Em termos políticos, o discurso do PSD sobre a Caixa Geral de Depósitos está imbuído dos mesmos erros cometidos no do processo das sanções. Basicamente, num e noutro caso há duas linhas de orientação na mensagem da direcção presidida por Passos Coelho: por um lado, a tentativa de pôr em causa a capacidade técnica do Governo para lidar com a complexidade desses dossiers; por outro, passar-lhe um atestado de incompetência na defesa dos interesses nacionais. Este caminho foi ontem perfeitamente visível na conferência de imprensa do deputado Hugo Soares, ao fustigar o ministro das Finanças com o mantra de “nada saber”, enquanto deixava no ar a ideia de que Mário Centeno e António Costa agem “por capricho” em matérias tão relevantes como a recapitalização da CGD. O rol de acusações e de “sensações” reveladas pelo deputado é até um pouco esquizofrénico na medida em que ignora sinais importantes já dados quer pelo BCE, no que respeita ao valor da injecção de capital, quer pela Comissão Europeia ao declarar que a entrada desse capital não será considerada ajuda do Estado, ou seja, não contará para a meta do défice.

Embora não tão acintoso como o seu companheiro de bancada, Passos Coelho não foi de férias sem lançar avisos sobre a recapitalização da Caixa. E fê-lo com a mesma convicção com que anunciou a vinda do diabo em Setembro. Se a Direcção-Geral da Concorrência, o organismo da Comissão Europeia que decide se a injecção de capital na Caixa é ou não ajuda do Estado, for favorável a Portugal, Passos volta a ficar sem discurso, como aconteceu com as sanções. O líder do PSD continua sem se conseguir libertar do fato de primeiro-ministro e essa incapacidade está a aprisionar o PSD numa faixa institucional demasiado estreita, cerceando-lhe a amplitude de movimentos e, sobretudo, a procura de novas soluções capazes de lidar com o novo modelo de poder engendrado por António Costa. Em perda nas sondagens e nitidamente ineficaz nesta pele, que não é a sua, o tempo do PSD de Passos vai-se esgotando.