Postal de Vila Nova da Baronia: Alentejo em miniatura

O autor das obras é Feliciano Joaquim Carvalho, atualmente com 84 anos. Após se reformar da Força Aérea, Feliciano dedicou-se a criar miniaturas que recriam as suas memórias de infância.

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Peça do Museu da Junta de Freguesia de Vila Nova de Baronia João da Silva
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O monte alentejano, a casa típica com paredes construídas em barro cru e terra batida — cozinha mobilada, quarto e sala mobilados —, o forno do pão, o forno do tijolo, a serração, a oficina de carpinteiro, o lagar do azeite, a eira onde se debulhavam cereais, a nora, o tanque de lavagem no chafariz, a horta com nora, a silha com colmeias e caixas, a queijaria artesanal, a barbearia, rebanho de ovelhas com pastor…

Tudo isto encontramos, em ponto pequeno e feito em madeira, cortiça, arame, chapa, tecido, cartão e papel (entre muitos outros materiais), no Museu da Junta de Freguesia de Vila Nova de Baronia, pequena povoação do município de Alvito.

O autor das obras é Feliciano Joaquim Carvalho, natural de Vila Nova da Baronia, atualmente com 84 anos. Após se reformar da Força Aérea, onde trabalhou como desenhador até 1994, Feliciano dedicou-se a criar miniaturas que recriam as suas memórias de infância.

Uma escola do Estado Novo, o cante alentejano, a matança do porco, o carro de parelha com carrada de trigo, o carro com mula do "Quinito" — "carro de transporte de passageiros e sacos do correio de Alvito para a estação da CP e vice-versa até os anos 80", descreve o autor numa legenda —, aguadeiros, cordoeiros, o Moinho do Magrinho, o tio Chico Souza (limpa-chaminés), José Perdigão (vendedor de castanhas), o tio Fabião (caracóis), o serrador do Rossio da fonte, um pastor alentejano envergando um casaco comprido sem mangas de pelo de ovelha e outro com um capote, rapazes e raparigas a divertirem-se com jogos tradicionais, conjunto de peões, bilha de água, panela com três pés, jarro, alguidar, bota com esporas, entre muitas outras reproduções.

Memórias de uma vida, onde não faltam os lugares imaginados por Feliciano, como o castelo de Vila Nova da Baronia e o coreto. "Esta é mais uma obra da minha imaginação, penso que na minha terra, se havia uma banda, devia ter existido um coreto", lê-se na legenda do coreto.

Deixei Vila Nova de Baronia e, em menos de dez minutos, estava a passar por Viana do Alentejo e pelo monte onde, em criança, passei uma semana das férias a pastar vacas com o meu primo vianense.

Logo no primeiro dia, nem uma hora depois do início do trabalho:

— Primo, tenho fome, vou comer.

— A merenda é para mais tarde, primo. Primeiro, temos de levar as vacas ali para baixo.

— Mas tenho tanta fome, primo… Levamos as vacas depois —, insisti, com o cheiro do bolo de mel tão vívido na memória que parecia estar debaixo do meu nariz.

— Se fores comer, digo à minha mãe que não te dê o prémio.

Corri pelo campo em direção à casa e à merenda, mas, a meio do caminho, abrandei até parar. Dei meia-volta e regressei para perto do meu primo e das vacas. Pouco depois, uma delas, não me recordo agora do nome, pisou-me com força. Talvez uma punição pela minha gula.

Nesse mesmo dia, mais tarde, depois de ter sido avisado uma dezena de vezes pelo meu primo para que não me colocasse atrás da mula, levei um coice numa canela que me fez chorar a bom chorar. Ainda hoje acho que foi isso que levou o meu primo a não revelar a minha insubordinação.

Andei manco o resto da semana. No fim das férias, levei para casa uma cicatriz na canela e um tapete de pele de vaca.


O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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