Lorenzo destrói porto nas Lajes das Flores e deixa ilhas sem abastecimento

O furacão que atravessou ao arquipélago dos Açores destruiu o porto comercial das Lajes das Flores, o principal centro de abastecimento do grupo ocidental da região. Será necessário “projectar um porto novo”. Mais de 50 pessoas foram realojadas e outras 50 foram retiradas preventivamente das casas.

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Efeitos da passagem do furacão Lorenzo RUI SOARES

A passagem do furacão Lorenzo pelos Açores causou a destruição do porto comercial das Lajes das Flores, colocando em risco o abastecimento das ilhas do grupo Ocidental, Flores e Corvo.

Ao PÚBLICO, Miguel Costa, presidente da Portos dos Açores (que gere as estruturas portuárias na região), avançou que o porto “que faz o abastecimento àquelas duas ilhas” ficou “todo destruído” devido à forte ondulação sentida na manhã de quarta-feira. “O objectivo principal é conseguir o fornecimento do abastecimento às ilhas”, afirma Miguel Costa, descrevendo a situação como “gravíssima” e assinalando que “são ilhas onde não existem outros meios”.

No cais, o molhe de protecção ficou todo danificado, o muro destruído, e o edifício das operações portuárias “literalmente desapareceu”, segundo o responsável.

O presidente da empresa pública da região avançou que nesta quinta-feira a Portos dos Açores vai deslocar-se ao local com uma equipa técnica para ver o que é possível reabilitar, sendo praticamente certo que terão de “começar a projectar um porto novo”, o que custará “algumas dezenas de milhões”. “Não há outra hipótese”, aponta. Sobre o financiamento da nova estrutura, Miguel Costa afirmou ser “muito precoce para avaliar”, tendo em conta que até “poderá ser decretada uma situação de emergência” para “fundos europeus, nacionais, ou só mesmo regionais”.

O presidente da Câmara das Lajes das Flores, Luís Maciel também explicou ao PÚBLICO que “ainda está a ser estudada uma solução para o abastecimento da ilha”, avançado que a hipótese de abastecimento por via marítima ainda está “em cima da mesa”. Em causa está a possibilidade de o abastecimento ser efectuado através de “embarcações mais pequenas”, uma vez que “podem existir zonas do cais que podem ser aproveitadas”. “É tudo muito recente, vai ser avaliada a situação em que está a baía para percebermos qual é a possibilidade da circulação de embarcações”, aponta o autarca.

Luís Maciel explicou ainda que “praticamente tudo” o que chega ao grupo ocidental passa pelo porto comercial da Lajes das Flores, tendo em conta que a via área só é usada para “questões com urgência” e em “quantidades limitadas”.

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Furacão provocou danos em habitações RUI SOARES

O PÚBLICO tentou contactar por diversas vezes a presidência do governo regional dos Açores, mas não obteve qualquer resposta. No Facebook, o presidente do executivo açoriano, Vasco Cordeiro, deixou uma mensagem: “Há muito trabalho, há danos que se afiguram elevadíssimos, mas faremos o que os Açorianos fazem há cerca de 600 anos neste arquipélago: reconstruir e andar para a frente!”.

O furacão Lorenzo passou na madrugada desta quarta-feira, por volta das 4h30 da manhã a 70 quilómetros a oeste da ilhas das Flores com a categoria 2 na escala de Saffir-Simpson  (escala vai de 1 a 5, aumentando conforme o grau de intensidade). Nessa ilha, foram sentidas rajadas com mais de 200 km/h.

No total foram registadas 255 ocorrências, tendo 53 pessoas sido realojadas e cerca de 50 foram retiradas preventivamente das suas casas, na ilha do Faial.  Das 255 ocorrências, Carlos Neves, da Protecção Civil açoriana, destacou que foram todas “resolvidas com celeridade”, exceptuando os casos que “ultrapassam a Protecção Civil” e que só podem ser resolvidos “a longo prazo” – como o da destruição do porto das Lajes.  Estas ocorrências foram, sobretudo, relacionadas com a obstruções de vias, danos em habitações, quedas de árvores, e galgamentos costeiros.

Lino Borges
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Lino Borges

"Correu melhor do que se chegou a temer"

O presidente da Protecção Civil e Corpo de Bombeiros dos Açores enalteceu “o grande civismo da população açoriana” que foi essencial para “evitar a perda de vidas humanas”.

Por volta das oito da manhã, hora dos Açores, pensava-se que o pior já tinha passado, tendo o primeiro-ministro António Costa destacado, a partir de Lisboa, que as “coisas correram melhor do que se chegou a temer”.

Contudo, durante a manhã de quarta-feira, apesar do vento se apresentar com menos intensidade, a ondulação começou a ficar cada vez mais agressiva, afectando particularmente as ilhas de Flores e Faial.

Durante a tarde desta quarta-feira, nessas ilhas, existiam relatos de estradas danificadas, árvores caídas e muros destruídos. Ao PÚBLICO, quer ao longo da madrugada, quer na manhã de quarta-feira, chegaram testemunhos de leitores que viram as telhas das suas casas arrancadas pela força do vento e habitações danificadas pela entrada do mar.

Entretanto, foi anunciado que o ministro Adjunto e da Economia, Pedro Siza Vieira, vai deslocar-se aos Açores em representação do Governo, onde se vai reunir com o governo regional para avaliar os danos do furacão Lorenzo e “preparar resposta efectiva”, anunciou o gabinete do primeiro-ministro nesta quarta-feira, num comunicado enviado às redacções.

O Governo da república referiu que iria continuar a acompanhar a situação nos Açores e transmitiu “uma palavra de solidariedade a todos os açorianos”, sobretudo aos que residem nas ilhas mais afectadas.

Ao PÚBLICO, fonte oficial da Presidência da República disse também que não está prevista qualquer deslocação de Marcelo Rebelo de Sousa ao arquipélago.

O alerta vermelho referente à agitação marítima deixou de estar em vigor desde as 15h locais e o plano de emergência da Protecção Civil foi desactivado pelas 17h locais.  O furacão abandonou, entretanto, a zona do arquipélago perdendo intensidade conforme se dirige para a Irlanda.

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