Harry acusado de ter tentado destruir provas associadas ao seu processo contra o The Sun

Se ficar provado que o duque de Sussex sabia que tinha uma potencial acção contra a NGN antes de 2013, então o caso poderá ser rejeitado com base no facto de ter sido apresentado demasiado tarde.

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Antes do julgamento, a equipa jurídica da NGN pediu uma ordem para obrigar Harry a revelar qualquer informação relevante que possa possuir Toby Melville / REUTERS
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O príncipe Harry recebeu ordens, nesta quinta-feira, para proceder a outras buscas mais alargadas de e-mails, mensagens de texto e outro material que possa ser relevante no seu processo judicial contra o braço jornalístico britânico de Rupert Murdoch, perante a preocupação de que algumas provas tenham sido destruídas.

Harry, de 39 anos, filho mais novo do rei Carlos, e mais de 40 outras pessoas estão a processar o News Group Newspapers (NGN) por actividades ilegais por parte de jornalistas e investigadores privados, para o Sun e o já extinto News of the World, entre meados da década de 1990 e meados da década de 2010.

Um julgamento centrado em algumas dessas queixas, incluindo possivelmente a de Harry, deverá ter início no Supremo Tribunal de Londres em Janeiro do próximo ano.

A NGN, que contesta as queixas, já pagou centenas de milhões de libras às vítimas de escutas telefónicas do News of the World e resolveu mais de 1300 processos, mas sempre rejeitou as alegações de qualquer irregularidade por parte do pessoal do The Sun.

Antes do julgamento, a equipa jurídica da NGN pediu uma ordem para obrigar Harry a revelar qualquer informação relevante que possa possuir, ou que possa estar na posse dos seus antigos advogados ou da casa real, e que seja relevante para o que ele sabia sobre o alegado comportamento ilegal antes do final de 2013.

Se ficar provado que o duque de Sussex sabia que tinha uma potencial acção contra a NGN antes de 2013, então o caso poderá ser rejeitado com base no facto de ter sido apresentado demasiado tarde.

“Tenho sérias preocupações de que a questão da divulgação relacionada com a ‘questão do conhecimento’ não tenha sido tratada de forma adequada pelos solicitadores dos requerentes”, disse o juiz Timothy Fancourt, acrescentando que até à data só tinham apresentado cinco documentos considerados relevantes.

O juiz afirmou ainda que não era adequado que a maior parte da pesquisa e selecção de documentos relevantes tivesse sido feita pelo próprio duque até muito recentemente.

“Aos pontapés e aos gritos”

Anthony Hudson, advogado da NGN, tinha dito anteriormente ao tribunal que Harry tinha estado a criar uma “pista de obstáculos” sobre a questão, e que a divulgação de outros emails, possivelmente relevantes, também tinha sido muito insatisfatória. “Tivemos de os arrancar ao requerente aos pontapés e aos gritos”, afirmou.

Fancourt disse que havia “evidências preocupantes” de que um grande número de documentos e mensagens potencialmente relevantes entre Harry e J.R. Moehringer, o ghostwriter do seu livro de memórias de enorme sucesso Na Sombra, através do aplicativo de mensagens Signal, foram todos destruídos.

“A posição não é transparentemente clara sobre o que aconteceu”, disse o juiz, citando como Moehringer escreveu mais tarde dizendo que eles estavam “enviando mensagens de texto 24 horas por dia”, e era provável que eles tivessem discutido assuntos relacionados ao comportamento ilegal dos jornais.

O advogado de Harry, David Sherborne, ripostou, acusando Hudson de usar uma linguagem para “conseguir uma manchete” e disse que a equipa jurídica da NGN era culpada de estar simplesmente a levar a cabo uma caça aos gambuzinos.

Disse que a sugestão de que Harry estava a reter ou a destruir material era o “cúmulo da hipocrisia”, afirmando que a NGN tinha deliberadamente apagado milhões de e-mails como parte de uma forma de esconder provas incriminatórias.

No entanto, Fancourt decidiu que era necessária uma busca mais alargada ao computador portátil de Harry, às mensagens de texto e de WhatsApp, para analisar as trocas de mensagens desde 2005 até ao início de 2023, e que deveria ser feita uma tentativa de as recuperar. O duque também precisa de apresentar uma declaração de testemunha para explicar a troca de mensagens com Moehringer.

O juiz ordenou ainda que fossem enviadas cartas à casa real e aos seus advogados pedindo que quaisquer cópias em papel ou documentos electrónicos que possuíssem relacionados com as comunicações de Harry fossem devolvidos ao príncipe para que também eles pudessem ser examinados.

O juiz ordenou ainda que Harry efectuasse um pagamento provisório de 60 mil libras (70.855€) à NGN para cobrir os custos da audiência.