“Aquelas esganiçadas”? Bloco de Esquerda quer que Porto Canal peça desculpa
As declarações de Pedro Arroja “levantam perplexidade pelo carácter ofensivo e misógino”, defende BE em carta enviada ao canal televisivo.
Na terça-feira, no dia em que o Governo de direita foi derrubado na Assembleia da República, o comentador Pedro Arroja chamou às “meninas” do Bloco de Esquerda do Parlamento “esganiçadas” e disse que “não queria” nenhuma delas “nem dada”. Embora a certa altura tenha dito: “Aqui entre nós que ninguém nos ouve”, fê-lo no jornal diário do Porto Canal. O BE já reagiu: escreveu uma carta a Júlio Magalhães na qual pede à direcção daquele canal que emita “de imediato um pedido de desculpas formal” pela situação.
Pedro Arroja teceu várias considerações. Alguns exemplos (visíveis no vídeo desta notícia a partir do minuto 7,50s): “Aquelas esganiçadas sempre contra alguém ou contra alguma coisa.” Afirmou ainda: “Não queria nenhuma daquelas mulheres, nem dada.” E até explicou porquê: “Não conseguiria com elas, com uma delas, com uma mulher assim, construir uma comunidade, uma família. Elas estão sempre contra alguém ou contra alguma coisa. E lá em casa só havia dois tipos de pessoas, ou os filhos, ou o marido.”
Ora, assim, continuou Pedro Arroja, “o mais provável é que elas se pusessem contra o marido”: “Todas as noites, todos os dias, durante o dia no Parlamento, à noite com o marido: ‘Porque tu é que tens a culpa disto!’"
A consequência, “com o tempo”, seria pô-lo “fora de casa”. E Arroja saía: “E estou a imaginar o sentimento de alívio que sentiria nesse dia. 'Estou livre! Estou livre dela!'”
Não obstante, escreve o Bloco na carta enviada ao Porto Canal, “o carácter lúdico da prestação do dr. Pedro Arroja”, as declarações “levantam perplexidade pelo carácter ofensivo e misógino com que se referiu a deputadas do Bloco de Esquerda”.
E citam a Lei da Televisão e dos Serviços Audiovisuais a Pedido, na qual se ressalva o respeito pela “dignidade” da pessoa e se considera que os serviços de programas televisivos e os serviços audiovisuais “não podem, através dos elementos de programação que difundam, incitar ao ódio racial, religioso, político ou gerado pela cor, origem étnica ou nacional, pelo sexo, pela orientação sexual ou pela deficiência”.
Se hoje em dia já é “absolutamente consensual que o incitamento ao ódio racial ou religioso é inaceitável”, frisa o Bloco, “o mesmo não é adquirido no que respeita ao sexo e ao género”.
Os bloquistas admitem que, uma vez que aquele jornal é emitido em directo, era “impossível” prever ou “limitar” a opinião de Pedro Arroja. Apesar disso, defendem que compete “à direcção do Porto Canal emitir de imediato um pedido de desculpas formal e estabelecer um distanciamento inequívoco relativamente” àquelas afirmações.
“É de relembrar que a desigualdade de género mata. Mais de 40 mulheres são assassinadas pelo seu companheiro e ex-companheiro todos os anos em Portugal, um flagelo que não merece qualquer complacência ou aparente inocência em comentários públicos. Por esta razão o Bloco de Esquerda declara o seu repúdio pelas declarações do dr. Pedro Arroja e pelo não distanciamento da direcção do Porto Canal”, lê-se na carta assinada pelo deputado Jorge Campos.
Entretanto, o Porto Canal emitiu um comunicado em que se “distancia por completo das declarações proferidas pelo Sr. Dr. Pedro Arroja"
“O Jornal Diário, onde se insere um espaço de opinião é emitido em direto, sendo tal facto reconhecido pelo Bloco de Esquerda no seu comunicado. O Porto Canal rege a sua linha editorial por princípios de pluralidade e equidade abrindo espaço para comentadores de todos os quadrantes políticos ou religiosos”, diz ainda o texto
“Tal como acontece em todos os órgãos de Comunicação Social as declarações ou comentários produzidos em espaços de opinião vinculam apenas quem os profere e nunca o Porto Canal ou a sua linha editorial”, acrescenta.