário, sempre que se colocou ao lado do xadrez político foi submisso a outras agendas que não a nossa”, acrescentou.

Quanto entendimentos com António Costa, o recém-eleito candidato a primeiro-ministro, o líder da bancada bloquista sustentou que “não houve nenhuma viragem política no PS” e que os socialistas “continuam a acreditar no Tratado Orçamental” que “não é bom para o país”.  

Pedro Filipe Soares, que é o primeiro subscritor da moção “Bloco plural, factor de viragem”, com 850 assinaturas, acredita que vai poder manter-se como líder parlamentar. “Não há delitos de opinião, não podem existir, as opiniões foram sempre valorizadas e não demonizadas. O lugar está sempre à disposição, mas não vejo incompatibilidade de apresentar uma moção política, no tempo certo. Ninguém deve ser menorizado pela sua opinião”, afirmou, em resposta à insistência dos jornalistas sobre como é que compatibiliza o lugar de líder da bancada com as críticas apontadas aos coordenadores do BE.

Sobre o modelo da coordenação bicéfala, o líder da bancada bloquista reconhece que a solução adoptada pelo partido há dois anos não foi compreendida. “Não foi aceite pela população, não compreenderam. A luta pela paridade é um dos objectivos do BE, mas não se esgota na sua coordenação”, afirmou, referindo que a paridade continua a ser uma regra para os restantes órgãos do partido.

Durante a apresentação da moção, Pedro Filipe Soares esteve ao lado de Zuraida Soares, deputada na Assembleia Legislativa dos Açores, de Francisco Alves, membro do Conselho nacional da CGTP e de Sara Schuh, trabalhadora precária. Todos militantes do BE.

Natural de Castelo de Paiva, Aveiro, o líder da bancada bloquista (função que desempenha desde 2012) é licenciado em Matemática Aplicada e tem pós-gradução em Detecção Remota. 

Bicefalismo em causa
O avanço do líder parlamentar acontece num momento em que a actual direcção está a repensar o modelo de liderança bicéfala de João Semedo e Catarina Martins, mas em que não está em causa a manutenção de ambos à frente do BE. O que pode acontecer é virem a terem funções diferenciadas, mas a moção subscrita pelos dois bloquistas não explicita a repartição de tarefas.

O texto, com o título Revolta Cidadã, reconhece erros e desastres eleitorais. E propõe que a Mesa Nacional – órgão máximo entre congressos – possa convocar referendos internos sobre apoios para as presidenciais e coligações eleitorais.

No triângulo das tendências que esteve na origem do Bloco, Pedro Filipe Soares representa a Esquerda Alternativa (ex-UDP), protagonizada por Luís Fazenda, o que pode ser visto como uma tentativa de avanço desta tendência para a liderança do partido.

Por seu lado, João Semedo vinha da tendência Forum Manifesto e tinha aderido, tal como Catarina Martins (ex-PSR), à corrente Socialismo, criada pelo ex-líder Francisco Louçã, como tentativa de ultrapassar, com uma linha única, os três movimentos originais do BE.

O mal-estar na direcção bloquista já dura há algumas semanas. A Esquerda Alternativa já tinha manifestado publicamente que não subscreveria a moção ao congresso assinada pelos coordenadores e outros dirigentes do partido, como a eurodeputada Marisa Matias, Jorge Costa ou José Manuel Pureza. 

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