Resposta a Alexandra Lucas Coelho

Quantas vezes será necessário afirmar que não foram as Nações Unidas que criaram Israel?

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O ódio doentio a Israel por parte de Alexandra Lucas Coelho precisaria de uma explicação. É que eu nunca a vi, nunca mesmo, explicar de forma racional esse ódio. Como também nunca lhe vi ao longo da história um tão grande amor ao povo palestiniano. Como de costume, este seu último artigo mistura alhos como bugalhos, começa por falar mal de Trump e de Kamala Harris, mas depois afinal é melhor Kamala do que Trump, só é “pena” que ela não faça ou não seja a pessoa que Lucas Coelho gostaria que fosse. Pois não é…

Lucas Coelho escreve com raiva o que não é a melhor forma de esclarecer o público. Vou tentar dar a minha opinião sobre alguns pontos do seu texto.

Ponto 1: Quantas vezes será necessário afirmar que não foram as Nações Unidas que criaram Israel? O que a ONU fez foi reconhecer o direito à existência de um Estado Judaico na Palestina através da votação, em 1947, de uma realidade que já existia. Israel não deve a sua existência à ONU, mas sim aos homens e às mulheres que desde o século XIX começaram a emigrar para a terra onde, ao longo de séculos nunca deixaram de orar, “Para o ano que vem, em Jerusalém”.

Esses homens e mulheres, na sua maioria do leste europeu, foram para a Palestina em fuga dos pogroms e das perseguições sem fim de que eram alvo e, estimulados por um homem, Theodor Herzl, que, após a falsa condenação por traição do capitão francês Alfred Dreyfus, entendeu que a sobrevivência judaica, a sua liberdade e dignidade só seriam possíveis num quadro de soberania política. Assim quando a maioria dos países da ONU votaram, em 1947, a favor da existência do Estado de Israel, este já tinha praticamente tudo preparado: uma língua (o hebraico), escolas, universidades e museus, uma assembleia geral onde eram tomadas as decisões, um exército em formação, uma imprensa livre, etc… Resumindo, o Estado de Israel não é produto da ONU, mas sim do anti-semitismo e da coragem de homens e mulheres que construíam um Estado enquanto secavam pântanos e plantavam desertos.

Ponto 2: Lucas Coelho pergunta “o que está Israel a fazer na ONU ainda”. E eu respondo: a ser atacado sistematicamente e há décadas pela maioria antidemocrática dos 193 países que são membros das Nações Unidas. Estranhamente, nunca ouvi ou li Alexandra Lucas Coelho a criticar países como o Afeganistão, o Irão, a Síria, a China, o Iémen, a Coreia do Norte, a Rússia e tantos outros, independentemente de serem ou não membros da ONU. Em contrapartida é totalmente falso que Israel trave “uma guerra geral” na ONU desde a sua fundação”. Lucas Coelho enganou-se. Provavelmente queria dizer o contrário: que desde a sua entrada na ONU, Israel tem sido alvo constante de resoluções e sanções contra si.

Ponto 3: É verdade que Israel aprovou uma lei classificando a UNRWA como uma organização terrorista e proibindo a sua actuação em Jerusalém oriental, onde a agência opera. Sabemos que muitos dos funcionários da UNRWA são palestinianos que trabalham em Gaza, em particular em escolas, e alguns serão eventualmente responsáveis pelo ódio a Israel e apologistas do martirológio. Mas, pessoalmente, não me parece que se possa considerar como terrorista a organização como um todo.

A UNRWA foi criada em 1949, não como Lucas Coelho escreve, mas porque logo a seguir à proclamação do Estado, em 1948, e ao abandono do país pela Grã-Bretanha, os países árabes desencadearam uma guerra feroz contra Israel, enquanto incitavam os palestinianos a saírem de país, argumentando com uma promessa de rápido regresso. Não nego que, durante a guerra, tenha havido expulsões de palestinianos, mas o que na verdade levou a ONU a criar a UNRWA foi a recusa, na época, dos países árabes em receber os que saíram ou foram expulsos – recusa, aliás, que se mantém até hoje.

Reconheço que na altura se justificava um organismo como a UNRWA, mas tem sido um grave erro da ONU eternizar a situação de “refugiados” e de vítimas ao longo de sucessivas gerações e sem fim à vista. Sobreviver da “esmola” é degradante e indigno para qualquer ser humano. Rejeitados pelos próprios países árabes, nos campos em que são mantidos como párias, e vivendo da caridade internacional, as consequências são naturalmente o ressentimento e o ódio. O que não acontece com os árabes israelitas que optaram por se manter em Israel. É que, apesar do pior governo da sua história que Israel tem hoje, o país ainda é uma democracia, por muito que custe a Lucas Coelho.

Termino repetindo o que já aqui escrevi: é um erro pensar que a desgraça palestiniana é uma coisa boa para Israel. A longo prazo, israelitas e palestinianos ou se salvam em conjunto ou soçobram em conjunto. Foi a lucidez de Ben-Gurion, ao reconhecer a existência de um outro povo na Palestina, que permitiu a criação do Estado de Israel. Da mesma forma foi essa negação que levou os palestinianos à sua própria tragédia.

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