Saúde mental em tempos de incerteza: Um desafio coletivo para todos

A saúde mental é uma parte indissociável da nossa existência e da saúde como um todo, influenciando cada aspeto da nossa vida pessoal e coletiva.

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"Os jovens estão particularmente suscetíveis a comportamentos de risco" Afta Putta Gunwan/Pexels
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No mês em que se assinalou o Dia Mundial da Saúde Mental, a 10 de outubro, somos convidados a refletir sobre um tema cada vez menos esquecido nas conversas quotidianas, mas ainda pouco praticado. Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha definido a saúde, desde 1946, como um estado de completo bem-estar físico, mental e social — não apenas a ausência de doença —, a verdade é que continuamos a subestimar a importância deste pilar fundamental da nossa vida e a trabalhar isoladamente cada um destes pontos. A saúde mental é uma parte indissociável da nossa existência e da saúde como um todo, influenciando cada aspeto da nossa vida pessoal e coletiva. Contudo, os tempos de incerteza que vivemos tornam este desafio ainda mais premente.

Vivemos numa sociedade onde o conceito de bem-estar pode parecer inalcançável para muitos. Para quem luta diariamente com grandes dificuldades em várias áreas, o foco está, naturalmente, na sobrevivência, e a saúde mental, muitas vezes, é posta de parte. No entanto, mesmo aqueles que se encontram em boa forma física e/ou financeira podem estar a enfrentar também graves desafios psicológicos invisíveis. Neste sentido, a psicologia como ciência dedicada ao estudo do comportamento humano e à promoção da mudança, torna-se um aliado crucial em todas as áreas, oferecendo ferramentas para fortalecer recursos internos e externos, que são fundamentais para superar adversidades.

Felizmente, começam a surgir políticas que visam apoiar a saúde mental de forma mais ampla. O Programa Cuida-te, lançado em 2019, é um exemplo disso, ao introduzir cheques psicológicos e cheques-nutricionista, entre muitas outras iniciativas para facilitar o acesso aos jovens a cuidados essenciais. No entanto, não basta implementar políticas; é imperativo garantir que estas sejam acessíveis a todos, especialmente àqueles mais vulneráveis. A decisão final sobre adotar comportamentos saudáveis pode ser individual, mas a sociedade tem a responsabilidade de criar um ambiente que incentive essas escolhas.

Os desafios que enfrentamos, agravados pela pandemia e pelas crises geopolíticas, têm acentuado o sentimento de incerteza. As crianças e os jovens, em particular, sentem o impacto deste isolamento prolongado. Hoje, nas escolas, mais de 90% dos jovens optam por hobbies solitários, uma evidência alarmante de que as interações sociais estão a diminuir drasticamente. Isto levanta questões sobre a responsabilidade de pais, educadores e governos em promover ambientes mais saudáveis e propícios à socialização e ao desenvolvimento pessoal.

Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) são claros e preocupantes. O aumento das taxas de suicídio entre os jovens não pode ser ignorado, e é precisamente no final da adolescência, início da idade adulta que muitas doenças mentais graves se manifestam pela primeira vez. A intervenção precoce é, portanto, vital para reduzir anos de incapacidade e facilitar uma integração social mais eficaz. No entanto, os jovens estão particularmente suscetíveis a comportamentos de risco, como o consumo de álcool e tabaco, a falta de exercício físico e o sono de má qualidade, fatores que agravam ainda mais a crise de saúde mental.

Então, como podemos inverter esta tendência? Precisamos de campanhas de sensibilização eficazes, que falem diretamente aos jovens e os encorajem a fazer escolhas saudáveis. A promoção de estilos de vida saudáveis deve ser uma prioridade, com mensagens claras que contrastem com as falsas promessas de felicidade associadas a produtos prejudiciais. O marketing da vida saudável não pode ser visto como uma tarefa exclusiva do Governo; deve envolver a sociedade como um todo, incluindo escolas, famílias e comunidades.

A construção de um futuro saudável exige o compromisso de todos nós. Devemos abandonar a cultura do individualismo e do "chico-esperto" que permeia a nossa sociedade e incentivar os jovens a serem cidadãos ativos e conscientes, que se orgulham das suas contribuições para a comunidade. A saúde mental é uma responsabilidade coletiva, e só com a participação de todos conseguiremos criar um ambiente onde o bem-estar seja uma prioridade.

Por tudo isto, façamos mais do que apenas refletir. Comprometamo-nos a agir, a mudar, e a garantir que a saúde mental seja uma prioridade constante, diariamente. O futuro das próximas gerações depende disso, e cada pequena ação conta para criar um mundo mais equilibrado e solidário.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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