PS e PSD de Alcoutim entram em guerra para mandar nos bombeiros
Acto eleitoral conturbado, com o presidente da câmara e o presidente da assembleia municipal, do PS, a imitarem o que fez o PSD durante duas dezenas de anos.
A Associação Humanitária possui, a seu cargo, um lar, dois centros de dia e um infantário. Com 90 trabalhadores ao seu serviço, é a segunda empregadora do concelho, logo a seguir ao município. O antigo presidente da Câmara, Francisco Amaral, PSD, era o vice-presidente da direcção anterior. O ex-vice-presidente do executivo do município, José Carlos Pereira, ocupava o cargo de presidente da Mesa da Assembleia. Com as últimas eleições autárquicas, quem passa a mandar na câmara é o Partido Socialista. Logo, na lógica partidária, seguiu-se a tentativa de controlo das instituições de solidariedade social, à semelhança do que fez o PSD durante duas dezenas de anos.
O actual presidente da câmara, Ogevaldo Gomes, socialista, apresentou-se na lista A como candidato a presidente da Mesa da Assembleia, e o presidente da Assembleia Municipal, António Amorim, propôs-se para vice-presidente da direcção, enquanto o presidente da junta de freguesia, João Simões, avançou para a candidatura a presidente do Conselho Fiscal. Só que o processo encalhou em alegadas irregularidades. Quem acabou por continuar a mandar nos bombeiros foram indivíduos ligados ao PSD, tenho como presidente da direcção Francisco Brás, tido como simpatizante do Bloco de Esquerda. A lista única obteve 41 votos favoráveis, 2 brancos e um nulo. A instituição tem 206 sócios.
“Assalto ao poder”
Depois das duas listas candidatas às eleições terem sido afixadas para consulta pública, numa aparente normalidade, deu-se um volte-face. Uma Assembleia Geral realizada no dia 9 de Janeiro chegou à conclusão que haveria irregularidades de ambos os lados. A lista A (PS) tinha um subscritor que não tinha o pagamento das quotas em dia. Por outro lado, à lista B (PSD) faltava-lhe dois elementos para completar as vagas dos órgãos. Nessa noite, recorda Francisco Brás, “houve como que um assalto ao poder”. Os adversários, sublinha, depois do presidente da Mesa ter abandonado os trabalhos ”por achar que não tinha condições de prosseguir”, constituíram uma nova “mesa” e aprovaram uma moção em que consideraram a sua lista A (PS) como sendo a “ única que reunia as condições para ir as eleições”. Em declarações ao PÚBLICO, Francisco Xavier justificou: “A falta de pagamento das quotas é irrelevante, já a falta de elementos nas listas viola o que está escrito nos estatutos”. A seguir, José Carlos Pereira, paga na mesma moeda e decide convocar eleições só com a lista que apoia.
Francisco Xavier recusa atribuir a este conflito qualquer conotação partidária. “O presidente da câmara sempre esteve afastado, não se envolveu politicamente”, sublinha. Por outro lado, Francisco Brás lamenta o sucedido. Ontem, Xavier foi ao Lar, mas não votou. “Só lá fui apresentar um requerimento, fazendo questão que mo recebessem”, disse. Francisco Brás fez outra leitura, considerando que houve “ofensa ao bom nome” das pessoas envolvidas, quando Xavier apelidou de “palhaçada” o acto eleitoral. A GNR foi chamada ao local para tomar “conta da ocorrência”. O segundo capítulo da história segue com o pedido, em Tribunal, da impugnação do resultado das eleições.