PSD acusa o Governo de ajudar a "desbaratar" valor da Caixa

Sociais-democratas dizem que o executivo está a "criar a ilusão" de que o sistema financeiro não está em condições de cumprir as regras.

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Para Hugo Soares, do PSD, este não é o momento para a Protecção Civil ficar decapitada Rui Gaudêncio

A comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos foi ideia do PSD e os sociais-democratas foram acusados nos últimos tempos de quererem prejudicar o banco do Estado ao promoverem o escrutínio na praça pública. Agora, o PSD levanta uma dúvida para sacudir as acusações de “desbaratar” o valor da Caixa Geral de Depósitos (CGD). Mais do que de inacção, acusam o Governo de nada saber e de com isso “criar” ilusões de que o banco público está em pior forma do que afinal está.

Os sociais-democratas têm uma tese de princípio: o banco não precisa de cinco mil milhões de euros para se recapitalizar – ideia defendida por Passos Coelho – e não percebem porque deixa o Governo que esse valor seja falado como verdade absoluta, contribuindo, agora sim, para que se "desbarate por completo" o valor do banco. Mas mais que isso, acreditam que, se o Governo quer mais do que dois mil milhões de euros para a CGD, tem de o explicar para se perceber “o tamanho da irresponsabilidade”, diz ao PÚBLICO o vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, Hugo Soares.

As palavras do coordenador dos deputados sociais-democratas na comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos servem de balanço às primeiras três audições da comissão no Parlamento, que aconteceram no final da semana passada. O partido não quer que o assunto se afogue na silly season e marcou, de propósito, uma conferência de imprensa para falar sobre o assunto.

Na manga, o deputado social-democrata tinha não só perguntas como acusações. Primeiro as perguntas. Hugo Soares quer respostas a vários "quantos". O primeiro continua a ser este: "De 'quanto' precisa afinal a Caixa para se recapitalizar?" “O ministro das Finanças diz que não sabe e não sabe quando vai saber”, ironiza o deputado. O segundo: “Não se sabe 'quanto' vão ganhar os administradores e se há conflito de interesses”, diz. Em causa está o facto de o Governo ter aprovado no último Conselho de Ministros o diploma que altera as regras de formação dos salários dos administradores dos gestores da Caixa. E o terceiro "quanto": “'Quanto' vão ganhar os assessores que vão trabalhar com António Domingues?”, pergunta Hugo Soares.

A comissão à CGD tem servido para a troca de acusações entre maioria e oposição. O primeiro-ministro disse ainda em Junho que a negociação com Bruxelas para uma solução para a Caixa estava quase terminada, mas dois meses depois ainda nada é conhecido. Ora, o PSD aproveita essa ponta solta para não deixar cair o assunto no Verão e acusa o Governo de seguir duas estratégias: a primeira de prejudicar o sistema financeiro; e a segunda de deixar que se debata um valor muito alto para a recapitalização, criando uma suspeita sobre o banco público. "Dá, às vezes, a sensação de que o Governo, em especial o primeiro-ministro e o ministro das Finanças, quer alimentar uma certa suspeição constante sobre o sistema financeiro, e isso prejudica o sistema financeiro, prejudica a confiança na economia e não conseguimos perceber porquê", afirmou Hugo Soares, citado pela Lusa. “Parece que há uma vontade férrea do ministro das Finanças em criar a ilusão de que o sistema financeiro não está a cumprir aquilo que deve cumprir em termos de rácios de solvabilidade", acrescenta.

Mas o ponto essencial para o PSD continua a ser o valor. O deputado do PSD lembra que o actual administrador da CGD falou em dois mil milhões de euros de necessidades de capital. Se o valor que circula é de cerca de cinco mil milhões de euros, o social-democrata pergunta: “O Governo quer pôr três mil milhões acima do que é necessário para quê?” Se o Governo “quiser somar a estes dois mil milhões um valor astronómico, então, estamos a falar de uma ambição que é irresponsável e de uma ambição que será paga em dívida e com os impostos dos portugueses”, acusa. 

Audições retomadas em Setembro

A comissão de inquérito à Caixa fica marcada por várias discórdias, as primeiras começaram logo sobre quais as primeiras audições a serem feitas e a divisão entre maioria e oposição arrastou-se para as próprias audições. O presidente da comissão executiva do banco públicoJosé de Matos, o ministro das Finanças, Mário Centeno, e o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, foram os primeiros a serem ouvidos, no final da semana passada. O resto (e a lista conta já com cerca de 50 responsáveis) fica para Setembro. Mas estas audições só começam depois de a comissão reunir para discutir o que fazer em relação às dificuldades de acesso à informação, reunião marcada para dia 7 de Setembro. Além das divisões políticas, os deputados têm esbarrado muitas vezes na justificação do sigilo bancário, por exemplo, e por isso vão reunir documentação para poderem decidir o que fazer.

Notícia actualizada às 20h: substituída notícia da Lusa por notícia própria

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