O julgamento de Alec Baldwin vai girar em torno de uma arma do Oeste selvagem

A melhor defesa de Baldwin pode ser as dúvidas que os seus advogados consigam semear sobre o funcionamento da pistola.

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Alec Baldwin à chegada ao tribunal, com o advogado Alex Spiro, à esquerda Ramsay de Give/REUTERS
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O funcionamento de um revólver Colt .45 “Peacemaker”, um símbolo do Oeste selvagem americano, tornou-se o foco do julgamento de Alec Baldwin pelo disparo fatal contra Halyna Hutchins, directora de fotografia de Rust, em 2021, num cenário de um filme no Novo México.

Baldwin e sua mulher, Hilaria Baldwin, estavam entre os presentes num tribunal de Santa Fé, Novo México, na terça-feira, quando 12 jurados e quatro suplentes — 11 mulheres e cinco homens — foram escolhidos.

O julgamento terá início nesta quarta-feira, quase três anos depois de Baldwin ter apontado a arma a Hutchins enquanto esta preparava uma filmagem numa igreja que servia de cenário a um filme, a cerca de 32 quilómetros a sudoeste de Santa Fé.

Os procuradores questionaram os futuros jurados sobre o seu conhecimento do caso e um advogado de defesa perguntou-lhes se tinham visto as actuações de Baldwin e se isso poderia influenciar a sua opinião sobre o actor.

“Há um homem aqui sentado que tem agora, finalmente, o seu dia no tribunal: Alec Baldwin. E é óbvio que ele não é apenas uma pessoa nas redes sociais, é uma pessoa real”, disse o advogado de Baldwin, Alex Spiro, aos potenciais jurados.

A morte de Hutchin em 2021 foi a primeira fatalidade de um tiroteio em Hollywood em três décadas e momentaneamente provocou apelos para acabar com o uso generalizado de armas de fogo reais nos sets de filmagem.

O caso é notável, na medida em que existem poucos ou nenhuns precedentes na história dos Estados Unidos para que um actor seja processado criminalmente pela morte de alguém num set de filmagens. Baldwin pode ser condenado a uma pena de prisão de até 18 meses se for considerado culpado.

Em Março, a armeira de Rust, Hannah Gutierrez, a funcionária do estúdio responsável pela segurança das armas de fogo, foi considerada culpada de homicídio involuntário por um júri de Santa Fé, no Novo México, por ter carregado por engano uma bala na arma de Baldwin. Gutierrez recebeu a pena máxima de 18 meses.

Os analistas jurídicos e os especialistas em armas de fogo há muito que esperavam que o caso de Baldwin dependesse da questão de saber se ele deveria ter inspeccionado a arma depois de lhe ter sido dito que estava “fria”, um termo da indústria que significa que estava vazia ou que contém munições inertes e falsas.

Mas, numa entrevista crucial em Dezembro de 2021, Baldwin disse a George Stephanopoulos, da ABC News, que não tinha premido o gatilho.

Baldwin, 66 anos, disse que armou a pistola Single Action Army de reprodução 1873 antes de disparar uma bala real que matou a cineasta em ascensão e feriu o realizador Joel Souza.

A polícia de Santa Fé decidiu pôr as afirmações de Baldwin à prova. Um exame do FBI constatou que a arma funcionava normalmente e que não disparava sem que o gatilho fosse premido. De seguida, os promotores estaduais apresentaram queixa, alegando que Baldwin estava a mentir sobre o gatilho.

No ano passado, a equipa de advogados de Baldwin contrapôs com provas fotográficas que o entalhe de disparo a fundo da arma Pietta, de fabrico italiano, tinha sido limado, facilitando o disparo. Isto permitiu uma falha mecânica ou uma “descarga acidental” sem que fosse necessário premir o gatilho, afirmaram.

Uma batalha difícil

Independentemente de o revólver ter sido modificado, os juristas vêem uma batalha difícil para a acusação provar que Baldwin sabia que podia matar Hutchins, mas que demonstrou desrespeito intencional pelo risco — um nível de negligência criminal exigido para uma condenação por homicídio involuntário.

“A arma é provavelmente a melhor defesa, porque não há forma de dizer definitivamente qual era o estado da arma de fogo”, disse o historiador de armas Ashley Hlebinsky, director executivo do Centro de Investigação de Armas de Fogo da Universidade do Wyoming.

No ano passado, os promotores retiraram as acusações, convencidos de que a arma fora modificada. Os procuradores recorreram a um grande júri que aceitou as acusações em Janeiro, depois de um perito independente em armas de fogo ter confirmado as conclusões do exame do FBI.

Durante os testes, o FBI destruiu a arma. Os advogados do actor afirmaram que isso os deixava sem forma de provar que a arma tinha sido modificada. De acordo com Hlebinsky, a melhor defesa de Baldwin pode ser as dúvidas que os seus advogados consigam semear sobre o funcionamento da pistola.

“Não creio que alguém possa dizer a 100% o que aconteceu”, disse o historiador de armas de fogo, que já foi chamado como perito em processos judiciais sobre revólveres do tipo Colt. 45.