A mãe de Pat Tillman não queria, mas Harry aceita o prémio com o nome do soldado

O duque de Sussex aproveitou o discurso de aceitação para homenagear Mary Tillman, que disse publicamente que o príncipe não era merecedor do prémio que carrega o nome do seu filho.

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No discurso de aceitação, Harry não esqueceu a polémica, mas preferiu usar as palavras para amenizar a contenda TOBY MELVILLE/REUTERS
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O príncipe Harry recebeu o Prémio Pat Tillman, na noite desta quinta-feira, durante a gala da cadeia de televisão desportiva ESPN, que anualmente distingue indivíduos do mundo do desporto que deram contributos significativos à comunidade. No caso de Harry, a escolha da ESPN reflecte o trabalho do príncipe, o filho mais novo do rei Carlos III, na criação e organização do evento multidesportivo internacional para militares feridos em serviço e veteranos intitulado Jogos Invictus.

Só que a escolha acabaria por ser vetada pela própria mãe de Pat Tillman, que se afirmou “chocada com o facto de terem escolhido um indivíduo tão controverso e que divide opiniões para receber o prémio”, acrescentando que “há destinatários que são muito mais adequados; indivíduos que não têm o dinheiro, recursos, contactos ou privilégios que o príncipe Harry tem”. Entretanto dezenas de milhares, incluindo veteranos, que não reconhecem no duque de Sussex as qualidades que distinguiram Tillman, juntaram-se ao protesto: mais de 76.500 pessoas assinaram uma petição para que a ESPN revertesse a sua decisão. E o antigo chefe da Marinha Real Britânica Alan West chegou a apelar ao príncipe para que recusasse o galardão.

No discurso de aceitação, Harry não esqueceu a polémica, mas preferiu usar as palavras para amenizar a contenda, falando sobre a “ligação eterna” que existe entre mãe e filho, referindo-se à princesa Diana, mas também a Mary Tillman, como que a justificar a reacção contra a sua indicação para o prémio, considerando que a mulher estava a preservar a bravura e a memória do seu filho. “A sua defesa do legado do Pat é profundamente pessoal e eu respeito-a.”

Os prémios Excelência no Desempenho Desportivo Anual (ESPY, na sigla original) são geridos pela ESPN. No ano passado, o prémio Pat Tillman foi atribuído a membros da equipa técnica dos Buffalo Bills, que reanimaram um jogador em campo. Este ano, destacou a ESPN, Harry foi escolhido pelo seu “trabalho incansável em ter um impacto positive na comunidade de veteranos através do poder do desporto” com os seus Jogos Invictus.

Na gala, apresentada por Serena William, foram ainda homenageados Patrick Mahomes, dos Kansas City Chiefs, como melhor jogador da NFL e melhor atleta de desporto masculino; Luka Doncic, Dallas Mavericks, o melhor da NBA; A'ja Wilson, Las Vegas Aces, melhor atleta no desporto feminino; ou a Comunidade de Surf de Maui, que se uniu para fornecer recursos à sua comunidade após os incêndios do Havai, com o Prémio Muhammad Ali para o Desporto Humanitário.

Quem foi Pat Tillman?

Patrick Tillman (n. 1976, San Jose, Califórnia, EUA) destacou-se desde cedo no desporto, tendo conduzido a equipa da sua escola secundária a um Campeonato de Futebol da Divisão I da Costa Central — depois de lhe terem dito que era demasiado pequeno para jogar futebol, sublinha-se no site da Fundação criada em seu nome.

Já depois da faculdade, os Arizona Cardinals escolheram Pat na 7.ª ronda do Draft da NFL de 1998. Os adeptos do clube, assim como vários comentadores, torceram o nariz. Pat respondeu-lhes quebrando o recorde de placagens em 2000, com 224. Até que, no ano seguinte, a 11 de Setembro, o mundo assistiu ao maior ataque que a América sofreu. “Em alturas como esta, paramos e pensamos em como é bom o que temos, no tipo de sistema em que vivemos e nas liberdades que nos são permitidas. Muitos dos meus familiares lutaram em guerras e eu não fiz nada”, comentou, na altura, Pat.

No ano seguinte, na Primavera, o atleta casou-se com a sua namorada de liceu e, no regresso da lua-de-mel, anunciou a decisão de pôr a sua carreira desportiva, numa altura em que tinha um contrato milionário, em suspenso e alistar-se no Exército.

Com o irmão, Kevin, Pat foi destacado para o segundo batalhão do 75.º Regimento de Rangers em Fort Lewis, Washington. Os dois serviram no Iraque, em 2003 e 2004. Até que, na noite de 22 de Abril de 2004, a unidade de Pat foi alvo de uma emboscada enquanto viajava pelo terreno acidentado num desfiladeiro do leste do Afeganistão. Uma investigação da Divisão de Investigação Criminal do Exército dos EUA concluiu que Tillman foi morto por fogo amigo quando uma parte do seu pelotão disparou sobre a outra parte no meio da confusão.

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