Livraria Lello quer médicos a receitar livros e lança petição para que Parlamento o decida

Depois de uma carta-aberta à Assembleia da República, em 2021, a livraria centenária volta a insistir, desta vez, com uma petição, em nome da saúde mental dos portugueses.

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No Porto, a Livraria Lello é uma referência na cidade Anna Costa
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O apelo é simples: "Leia, pela sua saúde!" e é título de uma carta-aberta, que é também uma petição para que, com o número suficiente de subscritores, o tema chegue à Assembleia da República e seja discutido. O objectivo, explica Aurora Pedro Pinto, administradora da Livraria Lello, no Porto, responsável por esta iniciativa, é que os médicos possam prescrever a leitura e que o custo dos livros prescritos possam ser deduzidos nas despesas de saúde no IRS. Há três anos, a empresa teve a iniciativa de enviar uma carta aos diferentes grupos parlamentares. Agora, além da carta há uma petição. Nesta quinta-feira assinala-se o Dia Internacional da Saúde Mental.

"A ideia não é nova", admite a administradora da livraria centenária, que abriu as suas portas em 1906. Desde os primeiros dias da pandemia que a livraria começou a receber milhares de encomendas de livros, o que interpretou como uma necessidade do público para enfrentar a solidão, o isolamento, a ansiedade, mas também, refelctindo que o livro tem um poder terapêutico, diz Aurora Pedro Pinto ao PÚBLICO.

Afinal, são muitos os estudos que reflectem isso mesmo, a importância do livro como ferramenta terapêutica; e são já alguns os sistemas nacionais de saúde — o caso do britânico, do francês e do neozelandês, enumera a administradora — que já adoptaram esta prática, a de prescrever livros. O desejo é que esta chegue a Portugal, insiste a responsável, até porque tem havido iniciativas no mesmo sentido.

E Aurora Pedro Pinto lembra a iniciativa integrada no Plano Nacional de Leitura (PNL), numa parceria com a Direcção-Geral da Saúde, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, a Escola Superior de Enfermagem de Lisboa e a Associação Nacional das Farmácias de prescrever um livro a cada criança, na primeira consulta em centenas de unidades de saúde que participaram no projecto. Este decorreu entre Fevereiro de 2023 e Janeiro de 2024. Mais, continua: há um ano, no Alentejo, houve a iniciativa de os médicos prescreverem cultura. "Os livros não curam, mas ajudam", acredita a administradora da Lello. "Esta prática tem revelado resultados surpreendentes na melhoria da saúde mental e psicológica dos pacientes", diz a carta-aberta.

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Aurora Pedro Pinto é administradora da Livraria Lello Tiago Lopes

Por isso, a livraria escolheu esta quinta-feira para lançar a sua carta-aberta e a petição, que pode ser assinada aqui, e que ao início desta manhã ainda não tinha chegado às 50 assinaturas, porque neste dia 10 de Outubro se assinala o Dia Internacional da Saúde Mental, além de que é também o dia de apresentação do Orçamento do Estado, que deveria contemplar medidas como esta. "Porque se às vezes o Orçamento do Estado nos dá a volta à cabeça, tem também um dever incontornável: o de cuidar da nossa saúde mental", justifica a carta-aberta.

A intenção da Livraria Lello é que os livros possam ser prescritos como fazendo parte do tratamento para doenças do foro mental, psicológico, para promoção do bem-estar humano, combate ao isolamento, à solidão e à exclusão social. Aurora Pedro Pinto chama ainda a atenção para o bullying e outros problemas com que os jovens se debatem como a sua imagem corporal. A responsável da livraria do Porto concorda que a indústria livreira pode beneficiar com esta proposta, mas que os doentes também podem encontrar os livros em bibliotecas, onde os podem requisitar. "Esta não é uma ideia bondosa, é uma proposta que faz sentido", conclui.

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