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A vida em quarentena: 14% dos portugueses passaram duas semanas sem sair de casa

Fechados em casa e com as despensas cheias, os portugueses ocupam-se com as lides domésticas e a ver notícias, segundo um inquérito da Universidade Católica para o PÚBLICO e a RTP. Mais do que das máscaras, queixam-se da falta de gel desinfectante e, em menor proporção, de alguns bens alimentares.

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As filas à porta do supermercado fazem parte do "novo normal" dos portugueses Paulo Pimenta (arquivo)

Com as despensas cheias de mantimentos, 14% dos portugueses passaram duas semanas sem pôr os pés fora da porta uma única vez. Entre os idosos com 65 ou mais anos de idade, a percentagem dos que não transpuseram a porta de entrada sobe para o dobro, embora os que saem o façam com demasiada frequência e por motivos aparentemente fúteis, como passear. E como se ocupam, afinal, as pessoas enfiadas entre paredes? Com a lida da casa e a ver notícias na televisão.

Estas são algumas das conclusões da segunda parte do inquérito Covid-19 e Portugueses que o Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (Cesop) da Universidade Católica Portuguesa lançou, para o PÚBLICO e a RTP, a uma amostra de 1700 portugueses, representativa da população, entre os dias 6 e 9 de Abril. Questionados sobre o número de vezes que saíram de casa nas duas semanas anteriores ao inquérito, 14% dos portugueses declararam que simplesmente não tinham saído. Entre os restantes, 6% fizeram-no menos de uma vez por semana e 25% apenas uma vez por semana, contra os 22% dos que declararam fazê-lo uma vez por dia.

E por que é que saem? A larga maioria para fazer compras essenciais (62%) ou para trabalhar (23%), contra os 11% que saem para ir à farmácia e os 6% para apoiar a família. Apenas 5% da população costuma sair para dar passeios a pé. Entre os idosos, porém, a percentagem dos que saem simplesmente para passear sobre para os 9%, o que corrobora as conclusões de outros estudos feitos já durante esta pandemia. Num zoom ao grupo etário dos idosos, percebe-se que estes se dividem em dois grupos: 28% passaram duas semanas sem ir à rua e 24% fazem-no pelo menos uma vez por dia ou até mais vezes por dia. Por contraste, os jovens com idades entre os 18 e os 24 anos de idade evidenciam um comportamento mais recatado: apenas 13% declaram sair de casa uma ou mais vezes por dia. E conseguem proteger-se, lavando as mãos e mantendo a distância física dos outros? A larga maioria (78%) da população garante que sim.

Curiosamente, a percepção quanto à perigosidade do vírus sobe com a idade e é compreensivelmente maior entre as pessoas que integram grupos de risco. Numa escala de zero a quatro, os idosos que dizem que o vírus é muito perigoso, incluindo para si próprios, está muito próximo do tecto máximo, numa linha que, na mesma escala, baixa para próximo do três quando são os jovens a responder à mesma pergunta. No cômputo geral, 87% das pessoas declaram que o vírus é muito perigoso para os outros e 67% também o consideram muito perigoso para si próprios.

Faltam gel e máscaras

Além de procurar medir o impacto desta pandemia no trabalho dos mais velhos e nas aprendizagens dos mais novos, o inquérito procurou imiscuir-se em casa das pessoas para perceber como é que elas passam o tempo. Tarefas como a limpeza da casa e das roupas e a preparação das refeições são as que mais ocupam as pessoas (48%), logo seguidas do visionamento de notícias (30%) e de séries ou filmes (21%). Na procura que os portugueses fazem de informação sobre o coronavírus, a televisão é o meio utilizado por 75% das pessoas, seguido da Internet em geral (10%).

Mas, ainda na lista de “coisas para fazer em casa”, estar com a família e o teletrabalho ocupam, cada um, 18% do tempo. Um pouco atrás da leitura (19%). Já o exercício físico (10%) concorre directamente com as redes sociais (9%). E estudar ou aprender coisas novas? Com apenas 6% das respostas, não parecem ser as actividades preferidas dos portugueses durante esta crise sanitária.

O inquérito procurou também saber quão abastecidas andam as despensas das pessoas. E concluiu que 74% dos inquiridos têm reservas em casa para pelo menos uma semana (sendo que destes 21% aprovisionaram mantimentos para duas semanas). Mas, no lado oposto, 26% dos inquiridos declararam que a comida que têm em casas não chega para mais de cinco dias.

Nas incursões aos supermercados, talhos ou mercearias, os portugueses não têm sentido falta de bens materiais: 77% da população declara que não tem tido dificuldade em encontrar aquilo de que necessita. Entre os 23% que declaram o contrário, isto é, que sentem falhas no abastecimento, destacam-se os 12% que não têm conseguido encontrar álcool e gel desinfectante para as mãos, seguidos dos 8% que acusam a falta de alguns bens alimentares e dos 6% que não conseguem comprar máscaras.

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