Mais de 1400 profissionais de saúde contratados e mais de 1500 infectados

Já são mais de 1500 os profissionais de saúde afastados temporariamente dos serviços por estarem infectados com o novo coronavírus. Quase quatro centenas são enfermeiros e 258 são médicos.

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Manuel Roberto

Desde o início da epidemia de covid-19 em Portugal, os hospitais públicos já contrataram 1419 profissionais de saúde para reforço da resposta.  Ao mesmo tempo, a linha SNS24 foi reforçada com 450 profissionais, adiantou ao PÚBLICO o Ministério da Saúde (MS).

​Mas há médicos, enfermeiros, auxiliares e outros profissionais do Serviço Nacional de Saúde que ficam temporariamente afastados dos serviços por estarem infectados com o novo coronavírus, um fenómeno que os bastonários das ordens dos médicos e enfermeiros têm atribuído à falta de equipamentos de protecção individual e de testes frequentes. 

A partir do momento em que começaram a ser notificados casos positivos da doença no país, o número de profissionais de saúde infectados em hospitais e centros de saúde não tem parado de aumentar — esta quarta-feira eram já 1515, dos quais 399 enfermeiros e 258 médicos, revelou também o ministério.

Voltando às contratações, mais de metade (698) dos profissionais de saúde admitidos foi reforçar os hospitais do Norte, a região mais fustigada pela covid-19, perto de um quarto (379) está a trabalhar no Centro e 288 em Lisboa e Vale do Tejo. Sem especificar quantos são médicos, enfermeiros ou trabalhadores de outros profissões, o MS explica que “as administrações hospitalares têm autonomia para contratar directamente profissionais de saúde no âmbito da covid-19”. A região do Alentejo foi reforçada com 34 e o Algarve com 20.

A contratação de médicos, enfermeiros e outros trabalhadores para o SNS foi permitida em novos moldes — deixou de ser necessária a luz verde prévia do Ministério das Finanças —  no âmbito das medidas de carácter excepcional decididas em 13 de Março em Conselho de Ministros. Estas medidas vieram permitir o recurso a clínicos reformados “sem sujeição aos limites de idade”, a simplificação da contratação e a suspensão dos limites de horas extraordinárias.

Alguns dos profissionais que têm sido contratados são provenientes das bolsas de voluntários que foram constituídas na sequência dos apelos feitos pelas ordens dos médicos e dos enfermeiros, refere o ministério. Mas os hospitais públicos não aproveitaram ainda toda a disponibilidade de médicos (1800) e de enfermeiros (900) que estava contabilizada até meados de Março. 

Onde estão estes trabalhadores?, perguntam o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, e a presidente do Sindicato de Todos os Enfermeiros. Gorete Pimental lembra ainda que o ministério anunciou apenas que contratou 500 enfermeiros por quatro meses. Já Roque da Cunha exige que a tutela especifique “para onde e como contratou médicos”.

Menos doentes nos cuidados intensivos

O SNS conta, assim, com mais recursos humanos para a resposta à epidemia de covid-19 numa altura em que em que o número de casos está a aumentar em Portugal num ritmo mais lento. Os dados revelados esta quarta-feira apontam, aliás, para um acréscimo de 5,6% de casos confirmados (mais 699). Do total de doentes, apenas 9,2% estão hospitalizados. De terça para quarta-feira, o número de doentes internados em cuidados intensivos até diminuiu (para 245, menos 26 do que no dia anterior). Mas houve mais 35 mortes.

Na conferência de imprensa para balanço da situação, a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, admitiu que a curva epidemiológica está a estabilizar em Portugal. “O que sabemos à data é que nos últimos dias tem havido uma estabilidade na curva real e na projectada"— tal como o PÚBLICO noticiou esta terça-feira. Mas Graça Freitas fez questão de sublinhar que não se deve baixar a guarda. Afinal, este “não é um dado garantido” e “se abrandarmos determinadas medidas podemos ter um segundo pico ou segundo planalto”, enfatizou.

Entretanto, continua a chegar a Portugal o material necessário para reforçar a resposta da medicina intensiva, até agora um dos países com mais baixos rácios de camas de cuidados intensivos por 100 mil habitantes. O Governo anunciou que em breve teremos o dobro dos ventiladores. 

Também presente na conferência de imprensa, João Gouveia, que preside à comissão de acompanhamento da resposta à pandemia na medicina intensiva, reconheceu que o número de especialistas nesta área — 260 médicos — “pode não ser suficiente para a quantidade de ventiladores que estão a chegar”. Mas também explicou que, caso seja necessário, médicos de outras especialidades poderão operar estes equipamentos sob a coordenação de intensivistas. “Está previsto dar-lhes formação e permitir assim que prestem cuidados adequados a estes doentes, sempre sob supervisão de um intensivista”, acentuou.

com Ana Maia

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