Atleta paralímpica responde a J.K. Rowling, que a chamou de “batoteira assumida”

“A J.K. Rowling só está preocupada com o facto de eu usar a casa de banho feminina, mas não sabe nada sobre mim”, respondeu a velocista italiana Valentina Petrillo.

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Valentina Petrillo na semifinal de 200 metros REUTERS/Umit Bektas
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A escritora J.K. Rowling rotulou a velocista Valentina Petrillo de “batoteira assumida” por ter participado na equipa feminina nos Jogos Paralímpicos de Paris. A atleta transgénero desvaloriza as críticas da autora de Harry Potter, que tem escrito frequentemente sobre identidade de género, garantindo que sentiu apoio no Estádio de France ao longo da competição. “Era uma vida perfeita. Era linda. Fui bem recebida por toda a gente”, declara a italiana em entrevista ao jornal britânico Times.

“Lá fora, sabemos que não vai ser a mesma coisa. Espero que isto possa ser o início de uma transformação para as pessoas transgénero”, acrescentou a atleta cega, de 51 anos, que fez a transição em 2019 e se qualificou para as semifinais de 200 metros e 400 metros.

Antes dos Paralímpicos, a italiana confessa que esperava ser alvo de algum ódio por estar a competir na categoria feminina — até porque em Itália foi vítima de assédio por diversas vezes desde que fez a transição. “Só houve uma pessoa [transgénero] que participou nos Jogos Paralímpicos. Portanto, todo este medo de que as pessoas trans destruam o mundo não existe. As pessoas diziam que os homens iriam competir como mulheres só para poderem ganhar, mas isso não aconteceu de todo. É apenas transfobia.”

E não se coibiu de responder directamente a J.K. Rowling, que a acusou de ser batoteira através de uma publicação no X (antigo Twitter). “A J.K. Rowling só está preocupada com o facto de eu usar a casa de banho feminina, mas não sabe nada sobre mim”, declara.

A escritora britânica não demorou até voltar à carga, usando a citação de Valentina Petrillo: “Sim, não. Essa não é a única coisa que me preocupa a mim, ou a qualquer outro milhão de mulheres preocupadas com a destruição das categorias, limites e direitos femininos.”

Dias antes, no início dos Jogos Paralímpicos, J.K. Rowling usou o exemplo de Petrillo para falar sobre a participação de atletas transgénero em competições desportivas. “A comunidade de batoteiros nunca teve este tipo de visibilidade! Batoteiros assumidos e orgulhosos, como Petrillo, provam que a era da vergonha dos batoteiros acabou. Que modelo a seguir! Eu digo que devemos devolver as medalhas a Lance Armstrong e seguir em frente”, escreveu.

Valentina Petrillo não é a primeira transgénero a participar nos Jogos Paralímpicos — a lançadora de disco Ingrid van Kranen estreou-se em 2016 no Rio de Janeiro (morreu, entretanto, em 2021). Contudo, a situação da neerlandesa é diferente, visto que a sua transição não era conhecida oficialmente.

O tema do género no desporto tem sido uma constante nos últimos anos. Nos Jogos Olímpicos de Paris, a pugilista argelina Imane Khelif foi acusada de não ser mulher, incluindo por J.K. Rowling, que tem escrito frequentemente sobre o tema nos últimos quatro anos, de tal maneira que ofuscou a carreira da escritora.

Tudo começou em Junho de 2020, quando a autora da saga Harry Potter publicou um ensaio em que declarou estar preocupada com “o novo activismo ‘trans’”. A posição foi justificada com a história pessoal de violência doméstica no primeiro casamento e de abuso sexual para justificar a sua aversão a ter pessoas nascidas biologicamente do género masculino dentro de casas de banho ou balneários para mulheres.

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