Bloco questiona ministro sobre cerimónia fúnebre da Marinha a Alpoim Calvão

Cinzas do comandante Alpoim Calvão foram lançadas ao mar esta quinta-feira a partir da fragata Corte-Real, na presença de familiares, do CEMA e de outros militares.

A pergunta dirigida ao ministro José Pedro Aguiar-Branco é assinada pela deputada Mariana Aiveca, na qual se refere que Alpoim Calvão é uma figura "controversa da História recente do país", tendo liderado o Movimento Democrático de Libertação de Portugal - "grupo bombista responsável por ataques terroristas contra pessoas e sedes partidárias", descreve a parlamentar.

"Não se percebe a que propósito, ou com recurso a que figura institucional, a Marinha portuguesa procedeu a esta cerimónia de homenagem", em que as cinzas do antigo comandante foram lançadas ao mar, assinala Mariana Aiveca. Caso o ministro da Defesa tenha tomado conhecimento deste ato fúnebre, o Bloco de Esquerda quer saber se anuiu em relação à sua realização.

"Sabendo-se que a Constituição determina que os elementos das Forças Armadas não podem aproveitar-se da sua arma, do seu posto ou da sua função para qualquer intervenção política, como é que o ministro da Defesa encara esta tomada de posição da Marinha Portuguesa sobre uma figura cujos contornos políticos são tão controversos e divisores na sociedade portuguesa?", pergunta ainda Mariana Aiveca.

A cerimónia realizada esta quinta-feira a bordo do navio Corte-Real contou com a presença de familiares, de militares e do Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA). Nestas ocasiões, as cinzes costumam ser lançadas ao mar na zona do farol do Bugio. Com esta cerimónia, a Marinha cumpriu “o último desejo expresso do comandante Alpoim Calvão de poder voltar ao mar e honrar, desta forma, a memória de um herói militar que muito dignificou as Forças Armadas e o país”, anunciou em comunicado aquele ramo das Forças Armadas.

O comandante Guilherme Alpoim Calvão, o operacional que comandou a operação Mar Verde, a invasão da Guiné-Conacri no final de 1970 para resgatar prisioneiros de guerra portugueses, morreu no final de Setembro e nas cerimónias fúnebres na altura foi homenageado pelos fuzileiros.

Fonte da Marinha disse ao PÚBLICO que o CEMA tem competência e autonomia para decidir sobre este tipo de cerimónias fúnebres a bordo de meios da Marinha, que pode ser pedido pelos cidadãos e não apenas por militares. E especificou que o navio utilizado estava de prontidão para tarefas de busca e salvamento, não tendo sido preparada especialmente para a cerimónia.

Às críticas à utilização de meios públicos, a Marinha respondeu esta manhã com um comunicado em que “reafirma todo o seu empenho” na distinção ao antigo comandante e lhe tece rasgados elogios, classificando-o como um “líder nato, um patriota”, um “homem com H grande” que no campo de batalha “era respeitado pelos seus homens e muito mais pelo inimigo”.